10/03/2014

International Higher Education

Recrutamento internacional: supervisão e parâmetros

David Engberg
Engberg é diretor-executivo do Global Opportunities Group, uma organização de serviços de ensino com sede nos EUA. E-mail: dave@g-o-group.com
O uso de agentes remunerados para recrutar estudantes internacionais continua a ser um tema polêmico no ensino superior dos EUA. Alguns dizem que pagar os agentes não é algo consistente com as já estabelecidas práticas de recrutamento de estudantes domésticos, incentivando os agentes a colocar seus próprios interesses financeiros acima dos interesses acadêmicos dos estudantes e contribuindo para as fraudes nas matrículas. Outros dizem que trabalhar com agentes pagos custa menos e traz um risco menor do que administrar o recrutamento internacional por conta própria, oferecendo acesso a múltiplos mercados e ajudando a diversificar as matrículas de estudantes internacionais.
 
Em maio de 2013, a Associação Nacional de Orientação para o Ingresso na Universidade (NACAC) lançou um aguardado relatório a respeito do recrutamento de estudantes internacionais. O texto detalhava preocupações ligadas aos agentes remunerados por comissão, mas recomendava que a NACAC eliminasse sua proibição impedindo as instituições participantes de usarem agentes pagos.
 
Desde a sua publicação, o relatório foi bastante criticado por indivíduos de ambos os lados do debate. Aqueles que são contra o trabalho com agentes acreditam que a NACAC prejudica sua integridade e credibilidade ao permitir uma prática que corre o risco de permitir que o lucro fique acima dos interesses dos estudantes. Entre os que defendem o fim da proibição a principal queixa diz que o relatório não avança nos debates ligados aos parâmetros internacionais de recrutamento e à qualidade nos Estados Unidos.
 
Essa crítica merece atenção. Levando-se em consideração (1) o acentuado aumento na demanda internacional pela admissão em universidades americanas, especialmente no nível de graduação, (2) a capacidade dos estudantes internacionais (ou de seus governos) de pagar o custo total da instrução, e (3) os desafios fiscais enfrentados por muitas instituições, pode-se prever que instalações adicionais devem buscar um número cada vez maior de estudantes internacionais, recorrendo a agências e terceiros para atingir esse objetivo.
 
Status atual
Grã-Bretanha e Austrália são conhecidas por usarem agentes para recrutar estudantes internacionais para suas instituições terciárias. Ambos os países têm sistemas regulatórios bem desenvolvidos, oferecendo supervisão para as relações entre agentes e universidade - diferentemente do que ocorre nos EUA. Nesse país, o governo federal emite sinais ambíguos. Escritórios da Education USA financiados pelo Departamento de Estado em todo o mundo são proibidos de usar recrutadores profissionais, por medo de que isto possa criar a impressão de favorecimento; os Departamentos de Comércio e Segurança Interna estão ambos envolvidos em atividades e eventos que reúnem universidades e agências comerciais de recrutamento, incentivando-as a trabalharem juntas. Com exceção do Conselho Americano de Recrutamento Internacional (AIRC), organização sem fins lucrativos fundada em Washington em 2008, não há organizações americanas dedicadas a supervisionar o recrutamento de estudantes internacionais.
 
De acordo com os princípios de sua organização a missão do AIRC é desenvolver parâmetros de ética de trabalho envolvendo o recrutamento de estudantes internacionais, certificar agências determinadas a cumprir os parâmetros definidos pelo AIRC, e desenvolver práticas mais recomendadas e treinamento para ajudar agências e instituições a servir melhor os estudantes. Para obter a certificação, uma agência deve completar um relatório de autoavaliação, submeter-se a uma visita às suas instalações, e ser aprovada numa votação dos membros do Conselho Diretor do AIRC. A certificação tem validade de cinco anos e, durante esse tempo, os agentes aprovados podem usar o logotipo do AIRC na divulgação de seus serviços. Depois de certificadas, as agências devem entregar relatórios anuais para se manterem em boa posição, pagando também uma taxa anual de participação. Depois de cinco anos, é preciso repetir todo o processo para voltar a receber a certificação.
 
Dada a ausência de outras organizações americanas, ativamente envolvidas no desenvolvimento e supervisão de parâmetros de recrutamento internacional, o trabalho do AIRC é louvável. Mas seu processo de certificação têm carências substanciais. O custo é muito alto, tanto em termos de tempo quanto de recursos: o site do AIRC orienta as agências a se prepararem para um processo de certificação de oito a nove meses, ao custo de US$ 10.000 no primeiro ano. A cada ano seguinte, as agências menores (menos de 500 estudantes atendidos por ano) precisam pagar uma taxa de participação de US$ 2.000 para manter sua certificação. Para as agências maiores, a taxa anual é de US$ 4.000. Pequenas agências administradas por casais e famílias ainda dominam o mercado de recrutamento de muitos países, especialmente na Ásia. O custo da certificação e das taxas de participação do AIRC - US$ 20.000 para um período de cinco anos - significa que a maioria dessas agências não deve buscar esse serviço.
 
A natureza subjetiva dos parâmetros do AIRC é outra preocupação, tornando-os difíceis de quantificar e analisar. Será possível, por exemplo, medir se todos os funcionários de uma agência "são competentes, bem informados, de boa reputação, agindo em todos os momentos no interesse do candidato e das instituições"? Como saber se uma agência administra seus recursos financeiros da maneira mais eficiente, representando a si mesma de maneira honesta no material de divulgação ou garantindo que subagentes ou outros funcionários remotos encarregados da gestão, ou se o seu processo de recrutamento está parcial ou totalmente de acordo com os parâmetros do AIRC?
 
Por fim, e talvez mais importante, o processo de análise-certificação do AIRC é projetado para certificar agências, e não os indivíduos que trabalham nelas. Como resultado, pouco é feito para garantir que os orientadores em contato direto com os estudantes de fato compreendam o sistema americano de ensino superior, o funcionamento dos escritórios de admissão, ou as nuances do sistema americano de imigração. O AIRC ou alguma outra organização americana faria bem ao oferecer treinamento específico, como fazem na Europa o British Council e a Consultores Internacionais para o Ensino e Feiras (ICEF), ou certificação, como a que a Recursos Profissionais de Ensino Internacional (PIER), da Austrália, oferece diretamente aos orientadores responsáveis por trazer estudantes ao mercado americano.
 
O rumo a seguir
O melhor conselho para as instituições americanas de ensino interessadas em estabelecer parcerias com uma agência de recrutamento de estudantes internacionais é desenvolver seu próprio conjunto de parâmetros e procedimentos. Alguns campi - a Universidade de Cincinnati e a Universidade Wichita State, por exemplo - fizeram isto com sucesso. Mas a maioria não conseguiu o mesmo, mostrando-se mal preparada para estabelecer uma parceria saudável com as agências quando procurada por estas. Em muitas instituições, indivíduos sozinhos são responsáveis pelo recrutamento internacional e pelas admissões, situação que pode levar a conflitos de interesse. Além disso, muitos campi carecem de políticas para organizar processos seletivos para agentes remunerados por comissão e avaliar o trabalho deles, problema que atinge até as instituições interessadas em aumentar o número de matrículas vindas do exterior. Assim, independentemente das organizações externas envolvidas no controle de qualidade e nos parâmetros de trabalho das agências de recrutamento, os campi que decidirem terceirizar aspectos do seu recrutamento internacional devem definir planos e práticas mais recomendadas que sejam apropriados para o cumprimento de seus próprios objetivos para as matrículas.