27/05/2015

International Higher Education | 79

O financiamento dos centros de educação: quem são os investidores?

Jane Knight
Professora adjunta no Ontario Institute for Studies in Education / Instituto de Ontário para Estudos em Educação, University of Toronto, Canadá. E-mail: janeknight@sympatico.ca
Centros internacionais de educação são os mais recentes desenvolvimentos no cenário do ensino superior internacional. Um centro de educação em nível nacional é um esforço planejado para construir uma massa crítica de atores locais e internacionais—instituições de ensino superior e provedores, estudantes, centros de pesquisa e indústrias do conhecimento que trabalham em colaboração na área de educação, treinamento e produção do conhecimento /inovação. Até agora, seis países — Qatar, Emirados Árabes Unidos, Singapura, Malásia, Hong Kong e Botsuana—declaram-se como centros de educação. Mas como são financiados? Os investidores são públicos ou privados? Estão sediados localmente ou no exterior? Os modelos de financiamento são sustentáveis? Estas são questões importantes que merecem uma análise aprofundada.
 
Qatar
Cada país tem sua própria capacidade e estratégias de financiamento das iniciativas dos centros de educação. O Qatar é um modelo interessante, porém único. Toda infraestrutura física e instalações são fornecidas para campus de extensão estrangeira e empresas localizadas na Cidade da Educação e no Parque de Ciências e Tecnologia. Além disso, 100 por cento dos consideráveis custos operacionais para 10 campi de extensão e a nova universidade em nível de pós- graduação, Hammid bin Khalifa University, estão cobertos pela Fundação Qatar. Os custos operacionais anuais para manter a Cidade da Educação, o Parque de Ciências e Tecnologia e a vasta gama de programas de pesquisa e bolsas é da responsabilidade do governo do Qatar e é extremamente elevada. Este modelo de financiamento integral do governo é sustentável e ideal? Na essência, o Qatar importa e compra a maioria dos programas de educação, serviços e pesquisas para as atividades do centro de educação. A questão central é como e por quanto tempo um país deve tentar construir e fortalecer a capacidade interna através da compra e importação da competência especializada estrangeira. Completaram-se 17 anos desde que o Qatar começou a trabalhar em sua tarefa de convidar renomadas universidades estrangeiras para estabelecerem programas específicos na Cidade da Educação. Esta é a primeira fase do plano de longo prazo do Qatar de desenvolver mais a capacitação dos recursos humanos internos à medida em que o país vai perdendo a dependência em gás natural e talentos expatriados do exterior, ou isso tem se tornado o modus operandi? Se for o caso, este é um modelo sustentável e eficaz? Se não for, qual será a segunda fase?
 
Emirados Árabes Unidos
Os Emirados Árabes Unidos (EAU) Oferecem um conjunto de circunstâncias completamente diferente em termos de financiamentos, investimentos e geração de receita. Cada emirado desenvolveu sua própria abordagem para tornar o EAU em um centro de educação. Abu Dhabi convidou instituições de renome internacional, como a Universidade de Nova York e a Sorbonne, para estabelecerem campi de extensões em instalações customizadas, fornecidas pelo governo de   Abu Dhabi. Além disso, o Instituto de Tecnologia de Massachusetts foi convidado para ajudar a desenvolver e assessorar no desenvolvimento do Instituto de Tecnologia de Masdar e da cidade de Masdar, a primeira zona livre de carbono no mundo. A Cidade de Masdar sedia instalações de pesquisa de renome mundial, cientistas, e programas de pós-graduação — todos mantidos pelo governo de Abu Dhabi, o que representa um enorme investimento interno público.
Dubai é uma história diferente. O plano estratégico de Dubai propôs o estabelecimento de várias zonas francas econômicas temáticas. Duas destas são focadas em educação — Vila do Conhecimento e Cidade Acadêmica Internacional de Dubai. O braço de investimento do governo de Dubai (TECOM) está mandatado para construir a estrutura física e instalações para estas zonas e recrutar instituições estrangeiras conceituadas e empresas de treinamento. Os locatários nestas zonas gozam de incentivos fiscais e regulatórios para oferecer seus programas de educação e treinamento. Diferente da situação no Qatar e Abu Dhabi, as instituições estrangeiras e fornecedores não têm seus custos operacionais subsidiados, e pagam aluguel pelo uso de suas instalações. Estima-se que nas duas zonas francas econômicas de educação de Dubai, o investimento interno público é de cerca de 80 por cento em termos de terras, infraestrutura, serviços e investimento estrangeiro privado dos locatários é de cerca de 20 por cento. O montante da receita gerada dos aluguéis das instalações para TECOM e das taxas de mensalidades para os campi de extensão / empresas de treinamento privadas não está disponível; porem considerando que estas zonas são relativamente estáveis e que operam em sua capacidade total, a formula de financiamento parece estar funcionando; e maiores oportunidades de educação estão sendo oferecidas primariamente para estudantes expatriados que moram nos EAU (60 % das matriculas), estudantes internacionais (32%) e alguns cidadãos dos EAU (8%).
 
Hong Kong, Botsuana e Singapura
Hong Kong apresenta ainda outro cenário. O governo fez investimento público limitado no desenvolvimento dos centros, desde que o programa foi anunciado em 2004. O investimento público primário feito por Hong Kong tem sido na forma de bolsas de estudos para atrair estudantes internacionais, a maioria dos quais provenientes da China. Recentemente, um terreno foi disponibilizado para atrair a iniciativa de campi de extensão de universidades locais ou internacionais; mas não há informação se as instalações serão construídas e disponibilizadas para locação ou se a instituição terá que investir na construção de suas próprias infraestruturas. Semelhantemente, o investimento público do governo de Botsuana, além do engajamento em um planejamento sofisticado e processo de consulta para o desenvolvimento dos centros, parece ser limitado. Os planos de Botsuana para os centros ainda estão em vigor, mas foram negativamente afetados pela crise econômica de 2008 e 2012. Seus investimentos até o momento têm sido direcionados a bolsas de estudos para estudantes internacionais e o estabelecimento de uma nova universidade — A Universidade Internacional de Ciência e Tecnologia de Botsuana.  
 
Os investimentos financeiros nas atividades de construção do centro de Singapura são impossíveis de identificar, devido à falta de qualquer informação publicada sobre as fontes de financiamento estrangeiro ou interno, público ou privado. Não se podendo chegar a uma conclusão, vale a pena mencionar, contudo, que o governo de Singapura tem sido referido como “investidor de risco” em se tratando de seu papel significativo e generoso, custeando os esforços do centro de educação.
 
Malásia
A situação na Malásia é complexa devido ao número de diferentes componentes da estratégia dos centros. A Malásia é o lar de sete campi de extensão e mais estão planejados. Recursos estrangeiros privados e internos foram usados para financiar tais iniciativas. Ainda, com o estabelecimento de uma zona franca econômica na forma de Educity@Iskandar, tem surgido grandes financiamentos fornecidos pelo braço do investimento público do Governo, Khazanah Nasional, um fundo soberano da Malásia que tem financiado a construção de infraestrutura e instalações de educação para atrair instituições internacionais. Em geral na Malásia, estima-se que o investimento público interno represente 50 por cento dos financiamentos para as atividades do centro de educação, complementado por 40 por cento do investimento privado interno. Os 10 por cento remanescente é composto pelo investimento privado estrangeiro e outras fontes.
 
Conclusão
Estes estudos demonstram que o investimento público interno é crítico para o desenvolvimento dos centros de educação. Embora, a construção dos centros também requeira investimento privado de fontes internas e estrangeiras, a importância do suporte do governo local para dar inicio e alavancar outras fontes de financiamento não deve ser subestimado. Os EAU e a Malásia são exemplos onde o investimento da iniciativa pública tem dado frutos e atraído outras fontes de financiamento privado. Singapura e Qatar apresentam outros modelos onde o financiamento das atividades dos centros de educação tem sido feito primariamente pelo governo (ou família real) e ao longo dos últimos 15 anos muito tem sido realizado. Contudo, a sustentabilidade de tais financiamentos e a habilidade para replicar este modelo em outras nações permanece como duas perguntas sem respostas.
 
Para mais informações ver Knight, J. 2014. International Education Hubs: Student, Talent, Knowledge Models. / Centros de Educação Internacional: Estudante, Talento, Modelos de Conhecimento. Dordrecht, Netherlands: Springer Publishers.
 
Este texto foi traduzido e revisado sob a coordenação de
Sergio Azevedo Pereira
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