25/04/2012

International Higher Education

Uma nova abordagem para a classificação das universidades chilenas

Claudia Reyes e Pedro Rosso
Reyes é diretora executiva da Red Universitaria Cruz del Sur, em Santiago do Chile
Rosso é reitor emérito e professor de pediatria da Pontifícia Universidade Católica do Chile. E-mail: Claudia Reyes e Pedro Rosso: barriga@uc.d
International Higher EducationNo decorrer das últimas décadas, especialmente durante os anos 1980 e 1990, a maioria dos sistemas universitários dos países em desenvolvimento passou por uma transformação impressionante – com um grande aumento no número de estudantes matriculados e a abertura de muitas novas universidades, principalmente de caráter privado. Uma das consequências dessa mudança expressiva foi um aumento perceptível na heterogeneidade das instituições pertencentes aos diferentes sistemas. Além de suas dimensões acadêmicas, a heterogeneidade traz problemas sérios para os sistemas que buscam classificar as universidades para fins de pesquisa, classificação ou avaliação de políticas públicas. O Chile é um bom exemplo. A primeira tentativa de classificar as universidades nacionais – com base na seletividade, tamanho, prestígio e natureza (pública ou privada) – resultou em oito categorias. Apesar de alguns de seus méritos, a classificação foi criticada do ponto de vista conceitual e prático, incluindo o fato de as categorias não serem exclusivas.
 
Outros observadores tentaram classificar as universidades chilenas usando a seletividade e o número de publicações anuais como critérios primários e o número de estudantes e anos de credenciamento concedidos à instituição como critérios secundários. Eles descreveram sete categorias de instituições – um discreto aprimoramento em relação às categorias anteriores. Entretanto, essa classificação também se revelou deficiente sob muitos aspectos, incluindo o emprego da seletividade como critério principal. Uma categoria, por exemplo, relacionava as universidades de pesquisa mais seletivas, enquanto outro grupo era descrito como o das instituições não seletivas de ensino, de proporções médias e baixo status em termos de credenciamento.
 
Uma nova abordagem para a classificação das universidades
Uma abordagem recente enfrentou o desafio de classificar as universidades chilenas usando como critério principal a existência e o número de programas credenciados de doutorado e o seu número anual de publicações indexadas internacionalmente. Ao ser aplicado o primeiro critério, as universidades foram divididas em dois grupos: (a) aquelas que não tinham programas credenciados de doutorado; e (b) as que tinham programas de doutorado. Então, aquelas sem programas de doutorado foram subsequentemente divididas em duas categorias de acordo com o número de publicações: (a) aquelas com menos de 20 publicações anuais; e (b) as com 20 ou mais publicações anuais. A primeira categoria foi rotulada de "universidades voltadas para o ensino" e compreendia 23 instituições. A segunda, chamada de "universidades voltadas para o ensino com atividades limitadas de pesquisa", incluía 11 universidades. Em contrapartida, as universidades com programas credenciados de doutorado foram divididas em duas categorias: (a) aquelas com até cinco programas, e (b) as que contam com mais de cinco programas de doutorado. A primeira categoria foi chamada de "universidades de pesquisa com programas de doutorado em áreas escolhidas", e 11 instituições encaixavam-se neste critério. A segunda foi chamada de "universidades voltadas para as pesquisas e os programas de doutorado", abrangendo 6 instituições.
 
Principais características das diferentes categorias
Como era esperado, as quatro categorias apresentavam diferenças notáveis nos valores médios das variáveis usadas como critérios primários de classificação. Assim sendo, o grupo das universidades voltadas para o ensino apresentou uma média de quatro publicações por ano, e o grupo das universidades voltadas para o ensino com atividades de pesquisa teve média de 41 publicações por ano; as universidades de pesquisa com programas de doutorado em áreas escolhidas tiveram média de 94 publicações anuais; e o grupo das universidades voltadas para as pesquisas e os programas de doutorado apresentou média de 636 publicações por ano. Em contrapartida, embora o número médio de programas de doutorado tenha sido 2,2 no grupo das universidades de pesquisa com programas de doutorado em áreas escolhidas, essa média foi de 18,5 no grupo das universidades voltadas para as pesquisas e os programas de doutorado. Consequentemente, os critérios primários de classificação foram capazes de agrupar com sucesso as universidades chilenas em categorias bastante distintas. Especialmente digna de nota foi a diferença gritante no número de publicações observada entre as duas categorias de universidades voltadas para o ensino – indicando que nesse aspecto a categoria "universidades voltadas para o ensino" é de fato bastante distinta da sua parceira, a das "universidades voltadas para o ensino com atividades limitadas de pesquisa". Por outro lado, a diferença implica que nenhuma pesquisa é realizada em aproximadamente 30% das universidades chilenas.
 
Características adicionais das quatro categorias
As quatro categorias foram também comparadas em termos do seu tamanho institucional e desempenho acadêmico – sem relação com os indicadores do número de publicações e dos programas de doutorado usados em sua definição. O significado estatístico das variações nos valores médios entre as categorias foi testado por meio de uma análise de variabilidade de mão única. Esse teste proporciona um método para determinar se as médias obtidas por diferentes grupos são estatisticamente diferentes. O teste de análise de variabilidade foi complementado com testes adicionais, que estabelecem com mais especificidade as médias consideradas significativamente diferentes umas das outras. Os resultados indicaram uma grande diversidade entre os valores médios na maioria dos indicadores explorados, incluindo: número de estudantes, número de membros do corpo docente, porcentual de professores com diplomas avançados, número de professores por programa de estudos, porcentual de programas de estudo de alto desempenho e anos de credenciamento institucional. As principais diferenças foram encontradas entre as "universidades voltadas para o ensino" e as "universidades voltadas para as pesquisas e os programas de doutorado", sendo que os valores médios das outras duas categorias se encaixaram em algum ponto entre esses dois extremos.
 
Nova classificação para estudos comparativos
As categorias definidas pela nova classificação são associadas a características institucionais básicas e ao desempenho acadêmico. Assim, a título de comparação, as instituições incluídas numa determinada categoria seriam consideradas "pares acadêmicos". Isso parece ser uma questão relevante, pois a maioria dos estudos comparativos – incluindo os rankings universitários nacionais e internacionais – costumam dedicar pouca atenção ao tema. A partir dessa perspectiva, é uma infelicidade que as universidades de pesquisa, principalmente aquelas consideradas de nível mundial, tenham se tornado o paradigma da qualidade acadêmica. Sem deixar de reconhecer a necessidade que todos os países têm de formar uma massa crítica de instituições do tipo, do ponto de vista da diversidade e do seu valor intrínseco, o único paradigma que deveria haver para uma universidade deveria corresponder às instituições pertencentes à mesma categoria.
 
Classificando universidades em sistemas ainda em desenvolvimento
A nova classificação aplicada às universidades chilenas pode ser aplicada a outros países, sendo necessária certa adaptação às realidades locais. Poderiam ser empregados outros pontos de corte em termos do número anual de publicações ou de programas de doutorado credenciados por uma agência nacional, por exemplo. A nova classificação pode também proporcionar o diagnóstico geral de um sistema, em termos do porcentual de instituições presentes voltadas para o ensino ou para a pesquisa. Nos sistemas universitários a diversidade representa um valor em si, já que implica mais opções de estudo e trabalho tanto para os estudantes quanto para os professores.
 
Ao classificar e comparar universidades, especialmente nos sistemas ainda em desenvolvimento, todas as classificações acabam congelando no tempo situações essencialmente dinâmicas. No futuro, muitas instituições vão mudar de categoria conforme suas atividades de pesquisa se expandem e novos programas de pós-graduação são criados. Por outro lado, mantendo-se fiéis à sua missão, muitas outras universidades permanecerão na categoria atual, ao mesmo tempo aprimorando seu desempenho acadêmico. No fim, o que realmente conta no mundo acadêmico é a coerência entre missão, recursos humanos e recursos financeiros, bem como a vontade de alcançar o melhor padrão de qualidade possível. Assim sendo, é crucial classificar adequadamente as universidades.
 
capa da edição impressa nº 5 | abril de 2012