27/05/2015

International Higher Education | 79

Enfrentando os desafios do ensino de pós-graduação na África Subsaariana

Fred M. Hayward e Daniel J. Ncayiyana
Fred M. Hayward é consultor sênior em ensino superior na University of Massachusetts, Amherst. E-mail: haywardfred@hotmail.com. Daniel J. Ncayiyana é ex - vice reitor da Durban University of Technology na Africa do Sul, vice-reitor da University of Cape Town e consultor em ensino superior. E-mail: profdjn@gmail.com
As origens coloniais de grande parte do ensino superior africano levaram o ensino de pós-graduação a ser ignorado em seus primórdios. A ideia seria que, se o ensino de pós-graduação fosse necessário, os estudantes poderiam viajar para pátria colonizadora. Desta feita, o estado atual do ensino de pós-graduação na África Subsaariana pode ser bem descrito como uma consequência do impacto prejudicial do passado e desafios que o ensino superior tem enfrentado desde a década de 1970.
 
Desafios para o ensino de pós graduação
Em meados da década de 1970 tanto o ambiente para o ensino superior como seu status estavam em declínio. Os efeitos na maioria dos programas de pós-graduação foram devastadores. A economia estava em crise na maioria dos países africanos, alguns governos chegaram a considerar as universidades como baluartes da crítica indesejada e centros de oposição, os custos pareciam muito altos, os estilos de vida de estudantes e docentes questionáveis, e a utilidade de universidades e programas de pós-graduação em particular, de repente pareciam limitados.
 
O declínio na assistência internacional de desenvolvimento para o ensino superior e a mudança de enfoque para educação primária com uma ênfase em “educação para todos” contribuíram para os problemas. O declínio no estado e no financiamento por doadores ilustrado de forma dramática pela redução per capita dos gastos públicos para o ensino superior, que caiu de US$6,800 em 1980, para US$1,200 em 2002, e em meados de 2009 atingiu uma média de apenas US$981 em 33 países africanos. Esta é uma queda surpreendente de 82 por cento.
 
O ensino também entrou em declínio na qualidade devido à rápida expansão das admissões, os aumentos gerais nos tamanhos das classes, eliminação dos tutoriais em muitas universidades, a falta de docentes e o baixo nível de qualificação de muitos professores. Matrículas cresceram de menos 200,000 nos anos de 1970 para cerca de 6 milhões hoje. Outras nações desenvolvidas e em desenvolvimento investiram fortemente em tecnologia da informação, o que não foi o caso dos líderes africanos, aumentando assim o crescimento de uma lacuna de tecnologia da informação entre a Africa e o resto do mundo. Estas condições afetaram a capacidade de oferecer programas de pós-graduação e onde existiam, limitaram a qualidade.
 
As notícias econômicas gerais para a África Subsaariana recentemente tornaram-se melhores. A taxa de crescimento da economia aumentou de 6.1 por cento em 2013 e tem previsão de crescimento de 6.8 por cento em 2014. Após anos de declínio nos financiamentos de doadores, há alguns exemplos animadores — incluindo um projeto de US$200 milhões do Banco Mundial, Fortalecendo o Ensino Superior na África através dos centros africanos de excelência. O projeto enfoca várias áreas criticas do ensino superior—incluindo ciência e tecnologia, engenharia, matemática, saúde e agricultura. A Carnegie Corporation tem concedido fundos substanciais para o ensino superior em seus programas de vários milhões de dólares — enfocando a formação de pós-graduação, aumentando a qualidade e o número de docentes com doutorado, estimulando a pesquisa e publicações.
 
Os dados que temos no crescimento de matrículas dos programas de     pós-graduação em anos recentes deixam muito a desejar. Os números de matrículas na pós-graduação entre 1997 e 2007 apresentam um total de 169,275 de estudantes graduados em preparação para o mestrado e doutorado, ou 6.9 por cento do total de matrículas. Dados de 2010–2013 apontam para um aumento de 294,339 atualmente 9.3 por cento do total de matrículas nessas instituições, um aumento de 73.9 por cento. Embora este represente um aumento bastante substancial ao longo de aproximadamente cinco anos, pouco mais da metade do mesmo está refletido no crescimento do número de estudantes de pós-graduação na África do Sul. Deste total, aproximadamente 20 por cento estudavam em nível de doutorado, 80 por cento em nível de mestrado. 
 
Os programas de pós-graduação têm padecido em geral das faltas de docentes. A idade média do corpo docente está aumentando devido à falta de recrutamento, crescentes perdas à medida que membros docentes se aposentam. A escassez de docentes com doutorado está piorando. Há cinco anos, 50 por cento do corpo docente tinha doutorado. O percentual atualmente é inferior, conforme nossos dados que apontam uma média de 38 por cento de doutores; em uma estimativa recente do Banco Mundial, o percentual foi de 20 por cento. Isto está refletido na falta de supervisão adequada dos estudantes de pós-graduação em muitos programas.  
 
Ensino de pós-graduação de alta qualidade para o desenvolvimento nacional
As pesquisas têm demonstrado que nenhuma nação avança para o universo das economias em desenvolvimento sem um sistema de ensino superior altamente qualificado, o que inclui o ensino de pós-graduação. O desenvolvimento vem de muitas formas e varia desde a pesquisa sobre os problemas nacionais críticos até as contribuições para o conhecimento. As universidades são as únicas instituições nacionais com conhecimento auto renovável que produz a capacidade essencial para manter e expandir o crescimento.
 
A África do Sul e Gana são exceções ao declínio geral do ensino de pós-graduação. Novas matrículas nos programas de mestrado sul-africanos têm apresentado crescimento de 9 por cento em 2000, para 16 por cento em 2005, com 70 por cento provenientes de outros países africanos. Metade destes foram provenientes dos países da Southern African Development Community (SADC) sigla em inglês para “Comunidade de Desenvolvimento da África Austral” Este crescimento reflete a generosidade da África do Sul com seus vizinhos do SADC, permitindo a eles pagar o mesmo valor de mensalidades pago pelos estudantes sul africanos. Mestres graduados em instituições públicas aumentaram em 56 por cento de 2000 a 2009. Em nível de doutorado cresceu 67 por cento de 2000 a 2009. 
 
A prova mais clara do baixo nível de pesquisa na África Subsaariana pode ser visto no limitado número de publicações por acadêmicos. Mesmo em termos relativos os números de publicações são baixos, com exceção da África do Sul. 
 
Recomendações de melhorias
As tarefas mais críticas são as de reestabelecer a cultura do ensino, aprendizagem e a pesquisa nas universidades africanas. Nas melhores universidades é importante melhorar ou estabelecer programas de pós-graduação de alta qualidade. Também essencial é o recrutamento de membros docentes em nível de doutorado mas bem treinados, a redução da carga de ensino, e remunerações adequadas para que os docentes não precisem de um segundo emprego para sobreviver financeiramente.
 
Novos recursos de financiamentos devem ser encontrados para os programas de pós-graduação. Com a melhoria geral nas econômicas da África Subsaariana, vêm também as oportunidades de aumento do apoio estatal. O suporte adicional de doadores é também essencial. As taxas de igual modo poderão precisar ser aumentadas nos casos em que são baixas ou não existentes. 
 
Os centros regionais de pós-graduação precisam ser estimulados. A África do Sul tem se tornado o principal centro regional para o ensino de pós-graduação. Esperamos que a Pan-African University, estabelecida pela União Africana e orientada para enfocar o ensino de pós-graduação em áreas especificas, inicialmente com cinco campi regionais venha suprir parte dessa necessidade. Outras possibilidades para os centros regionais deve ser o Senegal com sua longa história de atividade regional e Gana que melhorou grandemente os programas de pós-graduação.
 
Um grande esforço precisa ser feito com relação aos programas de doutorado de docentes, pois o número de doutores nas universidades da África Subsaariana diminui acentuadamente. Aplaudimos o empenho da Carnegie Corporation nesta área e encorajamos outros doadores a se unirem a este esforço. 
 
O futuro
Um objetivo essencial para o futuro é manter e expandir o ensino de pós-graduação de alta qualidade. Sucessos não virão sem grandes novos investimentos nos programas de pós-graduação por parte daqueles governos que reconhecem os benefícios dos programas de pós-graduação de alta qualidade, de membros docentes que se comprometem com a pesquisa e o ensino de alta qualidade, dos estudantes que têm a capacidade intelectual para o estudo intensivo e das contribuições de governos estrangeiros, doadores e organizações internacionais. Tais compromissos ajudarão a reavivar o desenvolvimento nacional estagnado em grande parte da África Subsaariana e a criar as condições para o ressurgimento das contribuições por parte dos programas de pós-graduação africanos para o desenvolvimento nacional e produção de conhecimento.
 
Este texto foi traduzido e revisado sob a coordenação de
Sergio Azevedo Pereira
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