03/09/2014

Educação e Negócios

Nos EUA, formados em faculdades particulares têm a mesma chance de conseguir entrevista de emprego que candidatos sem diploma

Mercado da educação americano gasta em propaganda, por ano, 1 bilhão de dólares mais do que é gasto em ensino; no Brasil, lucro da Kroton-Anhanguera vai superar 1 bilhão de reais em 2014 e ganho líquido da Anima cresce 6 vezes

 
Americanos que cursam faculdades particulares com fins lucrativos não têm vantagem nenhuma na hora de buscar emprego quando comparados a candidatos sem diploma universitário. Isso com o agravante de que se enterram em dívidas para pagar as mensalidades. São indicações de estudo comentado pelo jornalista Alan Pyke, do site Think Progress, em agosto.
 
Clique aqui para baixar a íntegra do working paper "Do Employers Prefer Workers Who Attend For-Profit Colleges? Evidence from a Field Experiment", de Rajeev Darolia, Cory Koedel, Paco Martorell, Katie Wilson e Francisco Perez-Arce, do National Center for Analysis of Longitudinal Data in Education Research [48 páginas no formato .PDF]
 
Os autores enviaram 9 mil currículos falsos para testar sua hipótese. Alguns currículos declaravam que o pseudocandidato tinha obtido diploma em faculdade particular com fins lucrativos; em outros, a escolaridade não passava do ensino médio; um lote de currículos também indicava curso superior em community colleges [clique aqui para entender o que são community colleges].
 
A conclusão foi que nos três grupos a taxa de retorno (convites para entrevista) foi praticamente a mesma – e baixa, de aproximadamente 5%. Alguém que gastou ou se endividou em cerca de US$ 35 mil – custo médio de uma faculdade com fins lucrativos – para fazer um curso superior de dois anos e obter um associate degree tem a mesma chance de fazer uma entrevista de emprego que um candidato que não gastou nada. (Um curso em community college, também dois anos, custa em média US$ 8,3 mil. Seis em dez alunos de faculdade com fins de lucro assumem financiamento estudantil, ante 13% no caso de quem cursa community college).
 
As instituições privadas gastam aproximadamente US$ 1 bilhão a mais, por ano, em campanhas de atração de alunos do que em ensinar os estudantes que atraem. E pagam a seus CEOs 26 vezes mais do que a remuneração média de dirigentes de instituições tradicionais de ensino superior nos Estados Unidos. O pagamento é determinado pelos lucros, e não pelo desempenho dos estudantes ou pela taxa de sucesso dos formados na instituição. Cerca de 90% das receitas são provenientes de financiamento estudantil bancado pelo poder público.
 
Privadas no Brasil*
Na primeira divulgação de resultados após a fusão com Anhanguera ter sido aprovada, a Kroton apresentou sua previsão de lucro líquido: R$ 1,13 bilhão. A receita líquida estimada neste ano é de R$ 4,7 bilhões. A companhia combinada estima crescer de 10% a 12% em número de alunos. "É difícil continuar crescendo nos mesmos patamares, entre 25% e 30%. Hoje, temos uma base muito maior e o ensino a distância cresce mais", explicou Rodrigo Galindo, presidente da Kroton.
 
No segundo trimestre, o grupo educacional Anima teve crescimento do lucro líquido de mais de seis vezes ante o mesmo período do ano passado, atingindo R$ 29,8 milhões. A receita subiu 27%, para R$ 141 milhões. O grupo, com 57,6 mil alunos, fez uma oferta inicial de ações na Bovespa no fim de 2013, quando levantou R$ 504 milhões.
 
Para Gabriel Ribeiro, diretor financeiro da empresa, o pessimismo que se abate sobre vários setores da economia passa longe da Anima e do setor de educação. "Nos nossos resultados do primeiro semestre, nenhum dos nossos indicadores operacionais demonstram algum efeito da desaceleração", disse ele. A Anima não foi afetada em função da disseminação do financiamento estudantil (Fies), subsidiado pelo governo federal. Quase a metade dos alunos matriculados nas escolas do grupo estuda com ajuda do Fies.
 
Pequenas reclamam
Estudo patrocinado pela Associação Brasileira das Mantenedoras de Ensino Superior (Abmes) em parceria com os institutos Expertise e PHD mostra que as pequenas e médias faculdades agonizam quando comparadas com grandes grupos do setor e universidades públicas. Entre 2008 e 2012, enquanto o total geral de instituições de ensino superior cresceu 5%, as unidades com menos de 3 mil alunos – que somam 1.419 em um universo de 2.416 instituições – encolheram 8%. O diagnóstico encomendado pela Abmes pede mudanças no modelo de regulação e supervisão da qualidade de ensino e estrutura oferecida, que hoje não diferencia as instituições por porte ou categoria (universidade, centro universitário ou faculdade).
 
Para o diretor-executivo da Abmes, Sólon Caldas, o governo privilegia o ensino público em detrimento do privado. "O governo ainda é muito enviesado ideologicamente para as públicas", critica. Segundo ele, um contrassenso, já que sem a parceria com instituições particulares, em programas sociais de acesso ao ensino superior, como o Prouni e o Fies, a expansão do setor não se viabilizaria. "O ensino privado tomou uma dimensão que o governo não acompanhou e, agora, não tem estrutura para dar vazão às demandas."
 
Pública
O ministro da Educação, Henrique Paim, liberou R$ 3 milhões para o início do projeto executivo do campus da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) em Itaquera, zona leste de São Paulo – em um terreno de 170 mil metros quadrados. A unidade, que receberá do MEC R$ 75 milhões em 2015, vai se chamar Instituto das Cidades e terá cursos com ênfase no planejamento urbano, como engenharia da mobilidade. O início das aulas deve ocorrer já no primeiro semestre de 2016, com 5 mil alunos.
 
* informações do jornal Valor Econômico publicadas durante o mês de agosto