27/01/2015

International Higher Education | 77

Uma revolução silenciosa nas universidades chinesas

Qiang Zha e Qiubo Yang
Qiang Zha é professor associado na Faculdade de Educação, Universidade de York, Toronto, Canadá. E-mail: qzha@edu.yorku.ca. Qiubo Yang é palestrante na Faculdade de Educação, Universidade de Tianjin, Tianjin, China. E-mail: yqb@tju.edu.cn
Na próxima década, mudanças relacionadas à gestão das universidades na China podem ser esperadas, uma vez que estão planejadas em todos os aspectos (internos, externos, macro e micro), e para diversos domínios. Em aspecto político, o Projeto Nacional para Médio e Longo Prazo de Reforma e Desenvolvimento Educacional (2010–2020) ou o Diagrama 2020 pedem que seja construído um sistema universitário moderno em solo Chinês, que se concentra em garantir e assegurar a autonomia e liberdade acadêmica em universidades. Em aspecto institucional, as universidades Chinesas são agora encorajadas a elaborar seus estatutos para definir limites de jurisdição e autonomia. Enquanto muitos permanecem curiosos e em dúvida sobre a possibilidade de um posicionamento omisso voluntário do governo, e se as universidades tirarão proveito da verdadeira autonomia sobre suas próprias operações, uma revolução silenciosa pode ser observada internamente nos níveis universitário/escolar, ao mesmo tempo em que emerge um grupo de faculdades/escolas experimentais em 17 universidades espalhadas pelo país—uma unidade experimental designada para cada universidade.
 
A “zona especial” nas universidades chinesas
Esta iniciativa nacional começou em 2011, com o objetivo de estabelecer um tipo de zona especial no âmbito do ensino superior, que tem como meta especifica a gestão com maior propriedade sobre os assuntos acadêmicos e latitude para inovação. Este processo embarcou em uma ideia mais ampla e não teve diretrizes explícitas durante um ano. Em Novembro de 2012, O Ministério da Educação Chinês publicou oficialmente diretrizes para o trabalho de faculdades experimentais. O documento enuncia objetivos específicos para esta experimentação, incluindo a implementação de uma gestão democrática, autonomia sobre o desenvolvimento de programas, novas diretrizes de contratação, recrutamento estudantil e alocação de recursos, além da reforma pedagógica focando em educação inovadora. Um Estatuto e uma diretoria englobarão o núcleo dos arranjos institucionalizados a gestão democrática de cada unidade experimental. Nas operações, um comitê de professores será formado para nomear candidatos para a reitoria e representação da faculdade em tomada de decisão—relacionada aos assuntos de ensino, pesquisa, e administração dentro da unidade. Um comitê acadêmico está em fase de organização para supervisionar o campo de desenvolvimento disciplinar e avaliação do desempenho acadêmico, para compensar a interferência do poder administrativo na esfera acadêmica. Explicitamente, foi solicitado às unidades experimentais que desenvolvam capacidade interna para gerir seu próprio desenvolvimento, incluindo o estabelecimento de mecanismos regulatórios e de incentivo, de forma a assegurar um desenvolvimento apropriado e saudável. Ao mesmo tempo, foi requisitado que a responsabilidade – e, compreensivelmente, os riscos associados – fossem assumidos pelas unidades.
 
Como funcionam as faculdades experimentais?
De certa forma, este processo experimental na esfera acadêmica nos lembra de uma gestão econômica semelhante ocorrida no fim dos anos 1980s—por exemplo, com a definição de diversas zonas econômicas especiais na China—o que encabeçou a abertura da economia no país. Precisamente por esta razão, faculdades experimentais, surgiram com práticas diferentes e, por vezes, inéditas, em conjunto com as amplas conformidades amplas estabelecidas por esta iniciativa. Por exemplo, na Universidade de Tianjin, a Faculdade de Instrumentos de Precisão & Engenharia Opto-Eletrônica é a unidade experimental que adotou uma abordagem inédita na colocação de acadêmicos no núcleo de tomada de decisão e otimização do poder acadêmico: abolir as práticas administrativas do departamento, como um esforço focado na restrição do poder administrativo nas operações de ensino e pesquisa. Agora, um sistema que consiste no Diretor Investigativo (PI) é colocado em ação para as operações principais nas atividades de pesquisa, as quais são executadas por equipes de projeto dentro dos grupos. Em tal sistema, um PI acadêmico possui total poder para decidir novas contratações e realocar recursos. O PI e os líderes de projeto abaixo dele/dela devem ser recrutados globalmente. Em termos de organização de ensino, um sistema encabeçado por um Professor Diretor é criado, neste sistema, o Professor estará encarregado do desenvolvimento de programa e currículo, padrões educacionais e conteúdo/ material de ensino, avaliações dos estudantes em campos específicos, assim como apontamento de instrutores e avaliadores de resultado dos professores.
 
De forma semelhante, a unidade experimental na Universidade de Ciência e Tecnologia da China, a Escola de Ciências Físicas, adota um sistema no qual um “Professor Diretor de Projetos” possui pleno controle, enquanto todos os trabalhos associados ao ensino e à pesquisa (incluindo a cooperação internacional) são considerados e trabalhados como projetos. Em contraste à abordagem de “gestão plana” mencionada nos modelos acima, a Universidade Jiaotong de Economia e Gestão de Beijing instaura uma nova camada acadêmica entre a faculdade e seus departamentos, três subdepartamentos, que correspondem respectivamente a três campos disciplinares cobertos pelos programas da faculdade. Com a faculdade delegando a maior parte do poder acadêmico a três subfaculdades, esta abordagem propõe explorar o padrão de separação entre os poderes acadêmico e administrativo e alavancar a dinâmica do campo acadêmico de forma que possa absorver o poder administrativo. Esta abordagem também é esperada para formar massa crítica em termos de participação na gestão acadêmica, direcionada pelo compartilhamento de suas visões, perícia e treinamento em um campo particular.
 
Faculdades experimentais conduzem uma revolução silenciosa
Considerando a ausência ou insuficiência na governança democrática em universidades Chinesas que perdurou por décadas, as universidades frequentemente sofrem de impotência no exercício de sua autonomia—mesmo quando receberam tal oportunidade, a insistência por mais autonomia seria impensável. Para facilitar o progresso, foi necessário que houvesse dinamismo e iniciativas desde o início. Enquanto o Diagrama 2020 expressa as diretrizes políticas a partir do topo, o exercício de conceder à universidade um Estatuto também expressa diretrizes de cima para baixo, com as quais as universidades chinesas são obrigadas a trabalhar dentro de um modelo/ padrão apresentado pelo governo. Em contraste, a experiência de faculdades/ escolas experimentais demonstra uma abordagem crescente, na qual diversas iniciativas de base podem ser identificadas e implementadas. Em comparação a estes movimentos descendentes, as unidades experimentais estão mais propensas a desencadear práticas autônomas em operações existentes, com frequência de forma genuína e inovadora. Indiscutivelmente, na natureza, os microorganismos representam na moldagem da atmosfera um papel mais significativo que leões ou elefantes. Neste sentido, esta experiência tem liderado uma revolução silenciosa que poderá transformar a atmosfera do ensino superior na China.
 
No entanto, esta perspectiva não anula os desafios e riscos que podem estar presentes para estas faculdades/ escolas experimentais. Da perspectiva de dependência de padrões comportamentais em organizações, é um desafio prevenir que as práticas inovadoras (por exemplo, os grupos de pesquisa liderados pelo PI e Professor Diretor nas plataformas de ensino, no caso da Universidade de Tianjin) caiam no caminho anterior (e se tornem mais um mecanismo administrativo ou burocrático). No entanto, é improvável que isto aconteça; ainda é difícil prevenir que se concentre muito poder nas mãos de poucos PIs e Professores Diretores, devendo-se assegurar de uma ampla participação na faculdade em termos de compartilhamento de tomada de decisão.
 
Este texto foi traduzido e revisado sob a coordenação de
Sergio Azevedo Pereira
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