23/07/2014

International Higher Education

A febre do inglês na China chegou a uma encruzilhada

Wang e Li Xiaoyang Yangyang
Wang Xiaoyang é professor associado e diretor do Higher Education Research Institute, Universidade Tsinghua, Pequim, China. E-mail: wangxy@tsinghua.edu.cn. Li Yangyang é pós-graduando no mesmo instituto.
Recentemente, várias províncias da China propuseram uma iniciativa para a reforma do exame nacional de admissão à faculdade (gaokao) – reduzindo a importância do papel da língua inglesa no exame como um dos objetivos. Esse movimento despertou subsequentemente extenso debate público, tanto com opiniões de apoio como contrárias. Alguns defensores argumentam que o ensino e o aprendizado do inglês nas escolas primárias e secundárias demandam muito tempo dos estudantes, diminuindo dessa forma o tempo gasto com a língua chinesa, concordando, consequentemente, com a redução da ênfase do inglês no gaokao. Outros argumentam que o inglês ainda é importante para os estudantes lerem livros científicos e revistas especializadas ocidentais e participarem de atividades econômicas internacionais e intercâmbios. Assim, se opõem à redução da pontuação dessa língua no gaokao. A província de Jiangsu foi a primeira a declarar a retirada do teste de inglês do gaokao. O teste de inglês será dado duas vezes ao ano e sua pontuação será na forma de notas por letras. Pequim também já pediu avaliações públicas sobre o seu plano de reforma, o qual propõe que a marca completa do teste de inglês seja reduzida de 150 para 100 pontos. A do teste de chinês será aumentada de 150 para 180 pontos. Por que a pontuação do inglês cai, enquanto a pontuação do chinês sobe? A “febre do inglês” na China chegou a um divisor de águas?
 
Por que a reforma do Gaokao começa com inglês?
Quanto ao fato de a educação da língua inglesa na China ser demorada e de baixa eficiência, a reforma do exame de inglês pode ser facilmente compreendida e apoiada tanto pelas pessoas em geral como pelos educadores. A educação do inglês na China está se tornando orientada para o teste, e necessita urgentemente de reforma. Os estudantes chineses têm investido a maior parte do tempo e esforços em aprender inglês; entretanto, isso não produziu resultados positivos. Muitos estudantes vêm aprendendo inglês há anos, memorizando constantemente palavras e fazendo exercícios, mas até agora só conseguiram aprender o chamado “inglês mal falado”.
 
Neste momento, bem poucos alunos podem lidar com a comunicação intercultural de uma forma fluente e concisa. Um dos objetivos da reforma do gaokao em Pequim é diluir a função de seleção do teste de inglês e restaurar sua função como ferramenta de comunicação. Consequentemente, como revelado no plano de reforma, Pequim decidiu aumentar a proporção da compreensão oral no texto de inglês no gaokao; e o conteúdo do teste será limitado ao conhecimento e capacidades básicas.
 
Outra questão importante que merece a nossa atenção é a atitude do governo para entregar o poder de organizar o exame por terceiros. Se o plano de reforma for implementado no nível nacional, a parte de inglês do gaokao será patrocinada por instituições sociais como o Educational Testing Service, dos Estados Unidos, duas vezes por ano, em 2016. Os alunos poderão em seguida participar até seis vezes do exame num período de três anos do ensino médio, o que reduz a pressão de fazer o exame e, felizmente, levará os alunos a aprender inglês para uso comunicativo e não apenas puramente para obter uma pontuação mais elevada em um exame.
 
Será que a importância do inglês cai enquanto aumenta a da língua chinesa?
Ao longo dos anos, os educadores chineses têm se preocupado que o inglês tenha demasiada importância vinculada à educação e que as pessoas estejam às vezes negligenciando a importância de estudar a língua chinesa. Diante dessa preocupação, juntamente com a diminuição da pontuação do exame de inglês, a reforma do gaokao em Pequim tem o escopo de aumentar a pontuação da língua chinesa por volta de 30 pontos, para enfatizar o papel fundamental do chinês como língua materna e tema básico central. A grande atenção dada à língua e cultura chinesas pelo formulador de política está evidentemente expresso na reforma. Comparado com o inglês, exige-se mais que os professores orientem os alunos a apreciar o encanto da cultura chinesa, visto que estudantes e pais têm se dedicado mais a aprender inglês do que chinês. Como o gaokao é o guia do ensino primário e secundário, os formuladores de políticas públicas o usam para orientar o ensino e a aprendizagem. Acreditamos que pela conciliação das influências do inglês e do chinês, estudantes e professores podem ser orientados a focar mais na aprendizagem do chinês em grande medida.
 
A “febre do inglês” em um divisor de águas na China
A reforma a respeito da língua inglesa no gaokao, em certa medida, também implica que a “febre do inglês” chegou a um divisor de águas na China. Desde que o gaokao foi restaurado em fins de 1970, a importância da pontuação do inglês foi gradualmente elevada a partir de 30, 100 e 150 pontos – tornando-se um dos três temas centrais, juntamente com matemática e chinês. Consequentemente, uma onda de “febre de inglês” varreu a nação e o ensino do idioma tornou-se uma grande indústria. Assim, a China tem a maior população de língua inglesa do mundo.
 
Nos últimos anos, com a maior intensificação da abrangente força nacional, a China aumentou as atividades de comércio com as nações ao redor do mundo. Com o desenvolvimento da nação há mais estudantes de todo o mundo que optam por aprender chinês, incluindo as filhas do presidente Obama e a neta do vice-presidente, Joe Biden. Após uma recente visita à China, o primeiro ministro britânico David Cameron ressaltou que as escolas do Reino Unido não devem ensinar as crianças tanto francês e alemão, mas devem se concentrar na língua chinesa. Para conciliar essa necessidade, fortalecer o intercâmbio cultural com países estrangeiros e tentar propagar a língua chinesa tornou-se uma questão cada vez mais premente. A “febre chinesa” no exterior também recomenda às autoridades de educação a reflexão e ajuste das políticas de linguagem, educação e cultura, de modo a melhorar a educação da língua e da cultura chinesa e, até certo ponto, resfriar o excesso da “febre do inglês” em casa.