14/10/2011

Diploma e salário

Ensino superior eleva expectativa de renda do brasileiro em mais de 150%

Nos países da OCDE, pessoa com diploma universitário pode esperar ganhar 50% mais que alguém com ensino médio

Em meio à crise econômica internacional dos últimos anos, as pessoas com formação universitária sofreram muito menos com o desemprego O ganho, em termos de expectativa de renda, que o brasileiro tem ao completar o ensino superior é o maior de todos os países analisados no relatório "Education at a Glance", divulgado em setembro pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). Na média dos países da OCDE, uma pessoa com grau universitário pode esperar ganhar pouco mais de 50% do que alguém que só tenha completado o ensino médio. No Brasil, essa expectativa é de mais de 150%, chegando a 164% para os profissionais mais experientes, na faixa de 55 a 64 anos de idade.
 
Mas o relatório alerta para o fato de que os brasileiros que não chegam a complertar o secundário sofrem um impacto grave em suas perspectivas de renda. Seu ganho é apenas 53% do de um trabalhador com nível médio, ou 34% do de um que tenha completado um curso superior.
 
Essa disparidade é muito maior que a média da OCDE, onde uma pessoa sem um diploma de ensino médio tem uma perspectiva de renda que corresponde a 77% dos ganhos de alguém que tenha completado esse nível escolar, ou 50% da renda de um trabalhador com grau universitário.
 
O efeito da educação superior sobre a renda, no Brasil, é sentido tanto entre os homens quanto entre as mulheres, ainda que a desigualdade entre os sexos persista: um brasileiro com curso universitário pode esperar ganhar 175% mais que outro que tenha concluído apenas o ensino médio. Já uma brasileira com diploma de curso superior tem uma expectativa de renda 163% maior em relação a uma mulher que só tenha o ensino médio.
 
Educação e desemprego
O principal destaque do relatório é a constatação de que, em meio à crise econômica internacional dos últimos anos, as pessoas com formação universitária sofreram muito menos com o desemprego.
 
Proporcionalmente, o Brasil é o país que investe a maior fração de seu PIB per capita nos estudantes de ensino superior; em termos absolutos, os EUA são o país que mais gasta por aluno O levantamento cobre os países-membros da organização – EUA, nações da Europa, Turquia, Japão, Israel, Coreia do Sul, Nova Zelândia, Chile e México – além de Brasil, Índia, China, Rússia, África do Sul, Argentina, Indonésia e Arábia Saudita.
 
"Boa educação e habilidades são essenciais para melhoras as perspectivas econômicas e sociais da pessoa", diz o resumo do relatório.
 
Nos países da OCDE, a taxa média de desemprego entre os profissionais com formação superior foi de 4,4%. Já as pessoas que não haviam completado o ensino médio enfrentaram um desemprego de 11,5%.
 
Um relatório específico sobre o Brasil constatou o mesmo fenômeno no país. "Os brasileiros de 15 a 29 anos que têm mais anos de educação são os que têm menor risco de desemprego", diz o texto, destacando que a taxa de desemprego entre os formados num curso superior, dentro dessa faixa etária, é de 6,2%, ante 10,2% dos que concluíram apenas o ensino médio.
 
No Brasil, a taxa de adultos com ensino médio ou superior completo é de 30% e 11%, respectivamente. Isso fica abaixo da média da OCDE (44% têm ensino médio e 30%, superior), mas o nível de emprego nessas duas faixas – 77,4% e 85,6% – supera a média dos países da organização, que fica em 74,2% (secundário completo) e 83,6% (superior). Já entre os brasileiros que não completaram o secundário, a taxa de emprego é de 68,7%. Para este caso, a média da OCDE é de 56%.
 
106% do PIB per capita por aluno
As instituições públicas brasileiras de ensino superior tiveram um gasto médio, por aluno, equivalente a 106% do PIB per capita do país em 2008, diz o relatório. O gasto médio dos países da OCDE na educação superior é de 41% do PIB per capita. Entre os países do G-20 – grupo que inclui o Brasil – a média é de 49%. Proporcionalmente, o Brasil é o país que investe a maior fração de seu PIB per capita nos estudantes de ensino superior, entre todas as nações analisadas.
 
Em termos absolutos, no entanto, os Estados Unidos são o país que mais gasta por aluno do ensino superior: US$ 29.910, ante US$ 11.610 do Brasil e US$ 13.717 na média da OCDE. O gasto brasileiro em termos absolutos também fica abaixo da média do G-20, que é de US$ 12.785.
 
Entre 2000 e 2008 o gasto público brasileiro com ensino superior teve um salto de 48% O relatório aponta ainda que o gasto total das instituições públicas brasileiras por aluno – em todos os níveis de ensino –, naquele ano, ficou em 22% do PIB per capita, abaixo da média da OCDE (27%) e do G-20 (26%). No Brasil, apenas 3% dos estudantes estão no ensino superior, contra mais de 16% na média da OCDE.
 
A OCDE constatou, ainda que entre 2000 e 2008 o gasto público brasileiro com ensino superior teve um salto de 48%. Mesmo assim, o crescimento do financiamento do sistema não foi capaz de acompanhar o aumento no número de estudantes, que cresceu 57%. Isso levou a uma queda de 6% no gasto por estudante.