25/04/2012

International Higher Education

Novas maneiras de classificar universidades

Robert Birnbaum
Professor emérito de pedagogia do ensino superior na Universidade de Maryland, College Park. E-mail: rbirnbaum@umd.edu
International Higher EducationÉ chegado novamente o momento de classificar as universidades de acordo com o seu desempenho, e os relatórios recém-divulgados para o ano de 2011 – sejam eles vindos da China, da Grã-Bretanha ou de outros locais – estão provocando sorrisos de satisfação e caretas nervosas nas instituições de todo o mundo. Embora tais procedimentos de classificação tenham pouca relevância educacional, têm significado simbólico, econômico e político. Conferem a certos países e instituições o "direito de se gabar", encorajando também guerras pelo prestígio. Algumas instituições são levadas a se aproveitar dos filtros do sistema, implementando mudanças que trazem pouco impacto positivo para o ensino, mas respondem aos critérios usados pelos responsáveis pela classificação. Impelida pelo mantra racionalista da prestação de contas (accountability), a noção de que uma classificação internacional traz benefícios positivos, embora frequentemente citada, nunca foi comprovada. O próprio conceito parece apresentar muitas das características de uma moda acadêmica: faz o efêmero parecer científico, aumenta a atividade, mas leva a poucas melhorias substanciais.
 
Para acrescentar um elemento mais colorido ao insosso exercício de classificação, propus anos atrás cinco maneiras alternativas de separar o joio do trigo. O "sistema de salsicha" sugeria que todas as classificações – sem levar em conta se são rankings das melhores faculdades para promover baladas ou das universidades com mais prêmios Nobel – fossem combinadas para criar uma única metaclassificação. O "sistema de Lake Wobegon" propôs a expansão do número de instituições que poderiam ser incluídas entre as "Cinquenta melhores universidades de nível internacional", de modo a possibilitar que uma maior quantidade delas pudesse ser considerada acima da média. O "sistema de Jeremy Bentham" classificaria as instituições de acordo com o nível de felicidade que produzissem. O "sistema olímpico" sugeria que as classificações tivessem como base a concorrência direta entre os membros do corpo docente em feitos exigindo vigor físico, envolvendo-se ao mesmo tempo em trabalhos acadêmicos. Por fim, o "sistema de Jorge Luis Borges" propunha que já haveria uma lista trazendo a verdadeira classificação comparativa das universidades, sendo necessário apenas que a descobríssemos em meio a tantas outras listas semelhantes – mas incompletas ou falhas.
 
Novos critérios
Um progresso significativo foi alcançado agora em relação a algumas dessas propostas. Talvez o avanço mais expressivo tenha se dado na implementação do sistema de salsicha, que ganhou força recentemente graças ao seu emprego na análise das políticas públicas. Como exemplo, o Índice Ibrahim de Governança Africana é um meio amplamente reconhecido e muito influente de avaliar o desempenho dos governos daquele continente. O índice é elaborado a partir de algumas variáveis sofisticadas (são 89 atualmente). As classificações comparativas dessas variáveis, incluindo medidas da influência da corrupção no governo ou o uso de celulares, são então combinadas num único número de acordo com o qual os governos são ordenados. O aspecto genial do índice final está no fato de ele ser construído a partir de uma soma direta das muitas variáveis, às quais não são atribuídos diferentes pesos – de modo a impedir que a mortalidade infantil seja considerada mais importante do que a liberdade de imprensa, por exemplo. Assim como o Índice Ibrahim é usado por algumas fundações e organizações não governamentais como um guia para orientar a distribuição dos recursos, um sumário único de todas as classificações institucionais – sem atribuir a elas diferentes pesos – pode ser usado um dia para identificar os melhores dentre os melhores na academia. Os primórdios de uma possibilidade desse tipo já podem ser vistos no novo sistema de classificação U-Multiranking, patrocinado pela Comissão Europeia, que cria métricas em cinco áreas – do ensino à transferência de conhecimento. Usando esse sistema, qualquer grupo ou instituição pode aplicar o peso desejado às variáveis escolhidas, possibilitando assim que cada um deles determine os critérios de acordo com os quais deve ser julgado. Como opina o personagem Dodô em Alice no País das Maravilhas após a caótica corrida eleitoral em que os participantes começavam, paravam e se movimentavam quando bem entendiam – "todos ganharam, e todos devem ser premiados". Ora, por que não?
 
O sistema de Lake Wobegon também parece estar atingindo a maturidade. Embora a ampliação do número de instituições bem classificadas seja uma maneira óbvia de distribuir a riqueza, a ideia de fazê-lo por meio da identificação de aproximadamente 100 instituições como integrantes da relação das 50 melhores pode ter sido um exagero quando foi proposta pela primeira vez. Mas esse processo foi recentemente adotado pela Academia de Artes e Ciências Cinematográficas, que aumentou de 5 para 10 o número de possíveis indicados para o Oscar de melhor filme. Para as universidades, as implicações dessa mudança são impressionantes: assim como não há uma limitação conceitual para o número de filmes que podem ser considerados candidatos a "melhor filme", não há limite para o número de universidades que podem ser consideradas "de nível mundial". Quando Hollywood estabelece uma tendência, quanto tempo pode demorar até que outras instituições sociais sigam o mesmo rumo? De fato, a China parece já ter adotado uma variante desse sistema. Em 2007, o Ministério da Educação teria classificado mais de 80% de suas instituições de ensino como "excelentes". Não vai demorar até que todas sejam consideradas acima da média.
 
Será que a classificação nos torna melhores?
Essas tendências não devem ser consideradas surpreendentes. A vida imita a arte, como sabemos, e não devemos estranhar que a busca pela universidade ideal nos conduza por direções incomuns que possamos ter descartado originalmente. Os debates atuais envolvendo a determinação de qual dentre as métricas em uso seria considerada a melhor podem refletir uma guinada na direção do sistema de Borges... É claro que a análise de uma classificação mundial por meio do sistema de Bentham ou do sistema olímpico é uma ideia que ainda não ganhou força perceptível... Entretanto, independentemente de sua utilidade, a demanda por classificações comparativas parece insaciável.
 
O mais recente apoio para o desenvolvimento de universidades de nível mundial foi oferecido pela Declaração de Riad, em 2011, que renunciou às classificações e tabelas sem com isso deixar de concluir que os sistemas nacionais deveriam sustentar, entre outras coisas, universidades que tenham um processo seletivo rigoroso e missões de pesquisa. Para muitos – talvez a maioria – dos sistemas nacionais, a ênfase no desenvolvimento de uma classificação de nível mundial não deve caber às universidades de pesquisa, e sim às instituições regionais e locais, dando prioridade ao ensino e aos currículos com base nas necessidades sociais. O problema é que recebemos aquilo que medimos; incentivar países menos desenvolvidos a direcionar seus recursos para o estabelecimento de instituições de nível mundial é algo que pode, ironicamente, inibir o desenvolvimento da infraestrutura básica de ensino da qual dependem, no limite, a existência e a manutenção de grandes universidades. As instituições de pesquisa de nível mundial podem surgir mais tarde, mas somente uma vez que os alicerces do ensino dos quais essas instituições dependem já tiverem sido desenvolvidos e nutridos.
 
capa da edição impressa nº 5 | abril de 2012