13/07/2015

International Higher Education | 80 | Especial 20 anos

A manutenção dos recursos

Simon Marginson
Professor no Instituto de Educação, University College London, Reino Unido. E-mail: s.marginson@ioe.ac.uk
O principal desafio para o ensino superior na próxima década é mundano, porém central: a manutenção dos recursos. Por trás disso, encontra-se um problema histórico profundo, as relações entre o ensino superior e o estado-nação. 
 
Os sistemas do ensino superior moderno em todo mundo são o produto das estratégias de construção da nação por parte de governos. Os acordos de mensalidades variam nitidamente, mas em geral, até agora, o governo tem financiado a maior parte da infraestrutura e os principais custos operacionais das melhores instituições de uma maneira ou de outra. Os governos subsidiam o crescimento de acesso para novas famílias participantes e patrocina oportunidades para mobilidade social através do ensino superior. O governo é também essencial para o financiamento da pesquisa, um bem público sujeito a deficiências de mercado. Contudo, as questões agora estão mudando em muitos países. A pesquisa ainda depende do financiamento público, e os governos querem lá concentrar os recursos para maximizar competitividade nacional. Por outro lado, o ensino pode ser um bem público ou privado.
 
Com a participação no ensino superior agora em mais de 50 por cento em países com rendimentos per capita acima da média, um ponto crítico foi alcançado. O ensino superior se tornou um passaporte essencial para o trabalho de tempo integral e um status social eficaz. Tem sido cada vez mais difícil para famílias da classe média (e em alguns países, para quaisquer famílias) ficar de fora do sistema do ensino superior. Há também muitas vezes forte resistência aos aumentos de mensalidades, mas apesar disso, em seus corações as pessoas sabem que precisarão matricular seus filhos, mesmo se tiverem que pagar por conta própria por grande parte dos custos. O ciclo de reduções de financiamentos na recessão de 2008 não desencadeou um declínio na participação conforme muitos temiam: na realidade o crescimento mundial da participação nunca esteve tão forte. Embora existam alguns casos constantes de elasticidade da procura, em geral, muitos governos estão percebendo que podem cortar seus subsídios para o ensino superior e forçar os aumentos de mensalidades, sem pagar o preço político e sem reduzir a participação de longo prazo. Isso apenas significa que “ainda não vimos nada” e os financiamentos do estado diminuirão ainda mais. O que então acontece com o caráter público do ensino superior? A missão pública sempre se acomodou no financiamento do estado. Sem uma forte presença do estado é realista esperar que as instituições por si só mantivessem a qualidade e a mobilidade social? 
 
Em sistemas de elevada participação a questão muda de acesso? de acesso a que? Sendo todos os outros valores iguais, a principal mudança para os custos privados está associada com a estratificação crescente da qualidade dos serviços, e maior desigualdade de oportunidade, com a classe média alta concentrada nas principais instituições. Alguns diriam que já estamos lá, mas o ponto mais importante é que à medida que o estado vira as costas, a qualidade do ensino público de massa entra em colapso e não mais poderá funcionar como um trampolim para mobilidade. As instituições privadas para fins lucrativos têm baixo índice de conclusão e falta às suas credenciais vigor nos mercados de trabalho. Nos dois terços dos países, as desigualdades econômicas estão crescendo. Se o ensino superior piorar a estratificação social e bloquear a capacitação social, o mesmo terá perdido suas bases morais no bem comum, tornando-se um obstáculo a ser removido. É este o caminho que vamos seguir?
 
Este texto foi traduzido e revisado sob a coordenação de
Sergio Azevedo Pereira
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