27/07/2015

International Higher Education | 80 | Especial 20 anos

O mercado acadêmico revisitado

Maria Yudkevich
Vice-reitora na National Research University - Escola Superior de Economia. E-mail: 2yudkevich@gmail.com
Por muitas décadas, nossa imagem da universidade foi associada com a metáfora da torre de marfim. Embora esta metáfora esteja profundamente arraigada em nossas mentes, não a questionamos. Entretanto, ela não é mais nem torre nem marfim. Por certo, a identidade da universidade e as fronteiras tornam-se cada vez mais obscuras e ilusórias. Existem pelo menos várias razões para tal.
 
Primeiramente, as novas tecnologias do ensino e aprendizagem desafiam o monopólio da universidade na obtenção tanto do conhecimento aplicado como do fundamental. O número de estudantes que acompanham cursos nas principais plataformas educacionais online cresce exponencialmente, e o corpo docente em muitas universidades precisará pensar em como ajustar seus cursos de modo a continuar como uma alternativa atraente para os estudantes.
 
Embora as vantagens de uma universidade forte na provisão de serviços educacionais sejam evidentes, instituições massivas intermediárias ou denominadas como middle-tier devem identificar como competir por estudantes em potencial — não apenas com outras universidades, mas também com provedores online. Com transações de custos mais baixos da combinação do currículo de diferentes provedores em diferentes universidades, os melhores e mais exigentes estudantes ainda se matricularão em uma universidade ou combinarão experiências de diferentes instituições?
 
Segundo, docentes juniores tradicionalmente contratados para posições de pesquisador, inicialmente em caráter probatório tinham uma boa chance de serem efetivados. Atualmente, as chances são substancialmente menores. O índice de posições permanentes torna-se significativamente menor em muitos países e a idade para se conseguir uma primeira posição estável está aumentando. 
 
Por certo, o monopólio das universidades na produção da pesquisa básica também é desafiado pelas organizações de pesquisa e corporações não universitárias. Estas organizações competem pelos melhores acadêmicos e oferecem condições competitivas — em alguns casos, incluindo emprego de longo prazo e estabilidade — tanto em termos de salários como oportunidades de pesquisa.
 
Finalmente, há uma crescente pressão dos critérios de desempenho de produtividade e a necessidade de busca constante de oportunidades de financiamento externo. Esta pressão poderá negativamente afetar as normas acadêmicas de excelência, que presume a motivação intrínseca pela busca de novos conhecimentos, levando as universidades a considerar os docentes mais como funcionários, com indicadores claros de desempenho, e não como uma comunidade de acadêmicos. 
 
A massificação do ensino superior leva a um crescimento substancial no número de universidades e também contribui para diversidade. As universidades de diferentes partes de um continuum de qualidade ainda reconhecerão umas as outras como espécies da mesma classe em 20 anos? Existirá muito em comum entre as universidades de pesquisa de primeira linha e aquelas em algum lugar na hierarquia acadêmica? Estamos prestes a ter universidades de pesquisa tradicionais que são raras exceções entre as inúmeras instituições que “costumavam serem organizações universitárias”?
 
Como as universidades estão entre as organizações mais estáveis ao longo dos séculos, podemos contar que existirão por muitas outras eras. Entretanto, a pergunta é qual serão suas fronteiras, como serão definidas suas identidades organizacionais, e se as melhores e mais brilhantes mentes estarão dispostas a trabalhar por lá.
 
Este texto foi traduzido e revisado sob a coordenação de
Sergio Azevedo Pereira
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