27/05/2015

International Higher Education | 79

Pesquisa do ensino superior internacional e análise comparativa

Anna Kosmützky e Georg Krücken
Anna Kosmützky é pesquisadora e Georg Krücken é diretor do International Center for Higher Education Research, University of Kassel / Centro Internacional para Pesquisa do Ensino Superior, Universidade de Kassel, Alemanha. E-mail: kosmuetzky@incher.uni-kassel.de. E-mail: kruecken@incher-kassel.de
A pesquisa comparativa do ensino superior internacional tem sido um campo popular e valioso. Em anos recentes, tendências internacionais e globais e os desenvolvimentos no ensino superior têm estimulado a pesquisa em escala mundial. Simultaneamente, a pesquisa do ensino superior internacional aumentou em volume e até mais em popularidade e a colaboração internacional na área em geral se intensificou e proliferou rapidamente nas últimas duas décadas. Tais tendências também têm sido encorajadas por instituições politicas, particularmente na Europa, através de financiamentos específicos para pesquisa. O Sétimo Programa-Quadro da União Europeia, por exemplo, requer pelo menos três estados membros diferentes para parcerias transnacionais; e agencias nacionais de financiamento por toda Europa abriram seus programas nacionais e oferecem financiamento transfronteiras para facilitar a mobilidade do pesquisador, e projetos de pesquisas internacionais. 
 
Considerando tais desenvolvimentos, também poderia se esperar uma quantidade crescente de pesquisa comparativa do ensino superior internacional, parcialmente devido a uma intersecção da pesquisa colaborativa e internacional e pesquisa do ensino superior internacional.
 
O que mostram os dados bibliométricos
Em um estudo recente exploramos os padrões da pesquisa comparativa do ensino superior internacional apresentada em artigos dos oito dos principais periódicos do ensino superior internacional, tanto da Europa como dos Estados Unidos. Entre outras perguntas, inquirimos: Que participação à pesquisa comparativa internacional tem na pesquisa do ensino superior em geral e como se desenvolve quantitativamente ao longo dos anos? De onde vêm os autores? Quantos países são comparados? Para responder tais perguntas, uma definição especifica foi adotada da pesquisa comparativa internacional no ensino superior: a comparação das questões e desenvolvimentos do ensino superior dentro de diferentes sistemas nacionais de ensino superior. Desta forma, artigos de periódicos foram definidos como internacionalmente comparativos, se estiverem relacionados à pesquisa que compara principalmente dados de dois países. Este critério serviu para distinguir a pesquisa comparativa internacional da pesquisa do ensino superior que enfoca tópicos globais ou internacionais, sem ser genuína e internacionalmente comparativa. Metodologicamente, a abordagem bibliométrica foi analisar dados do periódico internacional com uma análise de conteúdo quantitativo dos resumos dos artigos com base na codificação de países. O conjunto de dados gerais cobre 4,095 publicações do Web of Science para o período de 1992 – 2012.
 
Um campo pequeno, porém estável
Surpreendentemente, os padrões que encontramos não refletem a tendência geral de uma internacionalidade crescente na pesquisa do ensino superior. Em contraste, os resultados de nossa análise da publicação dos dados do periódico internacional revelam um estado relativamente estável da pesquisa comparativa do ensino superior internacional nos últimos 20 anos (1992–2012): ao longo dos anos, uma participação de 11 por cento dos artigos apresenta resultados da pesquisa comparativa internacional com leve aumento em anos recentes: de 2009 em diante, o percentual médio é de 15 por cento. Mantém-se aberta a questão se isso indica uma tendência estável de crescimento, estabilização em um nível mais elevado, ou um aumento em curto prazo, que pode ser revertido. Entretanto nossa análise indica em geral, que a pesquisa comparativa internacional pode ser descrita como uma extensão pequena, porém estável da pesquisa do ensino superior internacional.  
 
A colaboração internacional e pequenos grupos comparativos
Encontramos duas vezes mais publicações de colaboração internacional (analisadas como coautorias) em pesquisas comparativas internacionais comparadas a pesquisas não comparativas. Nossos resultados demonstram 46 por cento de publicações internacionais de coautoria (coautores de pelo menos dois países diferentes) para nosso conjunto de dados em artigos de periódicos comparativos internacionais, comparados com 24 por cento em artigos de periódicos não comparativos. Além disso, nossa análise demonstra que comparações pequenas são mais populares na pesquisa comparativa do ensino superior internacional; estas têm de longe a maior participação entre todos os artigos comparados: 85 por cento dos artigos comparam dois ou três países. Artigos que comparam quarto, cinco ou até seis ou mais países existe, mas são raros. Apesar disso, de 2009 em diante, nota-se a tendência de se incluir mais de três países.
 
Resultados
Os resultados da análise bibliométrica sempre devem ser interpretados com cuidado, e definitivamente não contam toda a história sobre a pesquisa comparativa internacional no ensino superior, mas fornecem insights iniciais interessantes. Os conhecimentos obtidos do nosso estudo indicam características especificas da pesquisa comparativa do ensino superior internacional. Embora a pesquisa do ensino superior que enfoca tópicos globais ou internacionais deve aumentar em periódicos internacionais no campo, a pesquisa comparativa do ensino superior internacional genuína tem apenas uma pequena participação na literatura de periódicos internacionais. Assim, ela pode ser descrita como uma extensão pequena, porém estável da pesquisa do ensino superior internacional, que basicamente está engajada com comparações de pequenos grupos de países e é em grande parte internacionalmente comparativa. De que maneira tais características podem ser explicadas? Basicamente vemos duas lógicas:
 
A pesquisa do Ensino Superior está localizada em grande escala em nível nacional e local. Dada sua natureza interdisciplinar e aplicação, contribui com conhecimento na intersecção das politicas nacionais do ensino superior, governança institucionais, e profissionais. Com base nesta característica, considerações sobre os habitantes locais (indivíduos com profunda experiência em seus próprios países) e cosmopolitas (indivíduos com ampla experiência e enfoque em diferentes países), conforme introduzido por Alvin W. Gouldner no final da década de 1950 são reveladoras. A aplicação de suas considerações à pesquisa do ensino superior esclarece dois tipos latentes das orientações da pesquisa de académicos e institutos, dentro dos ambientes da pesquisa nacional. Enquanto os cosmopolitas imediatamente identificam e implementam as tendências internacionais do ensino superior em suas agendas de pesquisa, iniciando a pesquisa comparativa internacional, os habitantes locais geralmente devotam suas pesquisas ao contexto nacional e apesar de identificarem as tendências internacionais no ensino superior, estão mais propensos a traduzi-las nos planos de pesquisa nacional e projetos. 
 
A pesquisa comparativa internacional é genuinamente mais complexa em sua natureza que a pesquisa em nível nacional — com ângulos nacionais multifacetados, os quais constituem objetos de pesquisa especificamente. Além disso, conforme demonstramos, os artigos comparativos internacionais são geralmente resultados de equipes de pesquisa de colaboração internacional. Devido às dinâmicas mais complexas da equipe de pesquisa dentro de equipes localizadas em outros países, a pesquisa comparativa internacional muitas vezes implica em uma coordenação demorada e comunicação dispendiosa. Desta forma, pode ser difícil para as equipes de pesquisa internacional publicar artigos de periódicos dentro de um período de três anos dos projetos de pesquisa. Pode até ser bem mais difícil manter uma network de pesquisa além da duração do projeto e continuar o trabalho internacional em conjunto. Assim, parece provável que equipes de pesquisa internacional possam favorecer antologias, processos de conferência, e monografias como formatos de publicações.
 
Embora essas duas lógicas indiquem características inerentes da pesquisa comparativa do ensino superior internacional que parece limitar seu crescimento, também descobrimos tanto um crescimento recente em comparações internacionais como uma tendência para a comparação de grupos maiores de países desde 2009. É necessária uma pesquisa mais aprofundada, que explore se este crescimento e tendência para grupos comparativos maiores são afetados por instituições politicas através esquemas específicos de financiamento de pesquisa. Além disso, estudos sobre comunicação, praticas de publicação e dinâmicas de equipes de pesquisas das equipes de pesquisa internacional em contextos de pesquisa interdisciplinar seria desejável. 
 
Implicações na política
Os dois fundamentos se referem às estruturas institucionais e de financiamento da pesquisa do ensino superior. Assim, tiramos de nossa análise as seguintes implicações relevantes na política: a fim de fortalecer, promover e eventualmente aumentar os projetos de pesquisa comparativa internacional, períodos de projetos mais longos, ou projetos com opções modulares flexíveis para extensões aparecem como um recurso de primeira escolha. Além disso, convém considerar estabelecer uma criação mais sistemática de capacidades, com relação aos planos de pesquisa e a monitorização dos projetos internacionais de pesquisa de colaboração—ex., através do intercambio com outros campos de pesquisa interdisciplinar e disciplinar, bem como através de treinamento específico para pesquisadores em início de carreira na pesquisa do ensino superior. Além disso, o intercâmbio internacional de pesquisadores do ensino superior deve ser estimulado (e promovido) desde o inicio das carreiras de pesquisa. Isto reciprocamente facilitaria a internacionalização da pesquisa do ensino superior e eventualmente poderá facilitar os projetos comparativos internacionais.
 
Este texto foi traduzido e revisado sob a coordenação de
Sergio Azevedo Pereira
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