10/04/2015

International Higher Education | 78

Quando um campus é uma extensão internacional?

Nigel Healy
Professor e pró-vice-reitor (Internacional) na Universidade Nottingham Trent. E-mail: nigel.healey@ntu.ac.uk
A experiência de chegar de carro no campus de extensão internacional da Universidade de Nottingham na Malásia é, para um ex-aluno, surreal. Rodeada pela floresta tropical, emerge a familiar silhueta branca – a torre do relógio, acima do característico Trent Biulding, com vista para um lago. Apesar do calor e da umidade, o campus em Semenyih dá a sensação de se estar no campus original de Nottingham na Inglaterra, reforçando o lema “uma universidade três campi” (Reino Unido, Malásia e China).
 
A definição de campus de extensão internacional
Em 2009, o OBHE observatório para o ensino superior sem fronteiras, sigla em inglês para “Observatory for Borderless Higher Education (OBHE), notoriamente definiu um campus de extensão internacional como uma operação offshore ou a distancia de uma instituição de ensino superior que atende aos seguintes critérios: 
 
- A unidade deve ser operada pela instituição ou através de uma fusão da qual a instituição faz parte... nome da instituição estrangeira e
 
- “Através da realização bem-sucedida do conteúdo programático do curso, que é plenamente aceito pela unidade de extensão, e os alunos são graduados, recebendo um diploma pela instituição estrangeira,”.
 
Esta definição é amplamente citada e permanece sendo útil. De certo, o campus de Semenyih atende a estes critérios: a unidade é operada através de uma fusão entre a Universidade de Nottingham e duas empresas no ramo imobiliário da Malásia, Boustead e YTL; é caracterizada pela Universidade de Nottingham, Campus da Malásia (UNMC); e os alunos que lá se graduarem, recebem um diploma da Universidade de Nottingham.
 
O correspondente Americano da OBHE, a Equipe Sem-Fronteiras de Pesquisa em Educação (C-BERT) na Universidade Estadual de Nova York, em Albany, define de forma semelhante uma extensão internacional de um campus como “uma entidade pertencente, pelo menos em parte, a uma instituição educacional estrangeira, operando em nome desta instituição; engajando pelo menos um pouco de aprendizagem presencial; e proporcionando acesso a um completo programa acadêmico que leva à certificação emitida por uma instituição estrangeira.”
 
Condições e ambientes em mudança
Um olhar mais próximo sobre as cerca de 200 extensões internacionais de campus que são monitoradas pela OBHE e pela C-BERT revelam que, assim como Jason Lane e Kevin Kinser observaram em seu artigo habilmente intitulado (“Uma definição para governar a todos”), obtendo a clara definição de um “assunto um tanto quanto escorregadio.” Em seu relatório feito em 2012 sobre extensões internacionais de campi, a OBHE apontou a reconhecida impraticabilidade de se ter uma “definição permanente” uma vez que as universidades estão constantemente reestruturando suas atividades à distância de acordo com as mudanças nos ambientes legislativos e na competição.
 
Para ilustrar a dificuldade em se encontrar uma definição para extensões internacionais, use a UNMC como exemplo. O ‘campus’ é legalmente incorporado como uma empresa particular da Malásia, na qual dois dos sócios locais possuem a maior participação. A Universidade de Nottingham é, em essência, um acionista minoritário em uma empresa no exterior. Com exceção dos gerentes seniores, que são exportados de Nottingham, a faculdade e a equipe são contratados pela empresa na Malásia e gerenciados pelo departamento de Recursos Humanos da mesma sob os termos e as condições locais.
 
UNMC é, a partir da perspectiva do Ministro da Educação do país de destino, uma ‘instituição de ensino superior particular da Malásia,’ estando sujeitas à supervisão pelo Ministério, que aprova anuidades e matrículas. O currículo é certificado pela Agência de Qualificações da Malásia e as qualificações oferecidas devem estar enquadradas nas especificações das Agências Qualificações Malaias.
 
Observada em termos de acionistas-chave, a UNMC começa a se parecer menos com uma universidade transplantada do Reino Unido do que é sugerido por sua arquitetura e pela torre do relógio presentes em suas construções. A maioria dos acionistas é malaia. A maioria dos funcionários da faculdade é malaia, com exceção de alguns poucos gerentes expatriados e empregados localmente. Os alunos, as entidades reguladoras e as empresas que empregam a maioria dos estudantes pertencem à Malásia.
 
Evolução do relacionamento com a instituição de origem
O fato de que a empresa vende seus serviços portando a marca da Universidade de Nottingham, e fornece diplomas inexoravelmente ligados ao Reino Unido, certifica seu status como uma extensão internacional? Em princípio ambas as características de definição podem ser apagadas em apenas uma assinatura. Assim como Middlesex e Heriot-Watt, a Universidade de Wollongong opera um ‘campus de extensão’ em Dubai. As universidades do Reino Unido oferecem diplomas do campus de origem sob uma licença proveniente da Agência de Desenvolvimento Humano e Aprendizagem de Dubai. Em contraste, Wollongong inicialmente instalou seu campus como o Instituto Australiano de Estudos e, desde 2004, a ‘Universidade de Wollongong em Dubai’ foi licenciada sob o governo federal dos Emirados Árabes Unidos como uma instituição privada e independente, capaz de emitir diplomas locais, e não australianos.
 
Falando sobre faculdades em campus com extensões internacionais, uma das metáforas mais usadas é aquela de uma relação entre pai e filho. Campi de extensão começam como crianças sem autonomia, dependentes de uma universidade-mãe para quaisquer necessidades. Uma vez que crescem e amadurecem, tornam-se adolescentes desregrados, irritando-se com o controle parental e lutando para adquirir maior autonomia. Como jovens adultos, começam a desenvolver suas próprias personalidades e as ligações com suas mães inevitavelmente enfraquecem até que sejam completamente rompidas para sempre.
 
A Universidade de Londres, que implantou faculdades de renome ao redor do mundo, pode afirmar hoje, inter alia, que a Universidade de Zimbabwe, a Universidade das Índias Ocidentais e a Universidade of Peradeniya (Sri Lanka) são suas crias afastadas e crescidas. Ironicamente, como as Universidades de Leicester e Southampton, a Universidade de Nottingham também teve seu início como uma extensão da Universidade de Londres. No Reino Unido, as 45 escolas politécnicas operaram sob o controle do Conselho Nacional para Certificações Acadêmicas (CNAA), que validou seu currículo e suas concessões de diplomas. Este experimento de âmbito nacional de extensão de universidades acabou em 1992 quando as politécnicas foram reestruturadas em entidades independentes, capazes de formar alunos e emitir diplomas.
 
De volta à UNMC, apesar de sua forte identidade malaia, ainda não há indícios de que os laços com seu campus de origem estão prontos para serem cortados. A razão pela qual ainda permanece como uma ramificação de outro campus lhe fornece vantagens competitivas no mercado Sul-Asiático. Como parte da Universidade de Nottingham, o ranking global de 75º lugar lhe pertence (de acordo com o QS World University Rankings 2013-2014) e um histórico que se inicia em 1881. A convergência do currículo de Nottingham e da Malásia garante aos estudantes um diploma internacionalmente válido, enquanto o intercâmbio de pesquisadores e doutorandos acelerou a criação de uma cultura acadêmica no campus da Malásia.
 
Provavelmente, a UNMC permanecerá como um campus de extensão por tanto tempo quanto os benefícios ligados à reputação suprimirem os custos em termos de adaptação às condições locais. Em uma região intensamente competitiva e sofisticada como o Sudeste da Ásia, é provável que estes benefícios ainda predominem por vários anos. Em outros mercados, principalmente na China, onde o Ministério da Educação visualiza fusões Sino-estrangeiras como instituições privadas chinesas, o tempo de espera para a total independência das instituições pode ser menor. Em todos os países de origem, o ensino superior é regulado e formado por políticas— assim como, no passado, era em Zimbabwe, nas Índias Ocidentais e no Sri Lanka, que podem exprimir sua opinião sobre por quanto tempo eles ainda estariam dispostos a aceitar universidades estrangeiras controlando parte de seu sistema educacional.
 
Fazendo uma pergunta diferente
Ao responder à pergunta: “o que é uma extensão internacional de um campus?” encontra-se uma dificuldade. As diferentes extensões de campi possuem localizações variadas de acionistas-chave — notavelmente, os proprietários, gestores, a faculdade e a equipe que lá trabalha o currículo, a certificação e a marca— e estes limites se tornam nebulosos em resposta às estratégias da universidade de origem e às requisições do Mercado de destino.
 
Talvez, a questão mais interessante seja perguntar: “quando um campus é considerado uma extensão?” Em outras palavras, em que ponto os laços organizacionais entre a universidade de origem e o campus de extensão são fortes o suficiente para considerar que uma seja, de fato, subsidiária da outra? Uma instituição educacional escolherá a posição por si própria como extensão de uma, mais ponderosa, universidade estrangeira, por tanto tempo quanto os benefícios ligados à reputação e competitividade nesta ligação sobrepuserem aqueles associados à independência. O tempo de duração desta relação varia de acordo com o país, porém, a história sugere que extensões possam florescer e se tornar independentes, ou fracassar e fechar. Ninguém permanece criança para sempre.
 
Este texto foi traduzido e revisado sob a coordenação de
Sergio Azevedo Pereira
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