14/10/2011

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Sentimento anti-imigração afasta estudantes asiáticos da Austrália

Burocracia e episódios violentos fazem emissão de vistos recuar 20%, com queda de 63% nos pedidos de indianos e de 24% nos de chineses

Facilidades para atração de estudantes acabaram estimulando o surgimento de faculdades de fachada, que funcionavam mais como esquemas para facilitar a entrada de imigrantes A Austrália considera o ensino superior seu terceiro maior produto de exportação: instituições do país têm longa tradição em atrair estudantes de países asiáticos de economia forte, como Índia, China e Cingapura, que acabaram tornando-se não só uma importante fonte de recursos financeiros para as instituições durante os cursos, mas também depois, como "embaixadores informais" da Austrália e de suas escolas no exterior.
 
Dados recentes, no entanto, mostram que a "exportação" da educação perdeu força no país. Os dados mais recentes sobre a emissão de vistos de estudante para estrangeiros na Austrália revelam uma queda de 20% no total de solicitações em relação ao ano fiscal anterior, com uma queda de 63% nos pedidos da Índia e de 24% nos da China, informa o Chronicle of Higher Education.
 
Especialistas ouvidos pela publicação atribuem a queda a um aumento do sentimento contra os imigrantes no país, refletido em mudanças na política australiana para concessão de vistos – de acordo com o Chronicle, a concessão de um visto de estudante na Austrália pode levar até três meses, o que põe o país atrás de concorrentes em potencial no mundo de língua inglesa, como Estados Unidos e Canadá. Além da burocracia, há a violência. Ataques contra estudantes indianos em 2009, na cidade de Melbourne, afetaram a imagem do país.
 
Mesmo com o recuo de matrículas, as anuidades de estrangeiros representaram 18% da receita das universidades australianas em 2010 Além disso, informa o Chronicle, as grandes facilidades para atração de estudantes que exsitiram até alguns anos atrás acabaram estimulando o surgimento de uma série de instituições de qualidade discutível, que funcionavam mais como esquemas para facilitar a entrada de imigrantes no país do que realmente como faculdades. Além de ter sido o ano das agressões a estudantes estrangeiros, 2009 também viu o início de uma ação mais firme de repressão contra esses cursos de fachada. A fiscalização acabou manchando a reputação de diversas instituições.
 
Além disso, em 2010 o governo australiano aumentou os pré-requisitos financeiros para candidatos estrangeiros estudarem no país.
 
Crise mundial
Um estudo encomendado pela Universities Australia, grupo que representa as 39 universidades do país, revelou que a queda na procura por instituições australianas por parte de estudantes asiáticos não foi causada pela crise econômica internacional, o que deixa em aberto a possibilidade de a redução ter sido causada pelo fato de as famílias estrangeiras simplesmente terem concluído que seus filhos não eram mais bem-vindos em solo australiano.
 
Mesmo assim, em 2010 as anuidades de estrangeiros representaram 18% da receita das universidades australianas.
 
A reação já se faz sentir nas feiras universitárias realizadas em países como Hong Kong, Malásia e Cingapura. Já se foram os tempos, diz ao Chronicle o pró-reitor de assuntos internacionais da Universidade Griffith, Christopher Madden, em que as instituições australianas podiam simplesmente montar estandes nesses eventos e esperar que os candidatos aparecessem por conta própria.
 
Lições
Da experiência australiana, o Chronicle retira quatro lições. A primeira, e principal, é que se deve buscar diversidade no processo de internacionalização das universidades: uma instituição que tenha um contato forte com apenas um país estrangeiro corre o risco de ver alguns de seus cursos – os da área de interesse da nação de origem dos alunos – superlotados, e de ver a "fonte" estrangeira secar abruptamente.
 
As outras lições são a construção de boas relações com instituições de ensino médio de boa reputação nos países de onde se pretende atrair estudantes, e com agentes de viagem de confiança; a manutenção de uma boa relação com os ex-alunos que retornam a seus países de origem; e a capacidade de oferecer segurança aos estrangeiros.