27/01/2015

International Higher Education | 77

Universidades do Chile: razões para o sucesso

Juan Ugarte
Docente convidado Luksic na Harvard University, é professor na Universidade Católica do Chile, e ex-diretor de ensino superior na Secretaria de Educação do Governo do Chile (2010–2013). E-mail: jugarte@uc.cl
O Chile se tornou a primeira nação da América do Sul a atingir a adesão na Organização para a Cooperação Econômica e Desenvolvimento. Em um amplo espectro de medidas socioeconômicas e políticas, incluindo o desempenho do ensino superior, o Chile encontra-se no topo do ranking por toda a região da América Latina. Isso acontece pelo fato dos índices de matriculas no Chile se aproximarem a 60 por cento, e quase 30 por cento da população do país de 25 a 34 anos de idade ter obtido o ensino superior, bem acima da média da região. A produção cientifica e impacto, em proporção ao tamanho da população, também posiciona o Chile na dianteira da região da América Latina. Na classificação dos rankings de 2013 como o ranking QS das Universidades da América Latina e o Ranking Acadêmico Xangai das Melhores Universidades do mundo / QS Latin American University Rankings, Shanghai Academic Ranking of World Universities nos permite concluir que o Chile tem a densidade mais elevada das “instituições de alta qualidade” na região.
 
Dois fatores ajudam a explicar o excepcional desempenho do Chile na América Latina. O primeiro deles é a natureza de seu sistema: universidades estatais e não estatais competem na mesma arena acadêmica, e ambas recebem suporte financeiro público. O segundo é a contribuição que as universidades americanas têm dado para o desenvolvimento e modernização das universidades chilenas.
 
Universidades estatais e não estatais
Desde seu nascimento como uma república independente, o Chile estabeleceu o direito constitucional de “liberdade de educação.” Em essência esta é a obrigação do estado de assegurar o direito universal de acesso e o direito dos cidadãos de escolher suas instituições de preferência. No ensino superior, este princípio foi materializado pela primeira vez através da criação da universidade estatal: a Universidade do Chile em 1842 e a seguir a universidade não estatal —a Universidade Católica em 1888. Com esta base, o sistema de ensino superior do Chile expandiu suas capacidades através de esforços de fundações estatais e privadas. Mais tarde, em 1923, o parlamento aprovou suporte financeiro público para todas estas instituições. Outras instituições como o Conselho de Reitores das Universidades Chilenas e a Comissão Nacional para Ciências e Tecnologia, foram criadas para dar suporte as atividades gerais da universidade. Pais e estudantes agora podem escolher a melhor universidade para tornar em realidade suas ambições acadêmicas, sabendo que receberão os mesmos benefícios (tais como bolsas de estudos) em qualquer uma delas. Atuando no mesmo campo, ambas as instituições estatais e não estatais competiram com fortes incentivos para atrair estudantes, docentes e recursos. Desenvolvendo-se sob tais condições, fica claro que a natureza mista do sistema de ensino superior do Chile — o único na América Latina a usar este modelo — ajuda explicar seu sucesso, pelo menos em parte.
 
A contribuição das universidades americanas
Embora as primeiras contribuições existam, a metade do século 20 viu o Chile e os Estados Unidos assinarem dois acordos que marcaram um ponto decisivo na modernização do sistema de ensino superior chileno.
 
Em 1955, sob os auspícios da Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional, a Universidade de Chicago assinou um acordo com a Faculdade de Economia da Universidade Católica do Chile, permitindo assim a uma geração de economistas fazer seus estudos de pós graduação em Chicago, criando o tão influente e conhecido grupo “Chicago Boys.” Os professores Arnold C. Harberger e Milton Friedman representaram papeis cruciais neste esforço. Friedman foi o autor da expressão “o milagre do Chile,” para denotar o impacto desta nova geração de acadêmicos na política institucional e econômica nacional. Sob o governo militar e a influência do Chicago Boys, uma nova ordem institucional foi criada, com base na privatização e na redução do papel do estado. No ensino superior, esta nova ordem resultou no domínio das instituições privadas como é visto nos dias de hoje.
 
Ao longo da próxima década, os anos 60, como parte dos esforços da “Aliança para o Progresso,” os presidentes John F. Kennedy e Eduardo Frei assinaram o “Plano Chile-Califórnia para ajudar o Chile a desenvolver áreas fundamentais como educação e agricultura. Desde 1965, com a ajuda da Fundação Ford, a Universidade do Chile tem desfrutado de importantes intercâmbios com a Universidade da Califórnia-Davis, permitindo a uma nova geração de docentes obter seus títulos de pós graduação (lá conhecidos como os “UC-Davis Boys”). Desde então estes pós graduados têm feito um grande impacto em duas áreas importantes da agricultura chilena, frutas e vinho.
 
Ao mesmo tempo, A Faculdade de Engenharia da Universidade Católica chefiada pelo Reitor Raúl Devés e Diretor Arnoldo Hax iniciaram um conjunto de reformas acadêmicas profundas. Para este esforço, tiveram a ajuda da Universidade da Califórnia – Berkeley, com financiamentos adicionais da Fundação Ford e do Banco de Desenvolvimento Interamericano. Um número significativo de acadêmicos chilenos realizou seus estudos de PhD na Universidade da Califórnia – Berkeley, e simultaneamente, vários professores de Berkeley vieram ao Chile, permanecendo por meses envolvidos no ensino, realizando pesquisas de colaboração e auxiliando as novas autoridades a desenvolver um novo currículo. Tais eventos tiveram três grandes Um novo conceito de currículo de engenharia lançado, também iniciaram posições acadêmicas de tempo integral dentro da Universidade Católica e criaram um “campus universitário,” um espaço comum para diferentes faculdades e disciplinas. Obviamente, mudanças tão tremendas tiveram impacto significativo na Universidade Católica, e se espalharam para modernizar todo o sistema universitário chileno oportunamente.
 
Após os primeiros acordos interculturais, as relações entre os Estados Unidos e o Chile continuaram e se aprofundaram. O grande número de estudantes chilenos nas universidades americanas e a qualidade da literatura cientifica compartilhada e publicada pelos docentes de ambos os países são as evidências disso. Mais recentemente renovado, o “Plano Chile-Califórnia” foi assinado em 2009, e o primeiro acordo entre o Chile e o Commonwealth de Massachusetts foi lançado em 2011. Esta última iniciativa tem dois parceiros importantes: MISTI-Chile (Massachusetts Institute of Technology) iniciaram 24 projetos de pesquisas compartilhadas; e o Harvard-Chile Innovation Initiative, escolheu 12 projetos para serem parte das atividades de 2013–2014. O Secretário de Economia do Governo Chileno proclamou tais esforços como o programa de maior sucesso de 2012 para transferência de tecnologia. O impacto total do acordo Chile-Massachusetts será reconhecido ao longo do tempo; o trabalho está apenas começando.
 
Em conclusão, a natureza mista e singular do sistema chileno e suas alianças com as universidades norte americanas ajudam a explicar o proeminente desempenho das universidades chilenas. Hoje, com o movimento estudantil à busca de acesso gratuito à educação universitária, temos grande efervescência dentro do sistema, trazendo portanto novas perguntas sobre o futuro das universidades do Chile.
 
Este texto foi traduzido e revisado sob a coordenação de
Sergio Azevedo Pereira
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