27/07/2015

International Higher Education | 80 | Especial 20 anos

As utilizações indevidas da universidade

Patti McGill Peterson
Conselheira Presidencial em iniciativas internacionais no Conselho Americano de Educação e ex-diretora executiva do Conselho para o Intercâmbio de Acadêmicos — Programa Fulbright. E-mail: ppeterson@acenet.edu
Vivemos em uma época, onde compreender sua principal missão e ser fiel a ela são conceitos fundamentais para organizações saudáveis. Minha preocupação quanto ao futuro do ensino superior é o número de partes interessadas, que coloca sobre ele uma lista em constante expansão de demandas competitivas e seus impactos na sua principal missão.
 
Quando o Cardeal Newman escreveu sobre universidades na década de 1850, ele queria definir não apenas seus propósitos para os estudantes, mas também seus propósitos na sociedade. Um elemento central para a concepção de Newman era o estudante e o ambiente para o ensino e aprendizagem, que estava conectado à sociedade, mas não era impulsionado ou fortemente moldado por ela.
 
Avançando rapidamente para Clark Kerr cerca de 100 anos mais tarde — as utilizações da universidade prevalecem sobre a ideia de universidade. Sua “multiversidade ” é uma instituição de mega propósitos — um lugar de visões competitivas e, de acordo com Kerr, são tantas coisas para tantas pessoas que ela precisa estar em guerra consigo mesma.
 
Justapor Newman e Kerr não é meramente um ato de nostalgia. É um sinal de que as demandas sobre as universidades, e o ensino superior em geral cresceram exponencialmente. O ensino superior tem sido colocado cada vez mais na posição de fornecer o antídoto para quaisquer questões que governos, comércio, indústria, principais doadores e outras partes interessadas definem como a solução que precisam.  
 
Neste cenário é muito difícil ser fiel a uma missão educacional principal e planejar estrategicamente melhorá-la ao longo do tempo. As instituições são como Napoleão no fronte russo de batalha, com suas linhas de avanço muito amplas e suas linhas suprimentos muito curtas.
 
Todas as instituições do ensino superior, não apenas instituições do terceiro grau com missões vocacionais são cada vez mais responsabilizadas pela   adequação de suas ofertas de educação às necessidades da força de trabalho e a inserção profissional de seus graduados. Essa conduta tem levado à constante “profissionalização” do ensino superior em nível de graduação.
 
Os perigos das reformas e adaptações dos currículos no ensino superior para utilidade e benefícios imediatos são reais. Preparar títulos e programas voltados para o trabalho contemporâneo e treinamento de estudantes em tarefas especificas podem potencialmente preparar o caminho do desemprego crônico. As forças da globalização e novas descobertas podem paralisar definitivamente fábricas, desviar indústrias inteiras, e lançar graduados, limitadamente instruídos na pilha da escória da obsolescência humana.
 
Embora não precisemos retornar ao Studium Generale para sermos fieis à principal missão do ensino superior, é chegado o momento de considerar como equilibrar relevância com intemporalidade e utilidade de curto prazo com competência de longo prazo. Ao examinarmos o futuro, precisamos reconhecer o que significa “útil”, na consideração das obrigações do ensino superior para com seus estudantes e a sociedade. Se a principal missão é aquela de educar bem os estudantes para uma vida inteira, sua utilidade incluirá um intelecto desenvolvido para uma vida pessoalmente recompensadora, os meios ou as possibilidades para uma cidadania informada, e a habilidade de se moverem produtivamente entre múltiplos empregos e carreiras. 
 
Grande universidades e sistemas do ensino superior bem desenvolvidos serão legitimamente solicitados a responder às necessidades sociais. A dificuldade consistirá em gerir tais demandas, sem perder precisamente aquilo que os tornou grandiosos.
 
Este texto foi traduzido e revisado sob a coordenação de
Sergio Azevedo Pereira
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