30/08/2012

Clipping

Jornal critica substituição da Prova Brasil pelo Enem no cálculo do Ideb

Leia reprodução de editorial da Folha de S.Paulo publicado em 29 de agosto

 
Numa reação apressada aos dados que indicam estagnação na qualidade do ensino médio no país, o ministro da Educação, Aloizio Mercadante (PT-SP), propôs substituir o atual método de avaliação de alunos e escolas secundárias -a Prova Brasil- pelo Enem.
 
Numa nota que vai de zero a dez, o Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica) do ensino médio, apurado com ajuda da Prova Brasil, oscilou de 3,6, em 2009, para 3,7, no ano passado. Insatisfeito com a imagem revelada, Mercadante quer trocar a câmera.
 
Segundo o ministro, a Prova Brasil usa apenas uma amostragem de cerca de 70 mil estudantes do terceiro ano desse nível de ensino para construir o indicador de desempenho. O Enem (Exame Nacional do Ensino Médio), em contrapartida, seria, diz Mercadante, "quase censitário". Ou seja, abarcaria quase todos os alunos dessa etapa.
 
Ocorre que, como qualquer estatístico sabe, é preferível uma amostra menor e mais precisa do que uma que, apesar de maior, represente mal o conjunto por avaliar.
 
É o que acontece com o Enem. Como o exame foi convertido no principal instrumento de seleção de alunos para as universidades federais, participam sobretudo os que concorrem a uma dessas vagas. Muitos estudantes com pior desempenho nem fazem a prova.
 
Essa "autosseleção" torna desprovida de sentido a comparação do ministro entre os resultados do Enem e os da Prova Brasil. Segundo Mercadante, o Enem estaria captando melhoras no ensino médio que escapam ao Ideb. Ora, parece mais provável que seja a Prova Brasil a captar o mau desempenho de alunos que se excluem do Enem.
 
Para contornar o problema seria necessário tornar o Enem obrigatório e, assim, verdadeiramente censitário. Mas a ampliação de um exame com logística complexa, que tem apresentado falhas recorrentes, consumiria milhões de reais numa aventura.
 
Não há sentido, a não ser do ponto de vista da propaganda política, em se desfazer da Prova Brasil. O mais recomendável é que Mercadante mude o foco de suas atenções -que deixe de lado a inovação estatística e passe a expor como pretende melhorar, de fato, a nota do ensino público no Brasil.