13/05/2015

Profissão acadêmica em mutação

Inovação não deve dominar discussão sobre universidade, defende diretor científico da Fapesp

Carlos Henrique de Brito Cruz participou do seminário internacional “A profissão acadêmica e os desafios da inovação: a experiência internacional nas áreas de engenharia, tecnologias, matemática e ciências”, na Unicamp.

Patrícia Santos, bolsista do Labjor-Unicamp
 
USP, Unesp e Unicamp obtêm cerca de 5% de seus recursos de contratos com a indústria. Se colocadas entre as 20 universidades americanas com maior montante de receitas provenientes da indústria, a Unicamp estaria em 11ª posição, a Unesp em 14ª e a USP em 16ª. Os dados, de 2012, foram apresentados por Carlos Henrique de Brito Cruz, diretor científico da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) no seminário internacional “A profissão acadêmica e os desafios da inovação: a experiência internacional nas áreas de engenharia, tecnologias, matemática e ciências”, organizado pelo Fórum Pensamento Estratégico, Laboratório de Estudos sobre Ensino Superior e Departamento de Política Científica e Tecnológica da Unicamp e pelo Núcleo de Pesquisas em Políticas Públicas da USP.
 
Segundo Brito, o tema da inovação não deve dominar a discussão sobre universidade e sobre pesquisa. “Não se pode perder de vista que a inovação deve ser relacionada tanto ao desenvolvimento econômico quanto ao desenvolvimento social. Às vezes essas funções funcionam juntas, às vezes não”, disse. A importância das universidades é, sobretudo, formar estudantes e promover um estoque de conhecimento em todos os campos, que muitas vezes não terá aplicação imediata.
 
Ulrich Teichler, da Universidade Kassel, na Alemanha, destacou a importância da universidade como espaço de formação e trabalho intelectual, que nem sempre tem impacto econômico. E ressaltou que as universidades nos países emergentes correm o risco de perder esse direcionamento, sendo substituídas pelas “universidades do sucesso econômico”, um fenômeno perigoso que já vem acontecendo na Ásia, segundo Teichler.
 
Jorge Balán, professor da Universidade de Columbia, nos EUA, indicou que a pesquisa acadêmica é responsável pela maior parte da produção científica e a menor parte das patentes, e isso é um fenômeno global. Com 8% da população mundial, a América Latina produz por volta de 5% das pesquisas citáveis (indexadas no SCI) – fatia que era aproximadamente 1,5% há 25 anos. Já as patentes da região correspondem a menos de 1% do total registrado apenas nos EUA. A posição latino-americana, no entanto, deve levar em conta a maturidade da indústria, não apenas o desenvolvimento de pesquisa.
 
Na indústria asiática, pequenas modificações tecnológicas geram inúmeras patentes, que nem sempre vieram de grandes projetos de pesquisa, mas impactam no índice de inovação dos países. “Nós não gastamos pouco em pesquisa acadêmica, gastamos menos em pesquisa e desenvolvimento e isso tem a ver mais com as políticas para a indústria do que com as universidades”, explicou Balán.
 
O professor enfatizou que o nível do desenvolvimento tecnológico de um país impõe limites à contribuição de universidades e centros de pesquisa. Essas instituições não devem tentar desenvolver, por si próprias, a capacidade de transferência entre pesquisa acadêmica e aplicada, renunciando à sua qualidade educacional, que é sua função principal.
 
O seminário, com representantes de 18 países, ocorreu entre 22 e 24 de abril no Instituto de Estudos da Linguagem (IEL) da Unicamp e faz parte dos trabalhos da rede internacional de pesquisa Changing Academic Profession (CAP), criada em 2005.