23/04/2012

The Daily Telegraph

Universidades britânicas desistem de oferecer cursos de homeopatia

Em 2005, The Lancet publicou editorial crítico e uma revisão de 110 estudos indicando que benefícios da prática não são superiores aos de placebo

A partir de 2012, não será mais possível obter um diploma em homeopatia emitido por uma universidade britânica, informou no início do ano o jornal inglês The Daily Telegraph.
 
"O número de graduações e pós-graduações em assuntos como reflexologia, aromaterapia, acupuntura e homeopatia caiu pela metade desde 2007", prossegue o diário. A maioria dos cursos remanescentes, acrescenta, encontra-se sob revisão.
 
Um exemplo citado é o da Universidade de Westminster, que há cinco anos oferecia 14 opções de bacharelado em sete modalidades da chamada medicina complementar e alternativa. Em 2012, os estudantes terão apenas duas opções: acupuntura e herbal.
 
Número de graduações e pós-graduações em áreas como reflexologia e aromaterapia caiu pela metade desde 2007 O serviço noticioso alemão Deutsche Welle, que também deu destaque à notícia, diz que até poucos anos atrás havia 45 graduações possíveis, em todo o Reino Unido, nas áreas ditas "alternativas" da medicina. Em 1992, haviam sido criadas pelo governo britânico 66 universidades, todas habilitadas a oferecer graduações em medicina alternativa.
 
O declínio, de acordo com o Telegraph e com o noticioso alemão, foi causado pela perda de interesse dos jovens em estudar esses assuntos.
"Certos cursos não estão recrutando muito bem", disse à Deutsche Welle o diretor clínico da Escola de Saúde Integrada de Westminster, David Peters. "Não se pode dar um curso tão caro quanto os nossos quando só há dez alunos por ano", explicou.
 
A mudança no público, por sua vez, parece ter sido provocada pelas críticas constantes lançadas às práticas médicas alternativas por grupos racionalistas, que se opõem a tratamentos que não tenham sido adequadamente testados por meio de ensaios científicos.
 
O embate é antigo. Em 2005, o periódico médico The Lancet publicou um provocativo editorial intitulado "O Fim da Homeopatia", afirmando que era hora de os médicos "serem honestos com seus pacientes" sobre a "ausência de benefício" da prática.
 
O editorial acompanhava uma revisão de 110 estudos sobre homeopatia que concluía que seus benefícios não eram superiores aos de um placebo. Já em 2010, um comitê do Parlamento Britânico recomendou o fim do financiamento de tratamentos homeopáticos pelo sistema público de saúde. Parlamentares na Alemanha também emitiram um apelo semelhante ao setor público do país.
 
David Colquhoun, professor de farmacologia do University College London, considera os cursos de medicina alternativa "desonestos". "Eles ensinam coisas que não são verdade, e coisas que podem ser perigosas para os pacientes". disse à Deustche Welle. David Peters, no entanto, defende a manutenção dos cursos: "Se queremos ter praticantes de medicina complementar que sejam seguros, competentes e falem a língua da medicina, por que não deveríamos educá-los em universidades?", questionou.
 
capa da edição impressa nº 5 | abril de 2012