27/07/2015

International Higher Education | 80 | Especial 20 anos

Ser ou não ser uma universidade de classe mundial

Jamil Salmi
Especialista em Ensino Superior Internacional. E-mail: jsalmi@tertiaryeducation.org
Com a publicação de 2003 do primeiro ranking internacional pela Shanghai Jiao Tong University e o subsequente aparecimento dos quadros de classificação globais competitivos, (Times Higher Education, Higher Education Evaluation and Accreditation Council of Taiwan, QS, e outros), formas mais sistemáticas de identificação de universidades de classe mundial têm aparecido. Como resultado, a principal preocupação dos governos tem sido encontrar o método mais eficaz para induzir progresso substancial nas principais universidades de ponta de seus países. Enquanto poucas nações como o Cazaquistão e a Arábia Saudita, por exemplo, fizeram a opção de estabelecer universidades a partir do zero, a maioria dos países tem adotado a estratégia de combinar fusões e a modernização das instituições existentes.
 
A fim de acelerar o processo de transformação, vários governos lançaram as tão chamadas “inciativas de excelência,“ que consistem de grandes injeções de fundos adicionais para estimular seus setores universitários. As iniciativas de excelência recentes foram lançadas principalmente no Leste da Ásia e Europa Estes programas geralmente têm um número limitado de universidades beneficiárias e enfocam mais o aprimoramento da pesquisa. 
 
Muitas dessas iniciativas marcam uma mudança filosófica significativa nas politicas de financiamento dos países participantes. Na França, Alemanha e Espanha, por exemplo, onde todas as universidades públicas têm sido tradicionalmente consideradas como igualmente boas em se tratando de desempenho, as iniciativas de excelência representam um distanciamento do principio de direito de orçamento uniforme direcionado a um elemento substancial de financiamento competitivo. 
 
A avaliação da eficácia das iniciativas de excelência não é uma tarefa fácil por pelo menos duas razões. Primeiro, a modernização de uma universidade demora muitos anos. Pelo fato de muitas iniciativas de excelência ser relativamente novas, os esforços de avaliação do sucesso seriam prematuros na maioria dos casos. O segundo desafio está relacionado à atribuição. Mesmo se uma correlação pudesse ser identificada com base em ampla amostra de instituições, estabelecer elementos de causalidades requereria uma análise em profundidade de estudos de casos. 
 
Em quanto isso, é possível identificar um número de riscos e desafios associados com a corrida existente para estabelecer universidades de classe mundial. A ênfase excessiva em pesquisa envia o sinal errado de que a qualidade do ensino e do aprendizado não é importante. Os rankings internacionais claramente favorecem universidades de pesquisa intensiva à custa da exclusão de excelentes faculdades. Nos Estados Unidos, por exemplo, as faculdades de artes liberais como a Wellesley, Carleton, Williams, e Pomona, e as faculdades de engenharia como a Olin College são todas reconhecidas como faculdades excepcionais.
 
O enfoque em universidades de classe mundial irá provavelmente promover o elitismo. Na busca pela excelência acadêmica, as universidades de renome são muito seletivas, ocorrendo o risco de manter afastados os estudantes mais talentosos, oriundos de famílias de capital cultural baixo. Com um índice de sucesso de 1:100, os institutos indianos de tecnologia são as instituições mais seletivas no mundo. Semelhantemente, as universidades da Ivy League, são as universidades mais seletivas nos Estados Unidos.
 
A busca por excelência acadêmica corre o risco de ser frustrada por restrições à liberdade acadêmica nos países não democráticos. Embora talvez seja uma restrição menor nas ciências exatas, poderá certamente impedir a habilidade dos cientistas sociais para conduzir estudos científicos em questões sensíveis politicamente na China, Rússia e Arábia Saudita, por exemplo.
 
No final, ao invés de focar exclusivamente na construção de universidades de classe mundial, os governos deveriam se preocupar mais em desenvolver sistemas bem equilibrados do ensino superior para englobar toda a gama de instituições necessárias para enfocar a variedade de necessidades de aprendizado de uma diversa população estudantil. 
 
Este texto foi traduzido e revisado sob a coordenação de
Sergio Azevedo Pereira
Diretor da San Ives International Language Center
Rua Roberto Simonsen, 421
Parque Taquaral
13076-416 Campinas SP
(19) 3365 -1035

Ordem de Fornecimento 116799-14/1 emitida em 15 de outubro de 2014 pela Funcamp,
após indicação do Gabinete da Reitoria