27/05/2015

International Higher Education | 79

O cenário global obscuro da pesquisa e treinamento do ensino superior

Laura E. Rumbley
Diretora associada do Centro para o Ensino Superior Internacional no Boston College. E-mail: rumbley@bc.edu
Os sistemas do ensino superior e instituições por todo o globo demandam informações melhores e mais completas, sobre as quais  sedimentar decisões sóbrias e planejamento estratégico relevante. Para operar de maneira eficiente, eficaz e criativamente em contextos de incertezas e mudanças, o setor do ensino superior em todo mundo também precisa de corpo docente e pessoal administrativo maiores, com treinamento e conhecimento específico neste campo. A necessidade de uma compreensão mais profunda da iniciativa do ensino superior, além da experiência pessoal na área academia é crucial para geração atual que surge de lideres institucionais, gestores e decisores políticos.
 
As necessidades nestas áreas apresentam questões importantes sobre onde à pesquisa e análise, assim como o treinamento para carreiras no ensino superior acontecem. O que sabemos sobre o cenário global dos centros de pesquisa e programas acadêmicos que oferecem programas de pós-graduação no estudo do ensino superior? E, à luz do que sabemos sobre o tamanho e o formato desta comunidade de pesquisa e treinamento, há espaço para o otimismo ou pessimismo com relação à enorme necessidade de informação e desenvolvimento de talento? 
 
“Uma indústria de crescimento”
Desde 2000, o Boston College Center for International Higher Education, Centro do Boston College para o Ensino Superior Internacional tem produzido três inventários globais dos centros de pesquisa do ensino superior / institutos e programas acadêmicos, enfocando o estudo do ensino superior. Em cada instância, os números dos centros e programas identificados têm expandido consideravelmente. Por exemplo, quando comparado à iteração do inventário de 2006, 293 mais centros e programas foram encontrados no exercício de coleta de dados de 2013/2014; e 26 mais países que sediam centros e programas que em 2006. E embora tais constatações possam apontar para esforços de coletas mais intensificadas de dados, há sinais claros de que os números mais elevados são o reflexo de um crescimento real (acentuado) .
 
Muitos dos centros de pesquisa (100 dos 217) foram estabelecidos desde 2000, com expansão significativa vista na Europa e Ásia. A China se destaca particularmente como um desenvolvedor ativo de centros de pesquisa do ensino superior em anos recentes — apesar de mal representada por um número de razões, no exercício do inventário mais recente do Boston College, os dados ainda demonstram que 20 novos centros de pesquisa/institutos foram estabelecidos na China de 2000 a 2012. 
 
Semelhantemente, o inventário do Center for International Higher Education; Centro para o Ensino Superior Internacional tem determinado que pelo menos 60 dos programas identificados para concessão de diploma no ensino superior em todo mundo foram lançados desde 2000, e 33 destes foram estabelecidos até mais recentemente, desde 2006.
 
Expansão sem equidade
O forte crescimento nos números de centros e programas, centrados no treinamento e pesquisa do ensino superior, faz sentido à luz da importância do campo nas esferas das politicas nacionais e internacionais. De igual modo, claramente reflete a necessidade crescente de uma compreensão mais profunda dos muitos processos complexos que se desdobram (ou que estão sendo empreendidos) em níveis sistêmicos e institucionais. Um empenho aparente através do estabelecimento de centros de pesquisas / institutos e programas para expandir as atividades de pesquisa e desenvolvimento da capacitação dos recursos humanos é a razão para celebrar entre aqueles que se preocupam com as muitas questões com as quais a área acadêmica se depara em todo mundo. Ao mesmo tempo, quando analisado da perspectiva das necessidades nacionais especificas e recursos, há motivos para preocupações.
 
A população global dos centros de pesquisa / institutos do ensino superior e programas é altamente concentrada em apenas alguns números de países. Certamente, 44 por cento dos centros / institutos estão localizados em apenas dois países (os Estados Unidos e a China). Se adicionarmos os cinco próximos países que sediam o maior número de centros (o Reino Unido, Japão, Alemanha, Canadá e Austrália) estas nações juntas sediam apenas pouco mais de 66 por cento do total do globo de tais centros. No geral, a América Latina e Africa são o lar de apenas 3 por cento cada dos centros de pesquisa do ensino superior identificados, e o Oriente Médio e Africa do Norte (MENA) meros 2 por cento.
 
A situação é até mais acentuada para programas acadêmicos que enfocam a produção de pós-graduados no campo do ensino superior. Embora os Estados Unidos sejam reconhecidamente super-representados no inventário e a China sub-representada, juntos estes dois países são o lar de 81 por cento dos 277 programas acadêmicos identificados no campo. Apenas 6 programas em toda Africa foram identificados, 3 ao todo na América Latina e apenas 1 no Oriente Médio e Região da África do Norte.
 
Necessário: mais informações e suporte para os sistemas com recursos insuficientes
O mapeamento do cenário global da capacitação para pesquisa e treinamento no Campo do Ensino Superior, com total enfoque dedicado à área, é um trabalho incrivelmente complexo. A coleta de dados necessária para documentar onde tais esforços estão sendo apreendidos e, talvez mais importantemente, o conteúdo específico e a qualidade destas atividades sejam um trabalho detalhado e intensivo de mão de obra. Também requer uma boa compreensão de muitos contextos nacionais diversos, a fim de precisamente refletir o escopo e impacto da pesquisa e esforços educacionais em curso em certos países.
 
Na China, por exemplo, um número significativo de programas e centros que operam em nível bastante local não foi incluído em nosso inventário. Seria útil se especialistas chineses qualificados empreendessem um exame detalhado do setor de treinamento e pesquisa do ensino superior na China e produzissem um quadro mais detalhado sobre como esse trabalho está sendo desenvolvido no contexto chinês. A gama de centros e programas é claramente imensa, porém muito permanece obscuro e não documentado, sobre o escopo da atividade e o impacto do grande número dos centros de ensino superior e programas na China.
 
Em nível mais global, embora o quadro quantitativo produzido por um exercício de inventário seja importante e esclarecedor, permanecem muitas questões fundamentais. Por exemplo, quais são as áreas especificas de enfoque destes centros e programas para concessão de cursos universitários?   Que tipos de análises são produzidas pelos centros, de que maneira esta informação é disseminada e usada e que impacto ela tem? De que maneiras os programas acadêmicos (cursos universitários) estão exercendo uma influência na saúde e desempenho das instituições e sistemas nacionais? 
 
A questão mais urgente, naturalmente, é o reconhecimento de que os padrões de privilégio e riqueza que categorizam tantas outras dinâmicas econômicas, politicas e sociais ao redor do mundo também estão em evidência quando se trata de pesquisa e treinamento no campo do ensino superior. Se o número absoluto de centros e programas servir de alguma indicação, um pequeno subconjunto dos países mais ricos do mundo e regiões claramente ocupam uma posição de privilégio significativo com relação ao acesso à pesquisa do ensino superior, análise, e capital humano treinado; e todos os benefícios advindos de tal acesso.   É particularmente surpreendente e perturbador, que grandes sistemas do ensino superior (em expansão) tais como aqueles do Brasil, Índia, Indonésia, Malásia e Nigéria tenham comparativamente minúscula pesquisa própria e aparato de treinamento sobre os quais dependerem à medida que avançam no sentido de enfocarem muitos desafios complexos e de desenvolvimento. 
 
Com a conscientização vem à responsabilidade. À medida que os centros de pesquisa do ensino superior e programas acadêmicos em todo mundo amadurecem em seus papeis e expandem suas compreensões de seus lugares em uma rede global mais ampla de entidades similares, o apoio e envolvimento com outros, em particular com colegas em todo mundo deve ser visto cada vez com mais atenção.
 
Nota: Para mais informações sobre a edição atual do inventário global cujas referências estão citadas neste artigo, consultar: Laura E. Rumbley, et al. (2014). Higher Education: A Worldwide Inventory of Research Centers, Academic Programs, and Journals and Publications (3rd Edition).(Ensino Superior: Inventário Global de Centros de Pesquisa, Programas Acadêmicos, Periódicos e Publicações (3ª Edição)) Bonn and New York: Lemmens Media. A publicação está disponível no formato de e-book no Amazon.com, ou como versão resumida disponível no formato digital e copia impressa diretamente da Lemmens Media (info@lemmens.de).
 
Este texto foi traduzido e revisado sob a coordenação de
Sergio Azevedo Pereira
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