12/08/2013

revista Ensino Superior nº 10 (julho-setembro)

Aulas em inglês dividem academia na França e na Itália

Na Itália, críticos apontam discriminação contra alunos e funcionários; na França, medida é vista como "suicida" e uma forma de colonização

A Universidade Politécnica de Milão, considerada o "MIT da Itália", vem causando polêmica por sua iniciativa de transformar o inglês na principal língua falada no campus, dentro e fora das salas de aula, informa nota publicada pelo Chronicle of Higher Education. Na França, o uso da língua inglesa no meio acadêmico também gera controvérsia.
 
No caso de Milão, a reportagem do Chronicle acompanhou uma aula de inglês para funcionários e bibliotecários da universidade. Por toda a Europa, o inglês vem sendo adotado nas salas de aula das instituições de educação superior para "melhor preparar os estudantes para um mercado de trabalho global e para atrair alunos estrangeiros", escreve o periódico, complementado que "tais esforços atraem dura oposição".
 
Em maio, um tribunal regional havia bloqueado a conversão da Politécnica de Milão ao inglês, depois de um abaixo-assinado, subscrito por 234 professores – cerca de 17% do corpo docente, de 1.400 membros – condenando a mudança, por limitar a liberdade acadêmica, o acesso ao ensino e causar discriminação contra alunos e funcionários.
 
Já o reitor da Politécnica, Giovanni Azzone, diz que a mudança de idioma no campus é "parte central" de uma estratégia para preservar a proeminência da universidade. Ele diz que os jovens italianos mais brilhantes estão pensando em emigrar, por conta da crise econômica. "Ou criamos um ambiente internacional aqui que garanta a eles que conseguirão trabalhar na Itália ou em qualquer outra parte do mundo, ou estaremos reduzindo nosso público cativo", disse ele ao Chronicle.
 
França
Em uma postagem no blog do periódico, o jornalista americano Peter Gumbel, atualmente professor na Sciences Po de Paris, lamenta a polêmica causada por um dispositivo específico da ampla lei francesa de reforma do sistema de educação superior: a autorização para que parte das aulas seja ministrada em inglês. A reação, de acordo com o relato de Gumbel, tem sido "furiosa", principalmente nos meios intelectuais. Ele cita o filósofo Michel Serres, que se refere à autorização como "uma forma de colonização, sob a qual a língua da nação deixa de ser capaz de expressar todas as coisas", e outros pensadores que chamaram a proposta de "suicida".
 
Gumbel, no entanto, afirma que várias instituições francesas de primeira linha já dão aulas em inglês: ele classifica a reação como "uma ação de retaguarda contra uma revolta que já capturou partes estratégicas do terreno". Na própria Sciences Po, onde ele leciona, "cerca de um terço das aulas já é dado em inglês", embora, como o autor reconhece, "muito dessa atividade anglófona é ilegal" frente a uma lei de 1994 que determina o uso do francês em uma série de atividades de comunicação pública.