27/07/2015

International Higher Education | 80 | Especial 20 anos

O triplo enigma da África: expansão, consolidação e (sub)emprego

Damtew Teferra
Professor e líder de Treinamento e Desenvolvimento do Ensino Superior e diretor fundador da Rede Internacional para o Ensino Superior na África, University of Kwazulu-Natal, Durban, África do Sul. E-mail: teferra@ukzn.ac.za
O ensino superior africano tem registrado um crescimento assinalável na última década. Atualmente, estima-se que 14 milhões de estudantes estudam em instituições do ensino superior na região do Egito, Nigéria, África do Sul e Etiópia. Mais de 500 instituições públicas e 1.500 universidades privadas operam na região. Mesmo assim, o índice de matricula, em cerca de 6 por cento representa um dos mais baixos do mundo.
 
Se a expansão do acesso pudesse ser triunfantemente descrita como o sucesso do ensino superior africano, as duras realidades de sua qualidade diminuiria esta declaração. Na mesma proporção que as matriculas no sistema tem crescido exponencialmente, a qualidade do ensino, aprendizado e da pesquisa tem sofrido vertiginosamente. A expansão maciça tem sinalizado que o tamanho das classes cresceu exageradamente, docentes sobrecarregados, recursos em declínio, atividades cortadas e instalações deterioradas — criando a tempestade perfeita para a crise de qualidade.
 
As implicações do crescimento maciço estão acima de tudo evidentes no cenário da pesquisa. Os números da África relacionados à produtividade da pesquisa são deprimentemente baixos, mantendo-se acima de 1 por cento. Apesar do crescimento expressivo do sistema, a região tem pouco a mostrar com relação à sua produtividade do conhecimento — uma realidade agonizante na era do conhecimento. A qualidade inferior e produtividade do conhecimento continuam a caracterizar o sistema — exigindo a necessidade de consolidação da excelência, e ao mesmo tempo a busca da expansão. Melhorar a situação requer o comprometimento sustentado e recursos significativos para pesquisa e desenvolvimento.
 
Como a expansão é rápida e a consolidação é oscilante, a situação de desemprego antes tolerada com relutância para as pessoas com uma formação universitária, emergiu com força. O continente está agora inundado de graduados desempregados e subempregados, em muitos casos incitando a ação organizada. Como a África contabiliza seus índices de matriculas em um único dígito e ainda precisa alcançar o resto do mundo — o desemprego em grande escala de graduados tem aparecido como um sério quebra-cabeça nacional, regional e internacional, seguindo a Primavera Árabe, supostamente provocada por graduados desempregados.
 
A expansão do ensino superior é parte de planos de desenvolvimento nacionais, embora suas implementações sejam progressivamente contrabalançadas por caprichos políticos restritos. Assim, as aberturas de novas instituições públicas são influenciadas por imperativos políticos e não pela relevância e pertinência. Abrir uma universidade tornou-se parte de um manifesto político por toda a região, realizado tanto por titulares como pelas oposições na esperança de obterem votos eleitorais. Uma politica crassa desta natureza tende a minar a possível diferenciação do sistema, colocando mais pressão na delicada relação entre expansão e consolidação, quantidade e excelência. Pontos de vista igualitários de todas as instituições públicas em um país em pé de igualdade não são apenas falhos, mas também caros. 
 
O triplo enigma do ensino superior africano é tão complexo quanto ameaçador — sem nenhuma resolução ou alívio à vista. Assim, a diferenciação significativa do sistema, expansão dos modos de fornecimento, financiamento diversificado, regimes de qualidade rigorosos, autonomia institucional saudável, e um “currículo sólido” ajudam a enfocar a situação difícil e confusa.
 
Crescimento macroeconômico sustentável, oportunidades de investimento, declínio dos conflitos internos, governos mais responsáveis e transparentes — atribuídos à crescente autoconfiança e imagem global africana — e ainda importante, as percepções favoráveis do ensino superior aumentam o otimismo no panorama do desenvolvimento do ensino superior no continente.  
 
Este texto foi traduzido e revisado sob a coordenação de
Sergio Azevedo Pereira
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