13/07/2015

International Higher Education | 80 | Especial 20 anos

O desafio do desemprego entre graduados na África

Goolam Mohamedbhai
Ex-secretário geral da Association of African Universities. E-mail: g_t_mobhai@yahoo.co.uk
A África Subsaariana é a região com o menor índice de matriculas no ensino superior — apenas 8%. Consciente da importância do ensino superior para o desenvolvimento socioeconômico e em resposta à crescente demanda para esta necessidade, os países africanos têm feito enormes esforços — apesar das muitas restrições e desafios, no sentido de aumentar o acesso ao ensino superior. O índice de matriculas na maioria dos países aumentou consideravelmente e até mais que dobrou. O resultado foi conforme o esperado — uma saída maior de graduados. Talvez o que não se contava era o aumento do desemprego destes indivíduos, e isso se aplica a quase todos os países africanos. Em alguns países, a cifra de desempregados é alarmante. As consequências sociais e politicas do grande desemprego, em especial entre jovens formados, podem ser tão graves como aquelas evidenciadas pela “primavera árabe” de 2011 no Norte da África. 
 
As causas do desemprego de graduados são conhecidas. Em primeiro lugar, com a concentração do acesso crescente — mas com recursos humanos, físicos, financeiros inadequados — as universidades públicas têm sacrificado a qualidade em favor da quantidade. Isso tem tido um impacto direto sobre as qualificações concedidas. Porém, bem mais que boas qualificações, os empregadores procuram por atributos e competências referidas como “soft skills ou competências sociais”— estas são quase inexistentes nos graduados. De igual modo, as conexões entre a universidade e comunidade — comércio e indústria, órgãos públicos e áreas rurais são insuficientes e a universidade de muitas maneiras é separada do mundo profissional.
 
Contudo, nem todas as causas podem ser atribuídas às instituições. Outras partes interessadas possuem uma parte igual de responsabilidades. O setor privado, que rapidamente se torna o principal empregador dos graduados, deve ajudar fornecendo estágios de curta duração para estudantes, treinamento para graduados, treinamento na área de competências sociais e até mesmo financiamento como parte de suas responsabilidades sociais. As maiores empresas privadas na África são estrangeiras e devem priorizar a contratação de graduados localmente treinados.
 
Falta a muitos países um sistema de ensino superior diferenciando que produza uma força de trabalho diversificada em resposta às prioridades de desenvolvimento da África. Os governos africanos têm muitas vezes, por razões politicas, replicado instituições existentes ou promovido instituições politécnicas e faculdades pós-secundárias a universidades, basicamente criando “mais das mesmas instituições.” Mesmo assim, o mercado de trabalho está mais voltado para detentores de diploma, treinados de maneira prática e nível inferior que para acadêmicos qualificados, detentores de diplomas. 
 
A África é a atualmente a região que mais cresce no mundo, tanto econômica como demograficamente, com a população mais jovem e grandes expectativas na área educacional. A região precisa de capital humano altamente qualificado para seu crescimento econômico sustentado, portanto, deverá continuar a expandir seu setor do ensino superior. Contudo, o desenvolvimento não pode ser alcançado produzindo-se meramente grandes números de graduados; deve-se assegurar, portanto, que sejam produtivamente empregados. Desta feita, a África precisa resolver seu maior desafio do desemprego de graduados. O que é necessário em cada país africano é uma estratégia conjunta, bem definida e plano de ação, tanto no plano nacional como no institucional, devidamente motivada por dados estatísticos atualizados e confiáveis, que estão em falta grave no momento, para criar um setor do ensino superior vibrante que possa representar seu importante papel no sentido de ajudar a África a vencer seus desafios de desenvolvimento e tornar-se o principal polo do crescimento global.
 
Este texto foi traduzido e revisado sob a coordenação de
Sergio Azevedo Pereira
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