13/07/2015

International Higher Education | 80 | Especial 20 anos

Aperfeiçoamento do programa de educação em engenharia na África Subsaariana

Goolam Mohamedbhai é Ex-secretário Geral da Association of African Universities. E-mail: g_t_mobhai@yahoo.co.uk. Este artigo foi extraído de um relatório solicitado pelo Banco Mundial: Aperfeiçoamento do Programa de Educação de Engenharia na África Subsaariana,” por Goolam Mohamedbhai. Uma versão mais longa será publicada no the International Journal of African Higher Education.
A África Subsaariana é a região com o menor índice de matriculas no ensino superior — apenas 8 por cento. Consciente da importância do ensino superior para o desenvolvimento socioeconômico e em resposta à crescente demanda para esta necessidade, os países africanos têm feito enormes esforços — apesar das muitas restrições e desafios, no sentido de aumentar o acesso ao ensino superior. O índice de matriculas na maioria dos países aumentou consideravelmente e até mais que dobrou. O resultado tem demonstrado um forte crescimento econômico em anos recentes, atraindo investimento estrangeiro significativo. Contudo, os projetos de investimentos estrangeiros são afetados por uma falta acentuada de mão de obra qualificada, o que leva a importação de competências estrangeiras.   Para que a África mantenha seu crescimento econômico sem precedentes e se torne competitiva, o desenvolvimento de seu capital humano é fundamental, especialmente nas áreas de engenharia e tecnologia.
 
Há, em particular, uma necessidade urgente de capacitação na área de engenharia na África por várias razões: por conta de seu desenvolvimento em infraestrutura que acompanhe a trajetória de seu crescimento; para acelerar seu desenvolvimento industrial, em especial em manufatura e se tornar um exportador liquido e não um importador de bens manufaturados; para produzir e atender suas necessidades crescentes em termos de energia e vencer a acentuada escassez de energia pela qual passa com regularidade; para capacitação no sentido de assumir o controle da mineração de seus recursos naturais; e finalmente para alcançar os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio.
 
O estado atual do programa de educação em engenharia
Vários relatórios foram recentemente publicados sobre o fornecimento do programa de educação de engenharia e treinamento nos países africanos. Em 2012, a Royal Academy of Engineering publicou um relatório abrangente da identificação de necessidades de engrenharia na África Subsaariana, com base em uma pesquisa eletrônica de 113 engenheiros profissionais e 29 decisores de 18 países africanos, bem como entrevistas com 15 líderes de projetos de engenharia em vários países africanos. Em 2005, a African Technology Policy Studies Network / Rede Africana de Estudos de Políticas sobre Tecnologia publicou um relatório sobre a capacidade do programa de educação de engenharia na Nigéria, Gana e Zimbabwe — usando dados obtidos de questionários e entrevistas com uma ampla variedade de interessados. Também, em 2010, a UNESCO publicou um relatório de referência em engenharia, com contribuições de 120 especialistas em todo mundo e com ênfase especial no papel da engenharia no desenvolvimento internacional. 
 
Estes estudos revelaram achados importantes. Primeiro, há uma grave falta de capacitação na área de engenharia na África, que precisa depender fortemente da importação de competências. Esta falta de capacitação é o resultado advindo de várias fontes: resultados insuficientes das instituições de ensino no sentido de atender os requisitos do país; qualidade insuficiente e falta de experiência prática e habilidades dos graduados lançados no mercado, o que muitas vezes os deixa sem emprego; a presença local de firmas de engenharia estrangeiras que preferem importar sua própria mão de obra qualificada; e a relutância dos graduados de assumirem funções de trabalho mal remuneradas em zonas rurais. 
 
Em segundo lugar, há uma grave escassez de técnicos em engenharia. Em geral, para a operação eficaz da indústria de engenharia, a proporção de engenheiros profissionais: técnicos devem ser da ordem de 1:5 ou 1:6, indicando a necessidade de um número bem maior de técnicos que de engenheiros. Na África, contudo, esse índice encontra-se mais na ordem de 1:1 ou 1:1.5. Isso poderia implicar que o número de engenheiros qualificados está subempregado e trabalhando como técnicos. Existe até mesmo o risco deste índice piorar, pois a maioria dos países está aperfeiçoando suas escolas politécnicas e faculdades técnicas, levando a um status de universidade para oferecer diplomas, sem oferecer substituição. Se por um lado a África sem sombra de dúvidas necessita de um grande pool de excelentes profissionais, por outro, também precisa igualmente de um número até mesmo maior de técnicos versáteis e treinados na prática e não apenas apoiar engenheiros profissionais, mas igualmente servir e iniciar industrias em escalas médias e pequenas a fim de criar emprego, melhorar a qualidade de vida, e fazer uso integral dos recursos locais. 
 
Aperfeiçoamento do programa educação de engenharia
Os relatórios identificam um número de passos a serem tomados no sentido de melhorar o ensino e a formação de engenharia. Há em primeiro lugar, uma necessidade urgente de melhorar a infraestrutura e laboratórios das instituições existentes. As instituições de ensino superior africano de financiamento público têm por várias décadas, sofrido da falta de investimento, e isso tem levado a deterioração de suas infraestruturas. 
 
Os currículos dos cursos de engenharia precisam ser revisados. A maioria deles foi copiada de universidades na Europa ou nos Estados Unidos, não foram atualizados, e não são necessariamente relevantes para situações africanas.  
 
A metodologia de ensino precisa ser melhorada, pois devido ao grande número de estudantes, as matérias são em grande maioria ensinadas pelo modo magistral ou autoritário com quase nenhuma oportunidade para os estudantes de discutir e interagir com o palestrante ou entre eles próprios. Foi sugerido que a abordagem de aprendizagem baseada em problema no ensino de engenharia poderia resultar em melhoria perceptível na habilidade dos estudantes para resolver problemas e, além disso, auxiliá-los a adquirir certas “ habilidades sociais ou soft skills” tais como boa comunicação, espirito de equipe, criatividade e adaptabilidade, e requisitos fundamentais para a empregabilidade de graduados. 
 
Estreitamente associado à melhoria da metodologia do ensino é a necessidade de treinamento pedagógico dos professores de engenharia. Muitos deles, embora tenham passado por um programa de doutorado em seus campos, estão despreparados para auxiliar os estudantes a aprenderem conforme as técnicas pedagógicas adequadas. Muitas universidades africanas agora insistem que todos os seus professores tenham passado por um programa de PhD. Esta talvez não seja necessariamente a abordagem correta para todos os professores de engenharia e, poderá de qualquer modo não ser viável. Para muitos deles, ter um bom programa de mestrado no campo adequado, adquirir alguma experiência industrial e passar por treinamento pedagógico permite uma boa formação no que diz respeito às suas carreiras no ensino superior. O treinamento pedagógico do corpo docente nas universidades africanas não está difundido, embora algumas instituições tenham tentado introduzi-lo. 
 
Finalmente, todos os estudos ressaltam a importância de fortes conexões entre a indústria e a universidade. Tais conexões podem assumir diferentes formas: envolver a indústria no sentido de sugerir na reforma do currículo; convite a representantes da indústria para servirem no conselho da faculdade de engenharia ou até mesmo nos órgãos administrativos mais avançados da instituição; e usar profissionais do comércio e da indústria como professores adjuntos. Talvez o papel mais importante da indústria seja fornecer treinamento prático para os estudantes em dois estágios diferentes: durante o curso, na forma de estágios de formação industrial, que expõe os estudantes ao mundo do trabalho e subsequentemente facilita suas colocações no mercado e na conclusão do curso, no sentido de atender a necessidade necessárias dos requisitos de registro profissional. Várias universidades na África têm infelizmente abandonado os estágios da área industrial durante o curso devido à dificuldade na colocação do número cada vez mais crescente de estudantes ¬— o que faz com que os estudantes adquiram treinamento no mercado de trabalho depois da graduação.
 
Potencial do desenvolvimento industrial
A África encontra-se em uma encruzilhada em sua trajetória de desenvolvimento. São amplamente reconhecidos que sua população jovem e os abundantes recursos naturais são aspectos fundamentais que precisam ser completamente explorados. Ensino e formação, especialmente em engenharia e tecnologia são ferramentas necessárias para que o continente consiga desbloquear seu potencial.
 
A engenharia é provavelmente uma área que requer maior atenção, pois fornece pessoal altamente capacitado para o desenvolvimento da indústria. Contudo, se depara com um número de desafios, que precisam ser enfocados de maneira conjunta e com urgência pelos governos africanos, instituições de educação em engenharia e representantes da indústria e do setor privado.
 
Em paralelo à melhoria da qualidade da educação em engenharia e treinamento, há uma necessidade de criar um ambiente industrial dinâmico nos países africanos. Só assim a engenharia poderá prosperar e alcançar seu potencial integral. Vários países estrangeiros que têm investimentos significativos de produção e da indústria ou estão envolvidos em grandes desenvolvimentos de infraestrutura na África, podem ser extremamente úteis ao fornecer treinamento profissional a estudantes de engenharia africanos e ao darem emprego a graduados de engenharia locais sempre que possível; em resumo, através da capacitação de engenheiros africanos e realização da transferência de tecnologia, vitais para o desenvolvimento industrial e econômico da África. 
 
Em parte, esta é uma situação “da galinha e do ovo”, pois o desenvolvimento industrial só poderá acontecer quando existir um pool de mão de obra técnica treinada e o treinamento de pessoal técnico depende da capacidade de absorção da indústria. Uma avaliação nacional tanto da capacidade de engenharia como das necessidades nos países africanos podem ser de grande utilidade para este fim.
 
Este texto foi traduzido e revisado sob a coordenação de
Sergio Azevedo Pereira
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