14/10/2011

Barreira idiomática

Língua portuguesa reduz visibilidade da produção científica nacional

Um artigo brasileiro publicado em português recebe, em média, 0,45 citação; redigido em inglês, 0,85

A produção científica brasileira vem crescendo em quantidade nos últimos anos, mas continua de pouca relevância dentro do cenário da ciência mundial, e parte da culpa pode ser da insistência dos pesquisadores em publicar seus trabalhos exclusivamente em português.
 
O Brasil é, atualmente, o 13º país que mais publica artigos científicos – tendo galgado duas posições, nesse ranking, em apenas um ano, de 2007 para 2008 – e responde por quase 3% da produção científica mundial.
 
No entanto, a qualidade dessa produção – medida pelo número de citações que um artigo gera, nos trabalhos de outros cientistas, após vir a público – continua abaixo da média mundial.
 
Brasil, o 13º país que mais publica artigos científicos, responde por quase 3% da produção científica mundial Há diversas explicações propostas para o fenômeno, como uma suposta falta de ousadia do pesquisador nacional em correr riscos e desbravar novas áreas do conhecimento, ou ainda uma possível má qualidade objetiva de muitos trabalhos – em termos do levantamento dos dados, formulação da hipótese, análise dos dados – mas a barreira da língua foi especificamente citada em evento da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) realizado setembro.
 
"Precisamos pensar quais artigos devemos publicar só em português, só em inglês e quais devem estar nas duas línguas", disse no evento Abel Packer, coordenador operacional do SciELO, biblioteca online que reúne revistas científicas de acesso livre, citado em reportagem do jornal Folha de S.Paulo.
 
De acordo com os dados apresentados por Packer, 33% dos artigos científicos assinados por brasileiros saem em revistas nacionais, e apenas 40% das revistas brasileiras oferecem conteúdo em inglês. Em comparação, no caso da China, 67% dos periódicos têm material em inglês. Além disso, um artigo brasileiro publicado em português recebe, em média, 0,45 citação. Já um artigo nacional redigido em inglês obtém, em média, 0,85 citação.
 
Simples demais
No I Colóquio Brasileiro sobre Pesquisa e Publicações Científicas de Alto Impacto, realizado em 2010 no Hospital Israelita Albert Einstein, no entanto, a explicação da barreira da língua foi considerada "a questão mais simples a ser solucionada", de acordo com relato publicado no site Com Ciência.
 
Os problemas mais profundos mencionados pelos participantes do evento vão desde a má preparação do estudante que vai tornar-se pesquisador à sobrecarga de trabalho do cientista, que se vê às voltas não só com as questões pertinentes à pesquisa, mas também com a burocracia e a falta de pessoal de apoio; e uma suposta falta de competitividade do cientista nacional, que não costuma buscar reconhecimento em grandes periódicos internacionais.