07/08/2013

Avaliação

Professor da Unicamp opina sobre decisão da USP de cooperar com o Enade: "as melhores universidades do País não devem se omitir"

Mas a participação estudantil não garante que os resultados possam ser considerados válidos para a avaliação de cursos e instituições, diz Renato Pedrosa

Renato H.L. Pedrosa
A Folha de S.Paulo noticiou hoje, em reportagem de Fábio Takahashi, que a Universidade de São Paulo decidiu aderir parcialmente à prova do Enade – a avaliação nacional do ensino superior. A USP era a única instituição fora da avaliação. A adesão ("cooperação técnica") é parcial porque "os resultados de seus cursos não serão divulgados nos próximos três anos, e os alunos poderão faltar ao exame".
 
Essa participação da USP segue a mesma lógica que orientou a decisão da Unicamp em participar do sistema, em 2010: as melhores universidades do País não devem se omitir em contribuir para que o sistema como um todo tenha referências de alta qualidade para comparações. No entanto, cumpre observar que os dados originados pela participação da Unicamp nas últimas edições do Enade, assim como os dados de outras universidades públicas, federais e estaduais, indicam que a participação estudantil não garante que os resultados possam ser considerados válidos para a avaliação de cursos e instituições. Por exemplo, na edição de 2011, quando o Enem passou a ser a referência para os estudantes ingressantes nos cursos, para o cálculo do Índice Diferencial de Desempenho (IDD, uma estimativa do valor adicionado ao longo do curso), fica claro que o nível de boicote é altíssimo.
 
A evidência vem da seguinte constatação. Nos 30 cursos avaliados, nos quais a Unicamp tinha alunos concluintes, em 14 os seus ingressantes eram os que obtiveram a maior média no Enem; em outros 8, eram os estudantes com a segunda maior média entre ingressantes; em nenhum dos 30 avaliados, os estudantes dos cursos correspondentes da Unicamp se classificaram além da 5ª posição entre os ingressantes pela nota média do Enem; finalmente, a Unicamp foi a universidade com a maior média geral dos estudantes ingressantes no Enem (as instituições com médias maiores não são universidades, como o ITA e o IME, que têm poucos cursos, todos de engenharia, no grupo avaliado). No entanto, em nenhum dos cursos avaliados os concluintes se colocaram entre os mais bem classificados. De fato, em vários deles a Unicamp está entre os últimos da lista, pela nota dos concluintes, em muitos casos com médias abaixo do que se esperaria pelo "chute" nas questões. Sabe-se que houve boicote, em larga escala, a partir dos relatórios dos coordenadores de cursos. O mesmo se verificou em vários cursos da Unesp, da Unifesp, UFRJ, UFMG etc.
 
Concluindo esse breve comentário, é importante que as universidades que têm os melhores cursos (e alunos, como é o caso da USP, também) participem do Enade. Mas o sistema como um todo, para ter sua validade verificada para os fins que o MEC estabeleceu (regulação individual de cursos e instituições), ainda precisa passar por avaliações e alterações em sua estrutura e aplicação.