10/10/2013

International Higher Education

Problemas no ensino superior inglês

Heather Eggins
Eggins é professora visitante da Universidade de Sussex, Grã-Bretanha. E-mail: heggins@btinternet.com
A Inglaterra, como todos os países ocidentais, está preocupada em maximizar as habilidades de seus habitantes e, valendo-se das capacidades destes, tem como objetivo enriquecer a nação. Com isso, nos últimos 10 anos a questão do acesso ao ensino superior tem sido uma importante preocupação do governo inglês, mas, em meio a circunstâncias novas e desfavoráveis, há agora problemas importantes a superar. As tentativas do governo anterior, dos trabalhistas, tiveram certo sucesso, no sentido de que a proporção de participação entre os grupos desfavorecidos, que se mantinha em 18% em 2004, foi agora muito melhorada. Uma série de iniciativas foram apresentadas, incluindo cursos de verão, orientação individual, visitas às universidades locais, e cursos voltados deliberadamente ao "acesso". Agora, no entanto, com a proporção de participação desses grupos mantida em 30%, as universidades se veem arrebatadas por políticas confusas e conflitantes que ameaçam prejudicar o sucesso do impulso pelo acesso e perturbar o equilíbrio de todo o sistema.
 
A abordagem do governo atual
A atual coalizão Conservadora - Liberal Democrata, eleita em 2010, teve de governar numa era em que difíceis medidas financeiras devem ser introduzidas em resposta à crise internacional. Até £ 9.000 por ano podem agora ser cobradas em taxas de ensino, e os estudantes têm muito mais "poder aquisitivo". Os estudantes têm agora um leque muito amplo de ofertas de bolsas de universidades individuais para avaliar e, se tiverem a felicidade de obter duas notas A e uma nota B, podem contar com uma vaga na universidade e no curso que desejarem. O fato de os estudantes com as melhores notas escolherem o destino que quiserem significa que não cabe às universidades planejar seus números finais. Um nível de risco incontrolável foi introduzido, sendo motivo de grande preocupação financeira para elas, com uma série de universidades funcionando no vermelho.
 
Acesso justo
A ideia de "ampliar a participação" implica em atrair um maior número geral de estudantes e expandir o sistema total. A ideia de "acesso justo" torna possível que todos aqueles em pior situação frequentem a universidade desde que tenham condição de ingressar nela. Um recente relatório do governo faz recomendações para uma nova estratégia nacional de acesso. Uma rede de coordenadores regionais será criada para trabalhar com o ensino primário e acompanhar os alunos durante o ensino secundário e os exames de formatura. O objetivo da rede é dar apoio às crianças inteligentes desde o ensino primário, independentemente do seu contexto social, facilitando sua jornada à universidade e certificando-se do seu preparo acadêmico para tanto.
 
O Gabinete para o Acesso Justo, entidade do governo, tem o papel de aprovar as políticas de acesso de todas as instituições de ensino superior que tenham a intenção de cobrar taxas de ensino superiores a £ 6.000 anuais. Espera-se das políticas institucionais de acesso que incluam um série de bolsas, bem como outras iniciativas de acesso. As principais universidades de elite, que historicamente tiveram altos números de estudantes vindos de escolas independentes, estão sob pressão para aceitar mais alunos de contextos sociais desfavorecidos.
 
Entretanto, contra o fundo da atual política de acesso, a crise financeira perdura e, na Inglaterra, há uma taxa anual máxima de ensino de £ 9.000 para o nível de graduação. O fardo do pagamento passou do financiamento direto do governo às instituições para empréstimos feitos pelo governo para que o estudante arque com o custo. Estes estão disponíveis para estudantes de meio período e período integral e para os estudantes que frequentam universidades privadas. Bolsas seletivas para custos de acomodação ainda estão disponíveis para aqueles que vêm de contextos sociais desfavorecidos.
 
Metas numéricas designadas
Um importante problema no sistema inglês é a maneira com que os números gerais são controlados. Cada universidade recebe uma meta designada, proposta pelo Conselho de Financiamento. Há pouca margem de manobra para aquelas que não atingem a meta, ou a ultrapassam, até que seja aplicado algum tipo de ajuste ou multa. Ainda que seja difícil de administrar, esse sistema tem funcionado bem. Entretanto, numa tentativa de abri-lo a uma maior participação da escolha dos estudantes, o sistema inteiro se tornou instável.
 
Problemas
Em particular, duas iniciativas levaram a isso. A primeira envolveu as taxas cobradas pelas universidades. Para garantir que os estudantes recebessem a oferta de diferentes preços pelos estabelecimentos de ensino superior, o governo tornou disponíveis 20 mil vagas em instituições que cobram £ 7.500 ou menos. Essas vagas deveriam servir como incentivo para que as universidades reduzissem seus preços a £ 7.500 ou menos, levando também as faculdades a oferecer cursos com concessão de diploma e, com isso, captar mais dinheiro do governo. Entretanto, os incentivos não funcionaram. Das 9.600 vagas criadas nas universidades, 4.200 não foram preenchidas, e das 10.400 vagas em faculdades do ensino superior, 2.800 permaneceram vazias (ou seja, quase um terço permaneceu inutilizado).
 
A segunda iniciativa teve efeitos mais sérios, criando incerteza e, para as instituições, um alto nível de risco. Em 2012, o governo permitiu que as universidades inglesas recrutassem tantos estudantes adicionais quanto desejassem - com notas AAB (as mais altas) - nos exames de admissão. Isto pareceu ser vantajoso para as universidades o grupo mais altamente seletivo (o Russel Group). Entretanto, o número geral de inscritos para 2012/13 mostrou uma queda de 5% entre aqueles com 18 anos e uma queda de 15%-20% entre aqueles com 19 anos ou mais. O conjunto de inscritos com notas AAB encolheu, deixando várias universidades sem atrair o número esperado de estudantes. Liverpool, Sheffield e Southampton - todas do Russel Group - ficaram aquém de suas metas, enquanto a Universidade de Bristol cresceu 28%. Houve variações entre as outras universidades cobrando menos do que os £ 9.000. Enquanto a Universidade Staffordshire apresentou queda de apenas 3%, a Leeds Metropolitan teve queda de 23%.
 
2013/14
É bem possível que os arranjos para 2013/14 tragam ainda mais fluidez para o sistema inglês: desta vez, estudantes com notas ABB, um grupo maior do que aqueles com AAB, poderão receber ofertas de qualquer universidade. As regras para vagas extras na margem também mudaram: haverá apenas 5.000 vagas, mas muitas dessas ficarão com instituições que cobram de £ 7.500 a £ 8.250 por ano.
 
Enquanto isso cada universidade continua a receber uma quantidade fixa de alunos. Onze instituições do ensino superior ultrapassaram o limite do número de estudantes em 2012; as multas acabam de ser anunciadas. Aquelas que aceitam estudantes demais são multadas. As que recebem estudantes a menos correm o risco de ter seus números cortados no futuro. Trata-se de uma corda-bamba na qual poucos escolheriam andar. As matrículas para o ano letivo de 2013/14 aumentaram pouco (+2,8%) em relação a 2012/13, mas seguem bastante abaixo do nível atingido em 2011/12. A volatilidade pode piorar no próximo ano. A combinação de mudanças súbitas nas políticas públicas no contexto de aumentos nas taxas de ensino para os quais os estudantes não estavam preparados desestabilizou o sistema inglês de ensino superior: um número cada vez maior de universidades inglesas vai enfrentar déficits. O resultado de 2013/14 pode trazer para elas uma turbulência financeira inaceitável. "Os estudantes", como diz o ministro do ensino superior, estão agora "no assento do motorista"; as instituições estão recuando.