16/02/2012

Tecnologia na educação

Matrículas de ensino a distância devem triplicar em oito anos, aponta consultoria

Reportagem do Valor Econômico destaca que oferta concentra-se nas instituições privadas

O número de alunos matriculados em cursos de ensino superior a distância está em expansão acelerada no Brasil e deve chegar a 3,1 milhões nos próximos oito anos — o triplo do registrado atualmente— de acordo com reportagem publicada pelo jornal Valor Econômico em 10 de fevereiro. Citando dados das consultorias Hoper e CM, o texto mostra que esse crescimento ocorrerá principalmente pelo contingente de 20 milhões de pessoas que concluíram o ensino médio e estão no grupo etário dos 25 aos 39 anos. Apesar disso, a ideia de que esses cursos normalmente são de qualidade inferior, em comparação com aqueles com aulas presenciais, ainda é uma barreira grande para o setor.
 
Os cursos de graduação na modalidade EAD existem no País há dez anos, mas a oferta ainda está concentrada, na grande maioria dos casos, nas universidades privadas menos prestigiadas, com uma pequena presença das públicas e das particulares consideradas de "primeira linha", informa o jornal. O Valor destaca que o valor médio das mensalidades de graduação em EAD é de R$ 200, enquanto os cursos presenciais cobram, em média, R$ 500.
 
Investimento pesado
 
Entretanto, a reportagem mostra que, diferentemente do senso comum, os custos do ensino a distância não podem ser considerados baixos, já que a modalidade requer investimentos altos em tecnologia. O jornal paulista cita o exemplo da Anhanguera Educacional, que investiu em 2011 um total de R$ 40 milhões em uma nova plataforma tecnológica, com 50 canais de satélites, que permite a gravação de 36 mil horas de aulas por mês. "Além da tecnologia, o mercado de EAD exige investimentos na produção de conteúdo específico, treinamento de professores para o universo digital, polos para as aulas presenciais e provas, e laboratórios, entre outros equipamentos", escreve a repórter Beth Koike.
 
Cursos na modalidade EAD de Administração, Matemática e Pedagogia obtiveram um desempenho 2,09 pontos acima dos cursos presenciais no Enade Entidades de classe como a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e o Conselho Federal de Serviço Social (CFESS) criticam a qualidade das faculdades com a modalidade EAD e inclusive já levaram as disputas para a esfera jurídica. "No ano passado, a CFESS chegou a veicular uma campanha intitulada 'Educação não é fast-food. Diga não à graduação a distância em Serviço Social'. A Associação Nacional de Tutores de Ensino a Distância foi à Justiça e conseguiu liminar proibindo a divulgação da campanha", destaca o Valor.
 
Bem avaliados
 
Mesmo assim, o jornal informa que as notas dos cursos em EAD no Exame Nacional de Desempenho de Estudantes (Enade), do Ministério da Educação, são "boas"; para isso cita que, na última avaliação, os cursos nessa modalidade de Administração, Matemática e Pedagogia obtiveram um desempenho 2,09 pontos acima dos cursos presenciais. Essa suposta superioridade na formação dos alunos ainda não se reflete, no entanto, no mercado de trabalho, já que as empresas, em geral, ainda não contratam profissionais formados em faculdades com cursos não presenciais para cargos de chefia, apenas para funções de apoio, normalmente na área de tecnologia, segundo a reportagem.
 
Cursos de graduação de EAD com maior procura atualmente no Brasil são os de Pedagogia, Administração, Serviço Social, Letras e Ciências Contábeis O jornal afirma que na Europa e nos Estados Unidos a EAD já é "bastante difundida", inclusive em cursos de graduação. "Segundo a consultoria CM, nos Estados Unidos 29% dos cursos de graduação são totalmente a distância", informa o texto, complementando que nesse país "praticamente todos os cursos são híbridos, ou seja, uma parte das aulas é presencial e a outra é on-line". De acordo com o Valor, que ouviu o diretor pedagógico do grupo americano de ensino Laureate, Oscar Hipólito, nos EUA um curso a distância não é mais barato que um presencial, como ocorre no Brasil.
 
Diferentes perfis
 
Entre os cursos de graduação de EAD com maior procura atualmente no Brasil estão Pedagogia, Administração, Serviço Social, Letras e Ciências Contábeis. Em 2003, havia apenas 50 mil estudantes matriculados nessa modalidade, número que subiu para 370 mil em 2007 e para 930 mil em 2010. Já nos cursos presenciais, o País contava com 3,9 milhões de alunos em 2003, passando para 4,9 milhões em 2007 e 5,3 milhões em 2010. A diferença nos perfis dos estudantes também chama a atenção: enquanto nos cursos presenciais os alunos com renda familiar de até três salários mínimos representam 26% do total, nos cursos a distância esse percentual sobe para 43%. Além disso, a idade média dos estudantes da modalidade presencial é de 26 anos, enquanto os de EAD têm em média 34 anos.