13/07/2015

International Higher Education | 80 | Especial 20 anos

A Classificação Carnegie do ensino superior americano: mais e menos do que aquilo que aparenta

Philip G. Altbach
Professor pesquisador do Centro para o Ensino Superior Internacional do Boston College. E-mail: altbach@bc.edu
A Fundação Lumina e o Centro da Universidade de Indiana para a Educação Pós-Secundária assumirá a importante Classificação Carnegie de Instituições do Ensino Superior da Fundação Carnegie para o Avanço do Ensino. A Lumina anunciou que seu perfil de Qualificações de diploma informará a edição de 2015 da classificação. Este desenvolvimento está ainda a um passo de distância do intento original da classificação de fornecer uma categorização objetiva e de fácil compreensão das instituições pós-secundárias americanas. 
 
Em anos recentes, a Fundação Carnegie tornou suas categorias mais complexas: em parte para atender as orientações de politicas especificas da fundação na época, e para refletir a crescente complexidade das instituições do ensino superior. Como resultado, a classificação se tornou menos útil como uma forma objetiva e precisa e ao mesmo tempo razoavelmente fácil de compreender e moldar o sistema, e os papeis de mais de 4,500 instituições pós-secundárias individuais. Entre as grandes vantagens da classificação original estava sua simplicidade e sua objetividade, e o fato da mesma não classificar as instituições, mas inseri-las em categorias reconhecíveis. Diferente do U.S. News and World Report e outros rankings, a Classificação do Carnegie não usou iniciativas de reputação, solicitando a acadêmicos e administradores a classificarem faculdades e universidades concorrentes.
 
Não está claro como os novos patrocinadores da classificação mudarão sua nova orientação, e seu novo diretor diz que a versão de 2015 não será fundamentalmente alterada. Mesmo assim, dada a forte ênfase da Lumina em acesso, equidade e conclusão de curso, bem como a concepção de uma nova estrutura de credenciamento — objetivos altamente louváveis naturalmente — é provável que a classificação em longo prazo seja modificada para estar alinhada com a agenda de política da Lumina, como foi sutilmente alterada nos últimos anos da Carnegie.
 
A Classificação original da Carnegie contribuiu imensamente para esclarecer o papel das instituições pós-secundárias e tornou possível para os formadores de políticas, assim como para os indivíduos nos Estados Unidos e no exterior compreenderem basicamente o cenário do ensino superior americano como um todo e enxergar onde se enquadra cada instituição no mesmo! A classificação foi também bastante útil internacionalmente — pois forneceu o mapa para os muitos tipos de instituições da América. Uma instituição estrangeira interessada em trabalhar com uma universidade de pesquisa, faculdade comunitária, ou uma escola de teatro, poderia facilmente localizar um parceiro ideal. Assim, estamos prestes a perder este recurso valioso.
 
A perspectiva histórica
A classificação data de 1973 quando o lendário Clack Kerr, tendo concebido o plano diretor da Califórnia uma década antes e dirigido a Comissão Carnegie em Ensino Superior, desejava adquirir uma noção do diverso cenário do ensino superior americano, em rápida expansão na época. A classificação original amplamente se assemelhava à visão de Kerr de um sistema de ensino superior diferenciado, com diferentes tipos de instituições que serviam variados objetivos, necessidades e círculos. Incluía apenas cinco categorias de instituições — concessão de doutorado, universidades abrangentes e faculdades, faculdades de artes liberais, faculdades com programas de dois anos e institutos, escolas profissionalizantes e outras instituições especializadas, juntamente com várias subcategorias.  
 
Pelo fato da classificação ter sido o primeiro esforço para categorizar o sistema, rapidamente tornou-se influenciadora — formadores de politicas valorizaram a categorização baseada em dados objetivos de instituições e os líderes acadêmicos perceberam como útil para compreender onde suas próprias instituições se enquadravam. A classificação tinha a vantagem da simplicidade e seu responsável tinha a confiança dos outros de ser neutro. Embora a classificação não fosse um ranking — listava instituições por categorias em ordem alfabética, muitos vieram examiná-la em termos competitivos. Algumas universidades desejavam unir os rankings da subcategoria de “universidade de pesquisa – I”, aquelas instituições que possuíam os maiores orçamentos de pesquisa, ofereciam a maioria dos títulos de doutorado — se rejubilavam quando suas instituições eram listadas naquela categoria. Assim como a maioria das mais seletas “faculdades de artes liberais – I,” e muitos queriam se juntar àquele grupo. Ao longo do tempo, a classificação se tornou uma espécie de iniciativa informal, se não de ranking, pelo menos do status acadêmico. 
 
Irregularidade e mudança
As categorias de classificação e metodologia permaneceram bastante estáveis ao longo de várias décadas de marcante transformação no ensino superior americano. Em 2005, com a nova liderança na fundação Carnegie, grandes mudanças foram introduzidas. Líderes da fundação argumentaram que as realidades do ensino superior americano exigiam a reformulação da metodologia. É também provável que o enfoque da fundação tenha mudado e a mesma quisesse moldar a classificação para servir sua nova orientação e apoiar seus enfoques na politica. A fundação revisou a classificação básica, adicionou novas categorias como os programas de instrução, perfis de adesão de estudantes e outros. A classificação se se tornou significativamente mais complexa, e ao longo do tempo ficou menos importante. As pessoas achavam que as novas categorias confundiam os objetivos básicos da classificação e introduziram variáveis que não pareciam completamente relevantes. A simplicidade básica ficou comprometida. Por certo, as pessoas ainda fazem referência à “Pesquisa do Carnegie 1” (principais universidade de pesquisa), embora a categoria não tenha existido no léxico do Carnegie por duas décadas. 
 
É muito possível que possa existir mais irregularidade — o desejo do governo federal americano de classificar as instituições pós-secundárias por custos e índices de conclusão dos programas poderá adicionar uma dimensão extra para a organização. Mais um dilema é o papel do setor do ensino superior para fins lucrativos — estas entidades são fundamentalmente diferentes em suas orientações e gestão das instituições tradicionais sem fins lucrativos — assim como também são os novos fornecedores de diplomas online. Essas novas inserções no cenário do ensino superior devem ser incluídas na classificação? Estes elementos contribuirão para dinâmica da classificação — “uma ideia ruim”.
 
Outro ponto importante
É provável que o próximo período veja a maior mudança na história da classificação — e se declarações recentes de novos patrocinadores forem indicadoras do futuro, é provável que a transformação seja tamanha a ponto de deixá-la irreconhecível e essencialmente destruída em termos da versão original de Clark Kerr que é aquela de fornecer uma classificação analítica objetiva e simples das instituições acadêmicas americanas. As várias décadas passadas têm visto a classificação moldada para atender os objetivos da politica dos patrocinadores — a Fundação Carnegie para o Avanço do Ensino. O novo patrocinador, a Fundação Lumina, sem dúvida moldará a classificação para se adequar às suas necessidades e adiantar sua agenda — e o resultado é incerto no tocante a ser relevante no que diz respeito ao objetivo original da classificação.
 
O que é realmente necessário
É surpreendente que, nas quatro décadas desde a conceitualização de Clark Kerr da classificação Carnegie, ninguém tenha dado um passo à frente para fornecer um guia abrangente e razoavelmente objetivo e claro para as mais de 4,500 instituições pós-secundárias nos Estados Unidos. Ressuscitar o objetivo básico e organização da Classificação Carnegie original de Kerr não é uma ciência inacessível, nem também seria extraordinariamente caro.  
 
É verdade que a educação pós-secundária tenha se tornado mais complexa. Como alguém lidaria com o setor para fins lucrativos — provavelmente inserindo uma categoria especial para os mesmos. Muitas faculdades comunitárias agora oferecem programas de bacharelado de quarto anos, contudo seus objetivos básicos e organização essencialmente não mudaram. Há um grande número de escolas especializadas e muitas faculdades e universidades têm expandido e diversificado seus programas e outras ofertas. Tecnologia tem até certo ponto se tornado parte dos programas de ensino de instituições pós-secundárias — e a revolução dos Cursos Online Abertos e Massivos, do inglês Massive Open Online Course (MOOC), que continua a se desenvolver. A produtividade da pesquisa cresceu dramaticamente, e a pesquisa é documentada em mais de uma maneira. A propriedade intelectual de todos os tipos tem se tornado mais central para o empreendimento acadêmico — pelo menos no setor da pesquisa universitária. 
 
Mesmo assim, os elementos básicos da classificação original — aqueles que ajudam a determinar os principais objetivos e funções das instituições pós-secundárias — permanecem de modo geral inalterados e de certa maneira um pouco complicados de serem descritos. As principais métricas são suficientemente claras:
 
- Matrículas de estudantes
- Diplomas concedidos
- Tipos de formações oferecidas
- Número de faculdade, período integral e meio período.
- Receita proveniente de pesquisa e propriedade intelectual
- Produtividade de pesquisa
- Internacionalização medida pela mobilidade estudantil.
 
Algumas mais poderão ser inseridas — porém, mais uma vez, a simplicidade é a palavra de ordem.
 
Os tipos de instituições — as 6 principais e 8 maiores subcategorias —parecem certas. Estas poderão ser expandidas de certo modo a acomodar o crescimento em complexidade e diversidade do sistema. Iterações posteriores confusamente expandiram as categorias, em parte para refletir a politica e orientações filosóficas da fundação. O objetivo básico da classificação será mais bem atendido se for mantida da maneira mais simples e direta possível a tipologia institucional.
 
Embora esteja claro que tais métricas não forneçam uma medida completa e sofisticada de cada instituição — e requeiram definições adicionais — fornecerão a informação básica que tornará a categorização razoável possível. Falta a elas as orientações politicas e filosóficas que se introduziu na Classificação Carnegie em anos recentes, e que retorna o empreendimento ao seu objetivo original — descrevendo a riqueza, diversidade, e complexidade do cenário do ensino superior americano.
 
Este texto foi traduzido e revisado sob a coordenação de
Sergio Azevedo Pereira
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