13/07/2015

International Higher Education | 80 | Especial 20 anos

O perigo de esquecer os benefícios sociais do ensino superior

Christine Musselin
Vice-presidente para pesquisa no SciencesPo, Paris, França. E-mail: Christine.musselin@sciencespo.fr
Uma das principais hipóteses por trás do discurso sobre a crescente necessidade por mais ensino superior — um discurso que provou ser bastante eficaz quando olhamos o aumento exponencial no número de estudantes durante o século 20 — foi que o ensino superior terá um forte beneficio social. De fato, alguns estudos demonstram que pessoas com uma formação acadêmica tem acesso a melhores salários, melhores condições de vida e saúde e uma mente mais aberta.
 
Um principal desafio para o ensino superior nas próximas décadas será aquele de manter tais benefícios e convencer a sociedade de que a educação e treinamento fazem mais que produzir capital humano — mas também têm uma função social maior e propósito. O conhecimento não é apenas importante por seu valor econômico, mas também para sociedade.
 
Recentemente, a contribuição social do ensino superior tem sido ignorada ou até rejeitada por decisores políticos e governos dos países desenvolvidos, na medida em que enfocam a necessidade de mais conhecimento e inovação, a fim de promover o progresso econômico. O treinamento de trabalhadores altamente qualificados, capazes de compreender e produzir conhecimento, foi apresentado como um desafio para os países envolvidos na economia do conhecimento global. O que foi aprendido nas universidades foi considerado como menos importante que o trabalho que alguém pode obter no final dos estudos.
 
Meu argumento aqui não é dizer que preparar os estudantes para o mercado de trabalho não seja uma missão importante para as universidades, ou que transformar a pesquisa em algo economicamente relevante não deverá partir do ensino superior. No entanto, tal não significa o abandono de outras missões e atividades, ou desenvolvimento dos programas de treinamento puramente instrumentais, ou o final da pesquisa “blue sky ou sem um objetivo claro,” ou quem sabe o final de disciplinas que talvez não tenham um impacto econômico direto.
 
Este desafio é tanto mais importante pelo fato do obscurantismo, igonorância, e fanatismo estarem infelizmente em expansão. Eventos recentes na Europa, conflitos terriveis em alguns países africanos e do Oriente Médio, e a guerra civil na Ucrania provam que as instituições do ensino supeiror aindam precisam promover valores humanisticos, preparar para cidadania e ser socialmente responsáveis. Tais missões nunca foram suficientes para prevenir contra as más condutas e abusos — alguns individuos bem treinados têm em alguns casos provado ser tão fanáticos como alqueles sem uma formação acadêmica — mas mesmo assim, as missões têm sido grandemente eficazes, devendo portanto, ser absolutamente mantidas e até enfatizadas. Poderá ser difícil defender tal posição em momentos em que as politicas do ensino superior promovem em primeiro lugar os papeis instrumentais e econômicos das universidades. Contudo, essa é uma luta pela liderança e a ser vencida nas próximas décadas, se as universidades permanecerem como o lugar onde o conhecimento e valores humanísticos são protegidos e difundidos.
 
Este texto foi traduzido e revisado sob a coordenação de
Sergio Azevedo Pereira
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