10/04/2015

International Higher Education | 78

Novos direcionamentos para internacionalização do ensino superior na América Latina e no Caribe

Jocelyne Gacel-Ávila
Pesquisadora do Sistema de Pesquisa Nacional Mexicano, Professora do Programa de Doutorado em ensino superior, Reitora Associada para Ciências Sociais e Humanidades na Universidade de Guadalajara, e atualmente Presidente da AMPEI. E-mail: jgacelav@gmail.com
Para América Latina e Caribe (ALC), assim como outras regiões, a internacionalização é uma estratégia chave para a transformação e melhoria do ensino superior (ES), em se tratando de educar os graduados com as habilidades cognitivas e interculturais necessárias para uma economia e sociedade cada vez mais conectada globalmente. A pergunta fundamental é se a internacionalização está na verdade sendo usada para ajudar a região a fazer as transformações que o ensino superior necessita. As principais descobertas da Pesquisa de Internacionalização Global de 2014, conduzida pela IAU International Association of Universities, Associação Internacional de Universidades de 2014 apresenta algumas indicações.
 
Equilíbrio, progresso e desafios
A pesquisa da IAU apresenta algumas tendências novas e interessantes na ALC. Em particular nos elementos motivadores externos da internacionalização, politicas governamentais foram classificadas à frente da demanda da indústria e do comércio, em linha com as conclusões globais. Isto fica em posição contraria com a pesquisa de 2010, em que a última foi classificada primeiro, e reflete o quão insuficiente o apoio do governo foi percebido naquela época, como a colaboração entre a indústria e os gastos no ensino superior ES que é notavelmente baixo na região. Um aumento no apoio governamental e financiamento também foram relatados, demonstrando uma mudança nas tendências, assim como na pesquisa de 2010, os investimentos governamentais na ALC revelaram-se como os mais baixos no mundo. Ambos os desenvolvimentos são definitivamente positivos e confirmam um interesse público crescente de promover a internacionalização do ensino superior. Outro novo elemento — principalmente devido ao desenvolvimento dos rankings nacional e regional — é que os rankings internacionais são reconhecidos como aqueles entre os três principais elementos motivadores da internacionalização na ALC. No passado, a região tradicionalmente ignorava este fenómeno. 
 
A ALC é a única região que relata um aumento no networking internacional pela faculdade / pesquisadores como o principal beneficio da internacionalização. Isso confirma as conclusões anteriores, como no estudo do Banco Mundial de 2005 sobre a internacionalização do ensino superior, em que a comunidade acadêmica da ALC ainda se sente bastante desconectada do resto do mundo.
 
Em nível institucional, as instituições participantes consideram como seus principais riscos o fato das oportunidades internacionais estarem apenas acessíveis para estudantes com recursos financeiros, seguido pela dificuldade em se regulamentar localmente a qualidade das ofertas de programas estrangeiros. Para a sociedade, o principal risco percebido é a distribuição desigual de benefícios da internacionalização e o crescente gap entre as instituições do ensino superior (HEIs) dentro dos países. Ambas as respostas sugerem que a internacionalização é percebida como um fator de maior desigualdade entre indivíduos e instituições dentro de uma região que já demonstra elevados níveis de preocupação por essas questões. Outra preocupação é demonstrada com relação aos fornecedores estrangeiros que estão em alta na região devido ao acesso insuficiente fornecido pelo setor público. Em 2010, a fuga de cérebros foi classificada como o principal risco, enquanto que em 2005 a perda da identidade cultural foi relatada como a principal ameaça. Embora prioridades pareçam mudar ao longo dos anos, tais resultados expressam a preocupação sobre a discrepância potencial entre o papel do ensino superior como um bem público e como uma mercadoria comercial.
 
No que tange aos obstáculos internos e externos da internacionalização, a barreira linguística é classificada como mais elevada que em outras regiões, fato que coincide com a realidade dos baixos níveis de habilidades em língua estrangeira entre estudantes e a população em geral na região.
 
Com relação às prioridades regionais de parcerias, a Europa e América do Norte estão classificadas em primeiro lugar e em pé de igualdade, a ALC em segundo e a Ásia em terceiro. A região foi escolhida como a segunda em importância pela América do Norte, mas não entre as três principais prioridades das europeias. Como ocorreu na antiga pesquisa da IAU, A ALC não foi escolhida como a primeira prioridade por nenhuma das regiões, incluindo ela própria. Isso reflete as conclusões anteriores de que ALC está mais focada na América do Norte e Europa que em sua própria região e no resto do mundo.
 
Para a ALC, a maior prioridade para a internacionalização do currículo é o aprendizado da língua, uma consequência lógica da deficiência nesta área. A ALC também aparece como a região de menor número de programas de graduação duplo e conjuntos. Embora esta seja uma modalidade em pleno crescimento ao redor do mundo, apenas 29 por cento das instituições da ALC relatam ter acordos de programa de graduação conjuntos, e 34 por cento de programas de graduação duplos, em contraste com a média mundial de 41 por cento e 44 por cento respectivamente. Digno de menção, são as estratégias insuficientes para recrutar estudantes internacionais e acadêmicos, o que resulta no menor percentual do mundo de estudantes internacionais e acadêmicos.
 
A ALC é relatada como a região com o menor percentual de instituições com politicas internacionais estabelecidas (6 por cento mais baixo que a media mundial); e consequentemente, tem o percentual mais elevado de instituições atualmente preparando as politicas/estratégias de internacionalização (6 por cento mais elevado que a média mundial). Isso confirma uma conscientização crescente de que esforços devem ser feitos nesse sentido. A região também relata o menor número de escritórios internacionais institucionalizados e profissionalizados, algo em sintonia com outros estudos, tais como o relatório de 2011 (da ECORYS, CHEPS e EASMU) sobre a cooperação internacional entre a União Europeia e o México. Esta situação deverá limitar o potencial e viabilidade das estratégias de internacionalização. 
 
Tais conclusões aqui ressaltadas demonstram certamente uma tendência positiva nos processos de internacionalização da ALC. Progresso foi alcançado na mobilidade estudantil e docente. Programas de bolsas de estudo de larga escala para estudos de pós-graduação internacional e networking para os acadêmicos são as principais prioridades. O aprendizado de idiomas, depois de ter sido relatado por anos como uma das principais barreiras, tem se tornado uma principal prioridade. Governos têm aumentado o apoio e financiamento e as instituições estão no processo de melhoria ou de criação de suas estruturas organizacionais para a internacionalização.
 
Mesmo assim, se comparado com outras regiões em desenvolvimento, a Ásia ou a até mesmo a Africa, a região ainda revela atrasos em termos de apoio financeiro, mobilidade estudantil e docente, internacionalização do currículo, estruturas organizacionais, e profissionalização de docentes. Contudo, nossa principal preocupação com relação ao futuro é que os esforços sejam principalmente focados nas estratégias individuais (mobilidade) e não suficientemente em estratégias sistêmicas (currículo, pesquisa e perfis de faculdade). Sem negar o valor de transformação de tais ações, elas têm assim mesmo provado não ser suficiente para garantir uma contribuição decisiva para a transformação do setor. Isso pode sugerir a falta de conceptualização dos decisores do potencial de transformação da internacionalização abrangente, em termos de inovação, qualidade e relevância. Além disso, uma deficiência importante para a internacionalização poderá também se encontrar na cultura politica e estilos de gestão, tanto em nível institucional como no setor. Aqui, estratégias de curto prazo e ações são geralmente privilegiadas, quando a internacionalização requer um planejamento de médio e longo prazo. Além disso, outras áreas - tais como o aumento do acesso, equidade, qualidade, relevância e produção de conhecimento também se encontram em urgente necessidade de suporte em todos os níveis.
 
Este texto foi traduzido e revisado sob a coordenação de
Sergio Azevedo Pereira
Diretor da San Ives International Language Center
Rua Roberto Simonsen, 421
Parque Taquaral
13076-416 Campinas SP
(19) 3365 -1035

Ordem de Fornecimento 116799-14/1 emitida em 15 de outubro de 2014 pela Funcamp,
após indicação do Gabinete da Reitoria