27/05/2015

International Higher Education | 79

O Programa de Bolsas “Bolashak” do Cazaquistão

Aida Sagintayeva e Zakir Jumakulov
Aida é diretora executiva, Escola de Pós-Graduação em Educação da Universidade de Nazarbayev, Astana, Cazaquistão. E-mail: asagintayeva@nu.edu.kz. Zakir é pesquisador junior, Escola de Pós-Graduação em Educação da Universidade de Nazarbayev, Astana, Cazaquistão E-mail: zakir.jumakulov@nu.edu.kz
As economias emergentes têm percebido cada vez mais a ligação entre o investimento no capital humano e a prosperidade econômica. São nações que buscam em outros países as melhores práticas para reformar o próprio sistema do ensino superior. Entre as abordagens está o envio de estudantes em programas de estudos no exterior, financiados por bolsas do governo. Esta prática, que muitas vezes implica em investimentos financeiros consideráveis por parte da nação de origem deverá acelerar o desenvolvimento do capital humano. 
 
O programa de Bolsas Bolashak do Cazaquistão é um exemplo de programa de longo prazo de bolsa de estudo internacional, patrocinado pelo governo. Em 1993, o governo do Cazaquistão lançou o programa Bolashak (“Cazaques do Futuro”). Bolsas de estudo para enviar estudantes às faculdades e universidades no exterior. Cerca de 100 estudantes receberam bolsas anualmente até 2005, quando o número aumentou ao longo do tempo para uma média de 800 por ano. 
 
Em uma tentativa para maximizar a efetividade do programa, os administradores têm feito várias mudanças no planejamento ao longo dos últimos 20 anos. Com base em nossa análise das características e resultados do programa, identificamos cinco lições para que o programa de bolsas patrocinado pelo governo tenha atingido seu objetivo na promoção do desenvolvimento do capital humano.
 
Áreas específicas de prioridade estratégica
O investimento inteligente de fundos governamentais limitados para um retorno máximo tem sempre sido um desafio para o planejamento dos programas de bolsas de estudos. Uma abordagem é fazer coincidir as prioridades educacionais do país de envio com os programas acadêmicos disponíveis no exterior. Um estudo recente dos programas de bolsas internacionais apresenta 45 por cento de 183 programas de bolsas patrocinado pelo governo em 196 países com áreas especificas de prioridade estratégica.
 
Antes de 1997, quando o programa Bolashak não apresentava quaisquer diretrizes quanto as áreas de estudo, os beneficiários concentravam-se nas áreas de humanas e ciências sociais e os números de bolsistas de ciências e engenharia permaneciam extremamente baixo.
 
O governo do Cazaquistão respondeu à demanda, criando uma lista de áreas prioritárias de estudo em 1997, dando a devida importância aos candidatos   nas áreas identificadas como altamente relevantes para desenvolvimento estratégico do país. Para fomentar mais os candidatos às áreas de ciências e engenharia, o governo também diminuiu os requisitos de língua estrangeira e ofereceu aos requerentes cursos de língua inglesa. Estas alterações foram feitas para produzir especialistas qualificados em sintonia com as prioridades gerais do governo de diversificação e desenvolvimento industrial da economia.
 
Identificação das instituições adequadas
Uma segunda lição está relacionada aos tipos de instituições que os estudantes frequentam e as formas para reconhecer uma proposta de educação assimétrica entre as instituições de origem e as do exterior. Estudar no exterior permite aos estudantes matricularem-se em programas que não estão disponíveis ou que são de qualidade mais inferior que nas instituições de origem. Os organismos de financiamento buscam manter estudantes matriculados em instituições de renome no exterior, a fim de fornecer um acesso maior ao ensino superior de alta qualidade. De acordo com esta lógica, o programa Bolashak, assim como 85 por cento dos programas de estudos oferecidos no exterior e patrocinados pela iniciativa governamental limitam as instituições de destino dos estudantes.
 
O planejamento inicial do programa Bolashak não restringiu as escolhas das instituições por parte dos candidatos, e, portanto não conseguiu impedir que estudassem em instituições duvidosas. A necessidade do governo do Cazaquistão de cuidadosamente avaliar a qualidade das instituições no exterior era exacerbada durante as crises financeiras globais recentes, quando muitas instituições em todo mundo diminuíram seus requisitos de acesso a fim de recrutar mais estudantes pagantes.
 
Para melhor atender os objetivos do programa, a administração desenvolveu uma lista recomendada de instituições do ensino superior, compilada do Times Higher Education Rankings e do QS World University Rankings, para garantir que os candidatos às bolsas de estudo estudassem em universidades aprovadas pelo programa. Com tais mudanças, o número de universidades recomendadas para os estudantes do Bolashak diminuiu de 630 em 2007 para o número atual de 200.
 
Garantia de transparência
Para ser vista como uma instituição de prestígio e disponível para os principais estudantes, um programa como o Bolashak deve garantir que as bolsas sejam concedidas a candidatos de acordo seus princípios que são baseados em mérito.
 
Uma terceira lição aprendida pelo governo do Cazaquistão foi a necessidade de transparência. Entre 1993 e 1997, não havia regras concretas que regessem a concessão de bolsas do programa Bolashak. A falta de informação e publicidade, aliada ao número limitado de bolsas concedidas gerou uma imagem negativa do programa e desencadeou vasta crítica, com relação à imparcialidade do processo de seleção. O público em geral acreditava que o programa era feito especificamente para os filhos das elites politicas. Mas foi só em 1997, quando os requisitos para concessão de bolsas foram anunciados, que o programa Bolashak conquistou aceitação por parte do público. Consultas recentes com as partes interessadas demonstram que a transparência já existe.
 
Reestruturação de apoio para o nível de estudo
Devido aos limitados fundos disponíveis, o nível de estudo a receber auxilio é uma quarta lição. Em 2011, os níveis de formação elegíveis passaram por uma reestruturação: bolsas para estudantes de graduação foram encerradas, porém bolsas de pesquisa e para docentes foram adicionadas. A última iniciativa já produziu resultados relacionados à internacionalização do currículo, publicação acadêmica e projetos conjuntos de pesquisa.
 
Vários fatores levaram a esta mudança entre eles a idade dos candidatos (entre 17 e 19 anos) percebida pelos decisores políticos como indivíduos psicologicamente imaturos para estudarem no exterior. Além disso, os empregadores forneceram feedback conflitante com relação aos níveis de estudo preferidos: alguns acreditavam que a longa permanência dos universitários nos países anfitriões beneficiaria suas habilidades linguísticas, enquanto outros preferiram capacitação mais avançada de pós-graduados. O custo total para se manter um estudante universitário excedia significativamente aquele de um pós-graduado. A abertura da Universidade de Nazarbayev no Cazaquistão, uma universidade de língua inglesa com docentes internacionais e que oferece ensino de graduação de alta qualidade e integralmente financiado, também contribuiu para a eliminação de financiamento do ensino de graduação. 
 
Exigência de retorno dos bolsistas ao país de origem
Uma quinta lição está relacionada ao incentivo para que os bolsistas retornem ao país de origem depois de concluírem os estudos. A perda de bolsistas patrocinados pelo governo para seus países anfitriões tem sempre sido uma fonte de ansiedade, pois a lógica do governo para as bolsas de estudo são as futuras contribuições dos candidatos para o país de origem.
 
O programa Bolashak enfoca esta preocupação, concedendo apenas bolsas a indivíduos que possam fornecer garantia de bem imóvel equivalente em valor à bolsa de estudos, ou que possam fornecer até quarto fiadores que assumirão a obrigação financeira para o investimento do governo, no caso do candidato não retornar ao Cazaquistão. Para cumprir suas obrigações, quando na conclusão de seus estudos, os candidatos deverão trabalhar no Cazaquistão no campo de suas especializações durante um período de cinco anos. Após esse período, o contrato é considerado como cumprido integralmente, e a administração do Bolashak libera as garantias.
 
Por mais drástico que pareça ser esta abordagem tem tido sucesso para garantir o retorno dos bolsistas. Apenas 1 por cento dos candidatos não retornou ao Cazaquistão desde o início do programa de Bolsas Bolashak.
 
Conclusão
O objetivo do programa de bolsas Bolashak do governo do Cazaquistão é investir no desenvolvimento do capital humano e assegurar que este investimento estabeleça um impacto de longo prazo no desenvolvimento do país. O programa passou por mudanças significativas nas últimas duas décadas e o centro dessas transformações está relacionado ao alinhamento da escolha individual, das necessidades da indústria e do desenvolvimento estratégico do país.
 
Agradecimentos
Este artigo é parte de um projeto de pesquisa intitulado, “A internacionalização como um fator estratégico no desenvolvimento da educação e ciência na República do Cazaquistão no ambiente da globalização socioeconômica.” A pesquisa foi mantida em parte pela Universidade de Nazarbayev com fundos do Ministério da Educação e Ciências da República do Cazaquistão. As opiniões expressas são as dos autores e não representam as posições das respectivas instituições de financiamento.
 
Este texto foi traduzido e revisado sob a coordenação de
Sergio Azevedo Pereira
Diretor da San Ives International Language Center
Rua Roberto Simonsen, 421
Parque Taquaral
13076-416 Campinas SP
(19) 3365 -1035

Ordem de Fornecimento 116799-14/1 emitida em 15 de outubro de 2014 pela Funcamp,
após indicação do Gabinete da Reitoria