13/07/2015

International Higher Education | 80 | Especial 20 anos

A universidade internacional é o futuro para o ensino superior?

Hans de Wit
Diretor do Centro para a Internacionalização do Ensino Superior da Università Cattolica del Sacro Cuore em Milão, Itália e professor de Internacionalização do Ensino Superior na Universidade de Amsterdam de Ciências Aplicadas, Holanda. E-mail: J.w.m.de.wit@hva.nl
Ao longo dos últimos anos, o ensino superior internacional tem sido inundado por uma serie de novos termos, tais como cidadania global, internacionalização abrangente e universidade de classe mundial. Livros, artigos e estudos têm sido escritos sobre os mesmos; são mencionados nos rankings nacionais, regionais e globais, sendo encontrados nas declarações de missão e documentos de politica em todo o mundo. Mesmo assim, o sentido exato de tais termos não está claro, sendo apenas percepções e interpretações, não indicadores reconhecidos comumente ou conceitos definidos.
 
“A universidade internacional” parece ser o termo mais atual que se enquadra nesta categoria. Recentemente, tem aparecido na esfera dos rankings: o Times Higher Education ranking das 100 mais internacionais universidades do mundo de 2015. De igual modo, o “U-Multirank” recentemente publicou um ranking da orientação internacional de 237 universidades. A última iniciativa difere do Times Higher Education ranking, no que tange a não falar sobre a “universidade internacional” mas de orientação internacional; mesmo assim, se enquadra na tendência de tentar identificar o que uma universidade internacional é.
 
O que os dois têm em comum é que classificam e usam mais ou menos os mesmos indicadores quantitativos. O Times Higher Education usa como indicadores, o número de estudantes internacionais, de efetivos internacionais e de publicações internacionalmente de coautoria. Estes são bastante similares às quatro medidas usadas pelo U-Multirank: fortes fluxos de mobilidade de saída e entrada, elevada proporção de efetivos internacionais e doutorandos, e forte registro de publicação de pesquisa em colaboração com conselhos acadêmicos. Mas é possível definir o que é uma “universidade internacional”? De igual modo, a abordagem deles, ao usar apenas um pequeno número de indicadores quantitativos, faz sentido?
 
Se concordarmos que a internacionalização é o processo que auxilia as universidades a aumentar a qualidade do ensino, pesquisa e serviço à sociedade e que não é em si um objetivo, como então é possível definir um produto final: a universidade internacional? Quando não há um modelo padrão para como as universidades se internacionalizam, como é possível então comumente definir o que deve ser uma universidade internacional?
 
Jane Knight, em resposta a tendência, escreveu em um estudo sobre “o que é uma universidade internacional”? Em “The State of Higher Education 2014” da Organização para Cooperação Econômica e Desenvolvimento. Ela inicia dizendo que há bastante confusão com relação ao que na realidade significa para uma universidade ser internacional. Na verdade a autora afirma que o termo não é importante; importante é a abordagem ou modelo usado. Três “gerações” são identificadas de universidades internacionais: uma universidade internacionalizada com uma diversidade de parcerias internacionais, estudantes internacionais, efetivos, e atividades múltiplas de colaboração; universidades com escritórios satélites na forma de campus de extensão, centros de pesquisas, e escritórios de projeto /gestão; e mais recentemente, instituições autónomas, financiadas em parceria, ou desenvolvidas em conjunto por duas ou mais instituições parceiras de diferentes países. Porem, além do fato de que em sua tipologia não há referência com relação à dimensão da internacionalização em âmbito interno, a tipologia, em particular a primeira categoria é tão ampla que realmente não ajuda a definir uma universidade internacional. Poderá até mesmo ter um efeito contrário — isto é, universidades podem facilmente declarar que se enquadram em uma dessas categorias e assim serem internacionais. Em meu ponto de vista, poder-se-ia dizer que a primeira categoria está relacionada a universidades que são internacionalmente colaborativas, o segundo grupo são universidades internacionalmente ativas, e o terceiro, internacionalmente operacionais.  
 
Temo que cada vez mais universidades no futuro se referirão em suas declarações de missões e políticas ao fato de que são universidades internacionais, sem claramente explicar o que significam com isso, e farão uso de rankings como o Times Higher Education e U-Multirank. As universidades não devem cair na tentação de usar termos atraentes à primeira vista, porém vagos, mas priorizarem a qualidade do que estão produzindo. Contudo, como no caso de outros termos, temo que não consigamos impedir de o fazerem.
 
Este texto foi traduzido e revisado sob a coordenação de
Sergio Azevedo Pereira
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