27/07/2015

International Higher Education | 80 | Especial 20 anos

Os MOOCs no mundo em desenvolvimento: esperança ou propaganda exagerada?

Ben Wildavsky
Professor de estudos do ensino superior na Nelson A. Rockefeller Institute of Government, State University of New York, e professor de política na State University of New York-Albany. Este ensaio foi adaptado de um artigo publicado no número de Maio/Junho de 2014 da International Educator. E-mail: ben.wildavsky@suny.edu
A primeira turma de universidade a usar o pesado acrônimo de Curso Online Aberto e Massivo, do inglês Massive Open Online Course (MOOC) foi criada em 2008 na Universidade de Manitoba. Porém a tão aclamada revolução MOOC só decolou muitos anos mais tarde, com o surgimento dos Três Grandes: Udacity para fins lucrativos e Coursera— organizações educacionais, a Harvard-Massachusetts Institute of Technology collaboration EdX sem fins lucrativos — cursos online. Estes permanecem como os mais conhecidos atores atualmente, apresentando comumente aulas gratuitas e que não conferem créditos para um determinado grau ou diploma, em uma combinação de segmentos de pequenos vídeos, questionários, grupos de discussão online, e tarefas de redação avaliadas por pares.  
 
Desde o início, o potencial global dos MOOCs, em particular no mundo em desenvolvimento, foi uma grande parte do que os tornou tão cativantes. Quando dois renomados cientistas da computação na Universidade de Standford tomaram a iniciativa e apresentaram o curso de Introdução à Inteligência Artificial online, oferecendo gratuitamente em qualquer lugar no mundo, rapidamente atraíram 160,000 estudantes de 190 países. Havia comprovadamente mais estudantes matriculados da Lituânia que os membros do corpo estudantil de Standford.
 
Desde então, outros MOOCs se expandiram em grande escala. Coursera, o maior provedor de MOOC registrou 10 milhões de estudantes em cursos oferecidos por 100 universidades. Seu modelo de negócio permanece ainda não comprovado, mas as perspectivas e as remunerações são suficientemente atraentes, quando se considera ter recebido $85 milhões em financiamento de risco. Juntamente com o crescimento vem uma ambição cada vez maior. O Coursera proclama uma visão de futuro em que “todos tenham acesso a uma educação de classe mundial que até o presente tem estado disponível apenas para alguns seletos.”
 
Os céticos
Contudo, se o advento dos MOOCs foi seguido de um enorme entusiasmo relacionado ao seu potencial de democratizar o acesso a uma educação de alta qualidade em países pobres, não demorou muito para que a ilusão dos MOOCs cedesse lugar ao ódio, ou pelo menos a um intenso ceticismo. Os críticos argumentam que os impulsionadores dos MOOCs têm feito alegações amplamente exageradas sobre quem realmente se beneficia de cursos gratuitos online de grande escala. Além disso, veem os MOOCs como mal adaptados para culturas não ocidentais e até como instrumentos do neocolonialismo.
 
Os MOOCs são realmente um benefício para o mundo desenvolvido, ou foram promovidos em demasia? Os críticos citam bastante evidência para reforçar seus pontos de vistas. Por exemplo, a maioria dos estudantes do MOOC já é graduada e vive em países desenvolvidos. Quando a Universidade da Pensilvânia pesquisou os mais de 400,000 usuários ativos de seus cursos do Coursera, descobriu que dois terços destes vinha dos Estados Unidos, outra Organização para a Cooperação Econômica e de nações desenvolvidas. Esses 34 países industrializados respondem por 18 por cento da população do mundo.
 
Contudo, os MOOCs parecem não está alcançando estudantes com pouca formação pós secundaria. A mesma pesquisa descobriu que 83 por cento dos estudantes que assistem às aulas do Penn Coursera já tem graduação de dois e quatro anos (e cerca de dois terços destes em países em desenvolvimento são do sexo masculino).
 
Além disso, os MOOCs têm notoriamente elevados índices de desistência. Apenas 5 por cento daqueles matriculados em 17 turmas do EdX em 2012 e 2013 receberam certificado de conclusão.
 
Por ultimo, as difamações continuam, e a democratização da educação conforme prometida pelos fomentadores do MOOC fica aquém do prometido, pois se baseia na falsa suposição de que o resto do mundo se beneficiará do que o MOOC promove. Os críticos denominam os MOOCs de instrumentos elitistas da dominância acadêmica ocidental e que não são apropriadamente adaptados para culturas não ocidentais, podendo abalar ainda as instituições locais e tradições acadêmicas. 
 
Faz mais bem do que mal
Decerto não é surpresa nenhuma que a onda dos MOOCs que teve seu pico em 2012 tenha dado lugar a tanto ceticismo. Algumas das advertências oferecidas pelos críticos merecem exame minucioso e sério. Contudo os MOOCs provavelmente farão mais bem que mal no mundo em desenvolvimento, particularmente se forem vistos como formas em evolução de uma pedagogia viabilizada por tecnologias e não como uma forma estática.  
 
Os destruidores do mito dos MOOCs estão corretos ao perceberem que não ocidentais com pouca instrução e de países de baixa renda compõem uma minoria distinta de estudantes do MOOC, e que os índices de conclusão são baixos. Mas tais observações podem ser enganadoras. Os números de matriculas no MOOC são tão grandes que mesmo um índice de 90 por cento de não conclusão pode ainda resultar em um número bastante atraente de 10.000 estudantes com certificados de conclusão. Igualmente, muitos estudantes considerados como “desistentes” podem ter participado de cursos de período experimental, sem jamais terem pretendido concluir os programas. 
 
As origens educacionais dos estudantes, também, não são universalmente privilegiadas, conforme as primeiras aparências podem sugerir. Embora dois terços dos matriculados no curso de EdX em 2012 e 2013 declararam ter formação pós ensino médio, restando 223,000 com o ensino médio ou menos.
 
Além disso, não seria de espantar que pessoas mais ricas e com uma educação melhor têm dominado as primeiras ondas das matriculas no MOOC. Afinal, as revoluções do computador pessoal e da internet iniciaram-se com as elites, antes de gradualmente atingirem amplas faixas da sociedade.
 
E com relação ao suposto neocolonialismo ocidental no conteúdo acadêmico dos MOOCs, afiliação institucional e pedagogia? Talvez a primeira resposta a uma crítica tão ideologicamente carregada é de que ninguém está sendo forçado a se registrar nos MOOCs. Assim como as universidades ocidentais representam um enorme atrativo para estudantes de países em desenvolvimento que têm os meios e a motivação para frequentá-los pessoalmente, os cursos online no formato da Stanford University e do Massachusetts Institute of Technology representam um apelo significativo. 
 
Trabalho em curso
Não há problema em questionar se os MOOCs podem ser eficazes pedagogicamente em uma variedade de contextos culturais. Mesmo assim, a maneira mais útil de se pensar sobre eles no mundo em desenvolvimento é aquela em que os vemos como trabalhos em curso. Em resumo, nos encontramos em um período de experimentação de grande escala.
 
Assim como nos Estados Unidos, alguns MOOCs poderiam terminar levando às certificações práticas de curto prazo, em vez de formações plenas. Alguns terminarão apelando por participantes com perfil de “navegadores” primários, comparáveis a usuários de biblioteca. Para estudantes mais envolvidos, há uma atenção crescente com relação aos modelos compostos que faz uso da forma mais produtiva do conteúdo de um curso de alta qualidade e ao mesmo tempo fornecem instruções aos estudantes face a face, adaptadas aos seus próprios pontos positivos e negativos.
 
Na África, por exemplo, onde 93 por cento da população em idade universitária não está na faculdade, uma gama de MOOCs e de iniciativas semelhantes ao MOOC estão servindo aos estudantes com programas compostos de aprendizado. Encontrar a tecnologia mais apropriada é um desafio. Conexões de internet de banda larga são muitas vezes de difícil acesso, o que faz com que os celulares sejam a melhor forma de alcançar os estudantes. O especialista em Desenvolvimento Guy Pfefferman observa que 25 milhões de africanos tinham celulares em 2001— um número que saltou para 280 milhões em meados de 2013. Em países como Tanzânia, Gana, Nigéria e Camarões, 80 por cento ou mais da população agora possui telefones celulares.
 
Face a este cenário, o EdX anunciou uma parceria com o Facebook para criar um projeto denominado de SocialEDU. A ideia do programa piloto, que será iniciado em Ruanda, é aquela de ir além da tecnologia do MOOC de atualmente para construir uma plataforma que capitalize dispositivos moveis prontamente disponíveis e baratos. O conteúdo fornecido pelo EdX será gratuito. O Facebook controlará o app e criará o ambiente de aprendizado móvel que muitos acreditam ser crucial para se tiver cursos de alta qualidade e gratuitos em uma escala semelhante a do mundo em desenvolvimento.
 
A combinação da expansão das aspirações educacionais, grandes avanços tecnológicos, e uma pedagogia mais criativa levarão inevitavelmente a uma experimentação mais global com os MOOCs, não obstante os opositores. Os MOOCs certamente precisarão evoluir para servir aos estudantes de maneira mais eficaz. Contudo, os padrões para novas formas de ensino superior não devem ser a perfeição, mas como se comparam com as alternativas altamente imperfeitas com as quais muitos estudantes, particularmente nos países mais pobres se deparam.
 
Este texto foi traduzido e revisado sob a coordenação de
Sergio Azevedo Pereira
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