27/07/2015

International Higher Education | 80 | Especial 20 anos

Alguns desafios não pecuniários das universidades de pesquisa

Henry Rosovsky
Professor emérito da Geyser University e Ex-Reitor da Faculdade de Artes e Ciências, Harvard University. E-mail: henry_rosovsky@harvard.edu
Considerando as questões limitadas às universidades de pesquisa, fica cada vez mais claro que o ensino superior não é sustentável sem as instituições que enfatizam a pesquisa, programas de graduação e pós - graduação e as escolas profissionais, de artes e ciências.
 
Mais que qualquer coisa, a qualidade das universidades de pesquisa depende de dois fatores estreitamente relacionados: liberdade acadêmica e governança compartilhada, uma sugestão feita por mim nestas páginas, bem recentemente. Como são selecionados os líderes de universidades, corpo docente e estudantes? O governo impõe limites sobre certos tipos de pontos de vistas acadêmicos ou de formação? Quem tem voz determinante com relação aos currículos e os rumos das pesquisas? Na China, o partido comunista condena a influencia ocidental excessiva no ensino e na pesquisa; em boa parte do mundo árabe, os fundamentalistas religiosos impedem as mulheres de contribuírem com seus talentos para sociedade; nos Estados Unidos podem ser legislaturas e ocasionalmente financiadores que tentam contornar as prioridades, desenvolvidas internamente e em bases acadêmicas, etc. Nunca vi uma universidade de pesquisa de primeira linha que não goze de liberdade acadêmica ou que não tenha uma forma de governança compartilhada.
 
É preciso que fique claro que não estou de modo algum a insinuar que todas as pessoas que partilham a governança devam ser de dentro da universidade; porém as vozes acadêmicas precisam ser ouvidas e consideradas. De igual modo, deve ser enfocado que liberdade acadêmica — a liberdade de professores de ensinar, estudar, e buscar o conhecimento sem interferências insensatas não é a mesma coisa que liberdade politica, embora sejam conceitos idênticos. Os desafios sempre presentes são óbvios.
 
Vinte anos não é um período muito longo, e pode-se presumir que o clima intelectual não passará por mudanças abruptas. Com isso, temos a introdução de outro desafio previsível: profissionalismo e /ou antiintelectualismo. Nos Estados Unidos, e em outros lugares, refiro-me à ideia de que o aprendizado por si só é de certo modo uma atividade frívola, um luxo, talvez não merecedor de apoio. Da perspectiva do estudante, o objetivo da educação é trabalho e carreira e é desta forma que os currículos são geralmente estruturados—contabilidade: Sim; ciências da computação: Claro que sim; Shakespeare: apenas se existir tempo livre disponível para tal. Da perspectiva do estado, o que importa “são os recursos humanos que possam atender as necessidades de mão de obra.” A ciência básica precisa de suporte, pois o estudo de biologia poderá levar à cura de alguma doença, em especial as doenças que afligem os financiadores. Pode haver alguma verdade em todas essas propostas, mas por que isso então implica que sociologia não é útil e que humanidades não carecem de apoio? 
 
Eu estou, é claro, familiarizado com os desafios mais comuns do ensino superior: problemas ou perturbações causadas pela tecnologia, cursos abertos online maciços de alto custo, o que torna a educação de período integral ou em regime de internato uma indulgência inútil, entre outros aspectos. Não questiono suas grandes importâncias, mas acrescento um aprendizado desinteressado para alunos do primeiro ciclo do ensino superior, o que chamaríamos de educação liberal, pois esta é raramente mencionada. Mesmo assim, progresso intelectual fundamental tem sido mais frequentemente iniciado com pesquisadores desinteressados, na tentativa de resolver um problema, por ser inovador e não ter sido realizado anteriormente. Nas ciências sociais e humanidades onde os problemas são raramente resolvidos de forma definitiva, cada geração de estudantes e professores precisa de suas próprias reinterpretações dos grandes questionamentos feitos por esses campos de estudos e investigações. Estas iniciativas são a essência intelectual das universidades de pesquisa.
 
Este texto foi traduzido e revisado sob a coordenação de
Sergio Azevedo Pereira
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