03/08/2015

International Higher Education | 81

Perspectivas sobre as redes universitárias globais

Robin Middlehurst
Professora na Kingston University, Reino Unido. E-mail: r.middlehurst@kingston.ac.uk
Há séculos, o ensino superior tem sido um setor internacionalmente conectado, à medida que acadêmicos têm buscado a troca de ideias e a conquista de novos conhecimentos. Contudo, esta conectividade parece ter alcançado novas dimensões, indubitavelmente auxiliada pela habilidade de conexão física e virtual, mas não completamente explicada por este motivo. Kris Olds da Universidade do Wisconsin–Madison, apresenta “o aparente interminável emaranhado de associações,” redes, consórcios e alianças, e argumenta que estamos testemunhando um processo de desnacionalização à medida que as instituições reestruturam o escopo de suas visões, estruturas e estratégias acima da escala nacional. Por outro lado, uma análise dos principais momentos na internacionalização do final do século 19 até o inicio do século 21 constatou que as abordagens da internacionalização para “desnacionalizar” a universidade geralmente não têm êxito (ou não por tanto tempo). Então por qual razão as redes globais estão crescendo e os esforços institucionais para chegar além das fronteiras nacionais estão destinados ao fracasso?
 
A pesquisa histórica colaborativa por toda a Europa, Ásia, Austrália, e América do Norte e do Sul, empreendida por acadêmicos dentro das redes mundiais universitárias, identifica o desenvolvimento de consórcios internacionais e redes como resposta a grandes mudanças estruturais e históricas no ensino superior. As universidades juntaram forças para atender as novas expectativas e resolverem os problemas “em uma escala cada vez maior.” 
 
Isso tem sido feito considerando-se matriculas variáveis, recursos de financiamentos associados com ciclos econômicos e elevação e queda; novos meios de transporte e comunicação que facilitam a mobilidade — entre estudantes, acadêmicos; e o conhecimento em si; demandas crescentes por ciência aplicada, conhecimento técnico, inovação comercial; e reconfigurações ideológicas que acompanham as mudanças de regime. Tais desafios ainda ressoam como impulsionadores para o estabelecimento de redes globais, mas também há os novos.
 
As pressões competitivas estão motivando as instituições e países a buscar vantagem competitiva através da colaboração. Os produtos cobiçados de “reputação global” e o “status de classe mundial” levam aos rankings, posicionamento, classificação por marca, e gestão de reputação. No século 21, quando o poder e a influência da mídia global são onipresentes, este elemento impulsionador pode ser mais forte que no passado, apoiado e reforçado através de novas tecnologias moveis e sociais. A associação com outros bem sucedidos, dotados de bons recursos, ou os mais poderosos pode trazer valor agregado, tanto em substância como em gloria refletida. Ser convidado para se juntar a uma rede exclusiva — ( tal como a League of European Research Universities ou Universitas 21/ Liga das Universidades de Pesquisas Europeias ou Universitas 21)— assinala reconhecimento mútuo e uma marca percebida de qualidade na hierarquia da pesquisa global. Para outras instituições em busca de parceiros globais, fatores além da “ formação na área de pesquisa tradicional” são importantes significantes da diferenciação e distinção em um mercado congestionado de redes.
 
A diversidade das redes globais
As redes globais não estão apenas proliferando; entre as instituições; elas também cruzam setores para engajar novos parceiros e alavancar recursos de parcerias a fim de alcançar benefícios para o negócio, cidadãos e universidades. Sistemas de inovação “Triple helix” são um exemplo onde fontes de inovação tradicionalmente separadas, agora se juntam — desenvolvimento de produto na indústria, elaboração de políticas no governo, a criação e disseminação do conhecimento na academia — para facilitar o desenvolvimento de novos formatos organizacionais, novos conhecimentos, produtos e serviços. Uma nova ponte entre a Dinamarca e a Suécia ajudou a criar Oresund University Network, abrindo novas áreas de pesquisas e possibilidades educacionais. Contudo, a rede original de 11 universidades encolheu para instituições que conseguiram tirar maiores vantagens da rede. Novas formas de envolvimento cultural entre Birmingham, Reino Unido e Chicago envolvem múltiplas conexões entre museus, teatros, galerias de arte e universidades, utilizando relacionamento de “Cidades Irmãs” de longa data. As empresas também assumiram o comando no estabelecimento de redes: O Banco Santander criou a Divisão de Universidades Globais Santander para apoiar o ensino superior como uma forma de “contribuir para o desenvolvimento e prosperidade da sociedade.” Existem agora 1000 universidades como membros em 17 países e o banco financiou a pesquisa, mobilidade e bolsas de estudos. Associações internacionais também têm tornado possível para as redes globais reunir recursos, enfocar os desafios mais imediatos e contribuir para o desenvolvimento de sociedades. O Programa de Cátedras UNESCO e Redes UNITWIN — uma iniciativa que agora envolve 650 instituições em 24 países —“funciona como laboratório de ideias e construtor de pontes entre a academia, a sociedade civil, comunidades locais, pesquisa e criação de políticas.”
 
Múltiplos temas
Instituições se juntam e cooperam nas redes globais através de múltiplos temas para a troca de informações e boas práticas, estabelecem um benchmark de suas atividades, criam novos conhecimentos através da pesquisa e programas conjuntos de formação, facilitam a mobilidade de docentes e estudantes, otimizam recursos, aumentam a capacidade, promovem e defendem serviços e valores. As redes temáticas incluem: UNICA ( uma rede de 46 universidades em 35 capitais da Europa), UArctic ( uma rede cooperativa de universidades, faculdades, institutos de pesquisa e outras organizações de 10 países preocupados com a educação e pesquisa pelo e no Norte), UASNet (uma rede de universidades de ciências aplicadas de 9 países representadas por suas conferências nacionais de reitores) e a Associação Asiática de Universidades Abertas que enfocam o aprendizado à distância. Valores compartilhados também impulsionam as redes globais com 320 membros institucionais em 72 países, a Talloires Network está comprometida com o fortalecimento dos papeis cívicos e responsabilidades sociais do ensino superior; a International Sustainable Campus Network com 67 instituições afiliadas em cinco continentes está comprometida com a sustentabilidade nas operações de campi, pesquisa e ensino; a Scholars at Risk Network, uma rede global de instituições, associações acadêmicas e redes associadas que defende e protege a liberdade acadêmica, autonomia institucional e valores educacionais do ensino superior.
 
Sustentabilidade
Algumas das redes globais atuais são novas: algumas já sobrevivem há décadas; outras foram reestruturadas, como a Oresund Network, e outras desapareceram, como a Scottish Knowledge, um consórcio de e-learning de 11 países. Experiências passadas oferecem algumas ideias para sustentabilidade — sugerindo que resultará em fracasso onde as estratégias ignoram ou minimizam as diferenças intelectuais, culturais ou políticas — especialmente quando a busca de novas conexões internacionais é vista como uma forma de enfraquecer os laços nacionais. Outra lição é que todos os parceiros devem obter benefícios das redes se confiança, esforço e fluxo de recursos institucionais forem mantidos. A gestão de relacionamentos de maneira respeitosa e produtiva em todas as fronteiras internacionais será provavelmente a principal competência na manutenção das redes globais.  
 
Este texto foi traduzido e revisado sob a coordenação de
Sergio Azevedo Pereira
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