14/10/2011

Inglaterra e Índia

Inglaterra teme perder alunos de graduação; na Índia, faltam professores

Valor máximo das anuidades em instituições inglesas triplicou; nas 22 principais universidades indianas, um terço das vagas para docentes está em aberto

Escócia e País de Gales preparam-se para erguer barreiras a fim de evitar uma invasão de estudantes ingleses em busca de anuidades mais baratas Mais da metade das universidades inglesas espera sofrer uma queda, que pode variar entre 2% e 20%, no total de estudantes de graduação em 2012, quando entra em vigor a decisão do Parlamento que autorizou, em dezembro do ano passado, uma elevação do teto das anuidades cobradas pelas instituições. O valor máximo passou de pouco mais de 3 mil libras para 9 mil libras (de R$ 7.600 a R$ 23.000, aproximadamente) .
 
A estimativa da redução de matrículas foi apresentada em relatório elaborado pelo Conselho de Ensino Superior da Inglaterra, que regula a distribuição de verbas públicas para as universidades.
 
Quando a autorização de elevação do teto foi adotada, as autoridades esperavam que as anuidades médias subissem menos do que aconteceu de fato: a anuidade média estimada em dezembro era da ordem de 7.500 libras, de acordo com nota divulgada, na época, pela BBC. O valor médio real, segundo o jornal The Guardian, chegou a mais de 8.300 libras.
 
O Conselho analisou dados da previsão orçamentária das instituições, e determinou que 56% delas esperam queda no total de matrículas de graduação, com uma redução média de 2%; outras 24% esperam aumento e 20%, situação estável.
 
De acordo com o relatório, citado pelo Times Higher Education e pelo Guardian, a saúde financeira das instituições é estável, no médio prazo, mas algumas universidades terão de se esforçar mais, no futuro, para gerar receita.
 
As margens do setor, diz o documento, são "estreitas" e a "principal força financeira" concentra-se num pequeno número de instituições.
 
Especialistas esperam perda na diversidade da vida universitária dentro do Reino Unido, com os estudantes optando por permanecer em seu país de origem Barreiras
Os demais países que ocupam a ilha da Grã-Bretanha – Escócia e País de Gales – preparam-se para erguer barreiras a fim de evitar uma invasão em massa de estudantes ingleses em busca de anuidades mais razoáveis, informa o Times Higher Education. O quarto componente do Reino Unido, a Irlanda do Norte, ainda não adotou uma estratégia para enfrentar a questão.
 
Na Escócia, as universidades também passarão a cobrar uma anuidade que poderá chegar a 9 mil libras de estudantes vindos de outras partes do Reino Unido. O ensino continuará gratuito para os estudantes escoceses. No País de Gales, as anuidades também poderão subir a 9 mil libras, mas o governo subsidiará parte desse valor para os estudantes galeses.
 
Há o temor de que surja ressentimento nos campi, não apenas entre estudantes dos países do Reino Unido, mas também contra estrangeiros de outras partes da União Europeia. Uma norma da UE determina que alunos de outros países-membros tenham o mesmo tratamento dos nativos em cada integrante do Reino Unido – o que significa que um italiano, por exemplo, deve poder estudar de graça na Escócia, enquanto que seu colega inglês terá de arcar com a pesada anuidade.
 
No longo prazo, especialistas ouvidos pelo THE esperam uma perda na diversidade da vida universitária dentro do Reino Unido, com os estudantes optando por permanecer em seu país de origem.
 
O valor da educação
Em meio às repercussões do encarecimento das anuidades, pesquisa publicada pelo jornal Sunday Times ajuda a pôr em perspectiva o que o público britânico pensa do preço da educação superior: menos de um terço dos adultos do Reino Unido acredita que um grau universitário valha realmente 9 mil libras ao ano, mas 59% acham que cursos menores, de dois anos, podem ser uma saída econômica.
 
Uma das questões da pesquisa estava formulada do seguinte modo: "Quer você concorde ou não com a ideia de que o custo de um diploma universitário deva ser coberto pela cobrança de anuidades, você acha que a educação superior vale ou não 9 mil libras ao ano?"
 
Responderam "sim" 29% dos entrevsitados; 56% disseram que não e 15% declararam-se indecisos. À questão de se apoiariam um aumento na oferta de cursos mais baratos, com dois anos de duração, 59% disseram que sim, 26% que não e 15% não souberam o que responder.
 
A pesquisa, conduzida pelo instituto YouGov, ouviu 2.464 pessoas, entre os dias 18 e 19 de agosto.
 
Gasto da Índia em educação foi multiplicado por 14 nos últimos cinco anos, e em breve poderá chegar a 6% do PIB Índia
Já na Índia, onde o governo vem investindo pesadamente no financiamento da educação – de acordo com a revista Science, o gasto do setor multiplicou-se por 14 nos últimos cinco anos, e em breve poderá chegar a 6% do PIB – o problema é a falta de professores qualificados.
 
Ainda segundo a Science, no início do ano havia 3.777 posições em aberto nas 22 principais universidades do país que, juntas, oferecem 11.085 vagas para docentes. Um obstáculo citado é a dificuldade das universidades em tornar atraente a carreira de professor.
 
Uma medida que está sendo tomada para minimizar o problema é a formação de uma Rede Nacional de Conhecimento, conectando turmas de diferentes universidades por meio de fibra óptica e da internet, o que deve permitir que várias classes sejam atendidas por um mesmo professor, ainda que remotamente.
 
Autoridades indianas também estudam formas de atrair instituições estrangeiras de ensino superior ao país, na esperança de que a concorrência leve as universidades locais a melhorar as condições de atração de professores. No entanto, ainda há barreiras legais para a implantação do plano.