25/04/2012

International Higher Education

Parcerias na África na nova era da internacionalização

Damtew Teferra
Diretor fundador da International Network on Higher Education in Africa, no CIHE/Boston. E-mail: teferra@bc.edu
International Higher EducationAlém de ser o termo do momento no ensino superior, "parceria" é uma das abordagens populares para a revitalização do setor na África. É fato que o ensino superior na África sempre foi uma questão internacional, graças à sua história e trajetória; assim sendo, esse avanço pode não parecer surpreendente. O presente artigo analisa tendências emergentes nas parcerias de ensino superior na África e explora oportunidades e desafios, com base nos recentes
desenvolvimentos e na experiência anterior.
 
Mercado das parcerias no ensino superior
Já se pensou que a África poderia tornar-se menos atraente para o restante do mundo com o fim das hostilidades entre os rivais da Guerra Fria. Em 20 anos, essa previsão revelou-se equivocada à medida que as realidades econômicas e (geo)políticas atuais levaram a um reengajamento das potências "históricas" e também das emergentes em relação à África.
 
Como parte dessa realidade global mais ampla, o ensino superior na região também voltou a atrair o interesse internacional – incluindo o da União Europeia, dos Estados Unidos, do Canadá, da China, da Índia e do Brasil. Segue-se um retrato de algumas dessas parcerias.
 
Iniciativa americano-africana para o ensino superior – Em julho de 2007, formou-se um grupo de universidades dos Estados Unidos e da África para lançar uma iniciativa de parceria a fim de reforçar a capacidade do ensino superior africano de contribuir com áreas de desenvolvimento prioritário. A lei Omnibus Appropriations aprovada nos EUA em 2010 dedica US$ 15 milhões à parceria (http://www.aplu.org).
 
Parceria africano-canadense para o ensino superior – A Associação de Universidades Africanas (AAU), em parceria com sua congênere do Canadá (AUCC), lançou o plano "Reforçando relações entre envolvidos no ensino superior africano". Os três componentes do plano são: reforçar o alcance das universidades africanas; elos Universidade-Indústria; e reforçar relações dos membros da AAU trabalhando em parceria com a AUCC (http://www.aau.org).
 
Parcerias entre o sul da África e os países nórdicosA cooperação universitária entre nações do sul da África e países nórdicos (Southern African-Nordic Centre, ou Sanord) é uma parceria entre 25 instituições de ensino superior voltadas à pesquisa de países como Dinamarca, Finlândia, Islândia, Noruega e Suécia e instituições de Malaui, África do Sul e Zâmbia. O Sanord tem como objetivo o avanço da colaboração acadêmica multilateral entre instituições nos países nórdicos e nas regiões do sul da África, tratando dos desafios de inovação e desenvolvimento (http://sanord.uwc.ac.za).
 
Parceria entre União Europeia e União Africana para o ensino superior – A Comissão da União Europeia e a Comissão da União Africana estão formando uma parceria de múltiplos níveis para revitalizar o setor do ensino superior na África. Estes incluem o lançamento do Plano de Mobilidade Intra-ACP, chamado agora de Programa Consolidado de Bolsas Nyrere, o Projeto de Harmonização e Ajuste e a Iniciativa Universitária Pan-Africana.
 
Parcerias escandinavas – As parcerias entre universidades escandinavas e africanas é uma cooperação particularmente impressionante e contínua. Noruega e Suécia em especial dedicaram à ela um grande volume de recursos durante muitas décadas, mesmo quando o apoio ao ensino superior na África inspirava pouca adesão. Durante um seminário nacional a respeito do apoio norueguês ao ensino superior em Dar Es Salaam, Tanzânia, realizado em novembro de 2010, foi relatado que a Agência Norueguesa para a Cooperação e o Desenvolvimento (Norad) tinha destinado mais de 750 milhões de coroas norueguesas a essas atividades.
 
Serviço alemão de intercâmbio acadêmico (DAAD)– Há mais de duas décadas o DAAD tem sido um nome importante nas parcerias universitárias com a África. Atualmente, há mais de 35 parcerias do DAAD envolvendo pelo menos uma instituição africana. Além disso, são apoiados cinco novos centros africanos de excelência e cinco novos centros internacionais de excelência com participação de universidades africanas. Uma nova abordagem de parceria possibilita a colaboração do DAAD e da associação universitária alemã com associações universitárias e autoridades supervisoras do ensino superior no desenvolvimento de sistemas de controle de qualidade (http://www.daad.de).
 
Os parceiros "históricos"
Orientadas por uma variedade de objetivos e interesses, há hoje numerosas parcerias entre a África e seus demais parceiros "históricos". Elas incluem o Programa Austríaco de Parcerias no Ensino Superior e na Pesquisa em Desenvolvimento (Appear), a Comissão Universitária para a Cooperação com Países em Desenvolvimento (CUD, da Bélgica), a Parceria Irlandesa e Africana para a Construção de Capacidade de Pesquisa (IAP), a Organização Holandesa para a Cooperação Internacional em Ensino Superior (Nuffic) e as Parcerias Britânicas de Ensino para a África (EPA).
 
Os parceiros emergentes
As potências políticas e econômicas emergentes – como Brasil, China e Índia – também estão envolvidas numa série de formas de apoio ao desenvolvimento universitário, bem como em esforços de ampliação da capacidade das instituições africanas de ensino superior. A Rússia e outros países que fizeram parte do bloco oriental também estão participando, depois de passarem duas décadas ausentes do envolvimento internacional na região. A África do Sul, principal potência regional, também luta para estabelecer parcerias universitárias com outros países africanos.
 
Internacionalização como instrumento de ampliação da capacidade
Nem é preciso dizer que tais parcerias são vitais para a ampliação da capacidade de ensino, de aprendizado e de pesquisa. Atividades conjuntas de pesquisa desempenham um papel importante no fomento da capacidade de pesquisa, nutrindo a cultura pesquisadora, avançando as fronteiras do conhecimento e estabelecendo marcos comparativos para o controle de qualidade. Parcerias de pequisa conjunta desenvolvidas meticulosamente no longo prazo apresentaram resultados positivos.
 
Na Etiópia, por exemplo, as cooperações interuniversitárias mantidas com o apoio da Agência Sueca de Desenvolvimento Internacional (Sida) e a Cooperação para o Desenvolvimento Universitário – Conselho Interuniversitário Flamengo (VLIR-UOS), na Bélgica, produziram resultados impressionantes. Um grande pool de Ph.D.'s foi produzido; numerosos programas foram desenvolvidos; e capacidades sustentáveis foram firmadas. O mesmo vale para a Tanzânia, que recebeu o apoio da Norad. Muitos concordam que tais resultados teriam sido impossíveis de atingir sem os recursos financeiros, logísticos e humanos cuja oferta se deu por meio de compromissos conjuntos de longo prazo.
 
Apoiando iniciativas bem-sucedidas e eliminando os fracassos
Quando a ampliação da capacidade costuma ser evocada no contexto da cooperação universitária, a percepção geral diz que os parceiros do Sul são os principais – talvez os únicos – beneficiados pela cooperação. Ainda mais frustrante é o fato de esta percepção ser muitas vezes internalizada pelos parceiros do Sul. Ainda assim, embora seus benefícios não tenham sido clara e explicitamente documentados, os parceiros do Norte também são beneficiados pelas parcerias sob muitos aspectos.
 
Mesmo deixando de lado os benefícios imediatos e visíveis, o know-how necessário para superar problemas gera um capital de conhecimento nacional e institucional para o Norte. Dentro das realidades globais atuais, onde o global é local e o local é global, os benefícios mútuos de tal cooperação não devem ser subestimados e, sem dúvida, não podem ser ignorados.
 
Embora a modalidade e a abrangência das parcerias – que almejam tornar-se específicas no ensino superior – sejam variadas, complexas e numerosas, tais práticas nem sempre são bem-sucedidas ou eficazes. Em muitos casos, simplesmente deixam de corresponder às expectativas por uma série de motivos: da escassez de recursos financeiros até a fraqueza do suporte logístico, do planejamento insuficiente à execução precária, das políticas equivocadas aos parâmetros mal articulados, e da liderança instável ao acompanhamento inconsistente.
 
Conclusão
Ao declarar o ensino superior uma ferramenta vital para o desenvolvimento, regimes bilaterais e multilaterais, fundações e outros parceiros no desenvolvimento passaram agora a apoiar o setor, embora ainda com entusiasmo contido, como mostra o mais recente relatório da Comissão Africana (2010). Entretanto, a persistência de pautas concorrentes definidas por doadores, a falta de sustentabilidade, a imprevisibilidade dos recursos dos doadores, a harmonização precária e a falta de coordenação e administração ainda prejudicam sua evolução.
 
Conforme aumenta o número de parcerias institucionais, seu impacto nos recursos institucionais (tempo, financiamento e infraestrutura) e nas dinâmicas institucionais (coesão, complementaridade e sintonia entre as prioridades) pode ser considerável. Isso pode se mostrar verdadeiro especialmente nos países que contam com poucas instituições capazes de participar de parcerias numa região que tende a atrair mais apoio ao desenvolvimento.
 
Por fim, é imperativo que o mercado de parcerias para a região seja orientado por agentes responsáveis, pragmáticos e bem informados tanto ao Norte quanto ao Sul. É do interesse de todos os envolvidos, tanto no Norte quanto no Sul, que haja um impacto sustentável e um resultado significativo na retomada do envolvimento com a África.
 
capa da edição impressa nº 5 | abril de 2012