10/04/2015

International Higher Education | 78

Mudança ideológica na internacionalização do ensino superior indiano

Mona Khare
Professora no Centro de Pesquisas de Politicas em Ensino Superior: Departamento de Planejamento Educacional na National University of Educational Planning and Administration, Nova Deli, 110016 E-mail: monakhare@nuepa.org
O contexto de expansão econômica da Índia dos últimos anos tem sido apoiado pelo setor de serviços de rápido crescimento, a crescente participação em mercados globais, o franco crescimento da classe média e o acelerado crescimento da população jovem.   Com a faixa etária universitária na Índia, projetada para chegar a 400 milhões até 2030, a comunidade internacional vê a Índia como um parceiro importante no desenvolvimento da educação. O sentimento global é apoiado pelo contínuo enfoque dado ao 12º Plano Quiquenal de fazer da Índia um centro educacional regional, fomentando colaborações internacionais maiores. Este é o resultado obvio do aumento da globalização e internacionalização da educação em todo mundo e também o desejo da Índia de emergir como um centro de educação regional como parte de sua estratégia para fortalecer sua presença regional econômica e politicamente.
 
Aumento de intercâmbio e colaborações — mudança de ideologia
A abertura da economia então em restrições financeiras na década de 1990 foi uma mudança que representou um marco na ideologia da Índia, do “protecionismo” ao “liberalismo” sendo refletida em sua abordagem do planejamento de desenvolvimento educacional. Embora os serviços na área de educação não sejam livremente negociados no âmbito do GATS, várias formas de conexão com a comunidade científica internacional têm emergido rapidamente nas últimas décadas. Embora não exista um plano estratégico explícito para agir como uma força orientadora com relação a isso, uma mudança nas práticas de internacionalização está se tornando evidente. A Índia não quer mais ser identificada como uma “nação receptora,”, mas sim emergir como um parceiro em bases iguais. O movimento da Índia de uma nação receptora do eixo Norte-Sul para uma nação parceira nos eixos Sul-Sul, Norte-Sul e a cooperação triangular é vista como o principal indicador desta mudança ideológica. Este movimento pode ser compreendido por meio das várias mudanças fundamentais e importantes dos últimos anos.
 
Co-criadores
As modalidades mais novas de cooperação educacional internacional consiste de inovação conjunta e co-criação nas direções Sul-Sul e Norte-Sul e parcerias temáticas, bem definidas e duradouras. A filantropia na cooperação educacional internacional está sendo substituída por colaborações intergovernamentais de bases mais amplas e mais sistemáticas, que estão sendo consolidadas após prolongado diálogo das políticas entre as diferentes partes interessadas, conforme termos contratuais mutuamente acordados e âmbitos reciprocamente favoráveis.   A Iniciativa do Conhecimento de Singh-Obama, com os Estados Unidos, o UKIERI UK India Education and Research Initiative / Iniciativa de Pesquisa e Educação do Reino Unido e Índia, A Indo – German Meta Universities, o Conselho de Educação Índia – Nova Zelândia e a Iniciativa de Pesquisa Índia – Israel são todos exemplos desta mudança.
 
Aumento da participação privada
A forma tradicionalmente dominante de colaborações de pesquisa que têm sido o ponto forte de instituições públicas de elevada reputação está mudando gradativamente, com a entrada das universidades privadas nos MOUs para promover programas de graduação conjuntos e duplos em anos recentes. (Entre os exemplos aqui incluídos estão os acordos entre as Universidades de Delhi e a Universidade de Massey, Nova Zelândia, Universidade de Jawahar Lal Nehru e a Universidade de Victoria, Nova Zelândia). Embora exista uma participação crescente tanto das universidades privadas como públicas / instituições no desenvolvimento de colaborações, as instituições privadas estão assumindo a liderança nisso, particularmente nos programas de ensino. Tais acordos também são enviesados a favor dos cursos profissionais e técnicos, portanto ignorando a maioria das instituições que oferecem programas acadêmicos gerais. (Manipal University com a Hochschule Bremen University of Applied Sciences na Alemanha; Instituto de Gestão hoteleira, Aurangabad com a University of Huddersfield, Reino Unido; Shiv Nadar University com a Carnegie Mellon University, Annenberg School of Communication são alguns dos exemplos entre muitos.) Uma mudança da área de pesquisa e treinamento para ensino permitirá uma exposição global a uma comunidade estudantil maior. Contudo, com a presença das instituições privadas liderando a corrida, tais oportunidades tendem a permanecer restritas a uma pequena elite. Além disso, não é infundado o temor de que os fornecedores do ensino privado possam explorar vantagens mais promissoras para obter lucro via práticas de colaboração não regulamentadas, ignorando a qualidade e equidade.
 
Ênfase no intercâmbio de conhecimento
A Índia não está apenas interessada em aprender das melhores práticas fora do país, mas também busca explorar sua própria vantagem comparativa em ciências nativas, arte e herança cultural. Também está ativamente envolvida no intercâmbio de conhecimento e capacidades com relação a tais desafios globais como a crise energética, segurança alimentar, biofarmacêuticos e desenvolvimento das biociências, degradação ambiental e questões de saúde e de subsistência. Formação profissional e desenvolvimento de habilidades, liderança institucional, plurilinguíssimo e a capacitação em língua estrangeira são também áreas emergentes de interesse (evidência de tais desenvolvimentos pode ser vistos nas parcerias do conselho de capacitação do setor industrial Índia – Austrália, junto com o interesse emergente no modelo da faculdade comunitária americana).
 
O escopo de tais iniciativas tende a aumentar com instituições tutelares como a Associação das Universidades Indianas conquistando participação em outras associações tutelares similares de outras nações (ex: a Mobilidade da Universidade na região do Oceano Índico, A Rede Global de Universidades para a Inovação, Catalunha Espanha; a Federação Esportiva da Universidade Internacional; a Federação Esportiva da Universidade Asiática) para fomentar maior sinergia e promover a cooperação em uma vasta gama de áreas, tais como inovação, esportes, reconhecimento mútuo de qualificações, gestão universitária etc.
 
Enfoque regional
O desejo da Índia de emergir como um centro educacional regional está evidenciado, pelo fato dos 12 programas de intercâmbio educacional em nível nacional / MOUs firmados durante os últimos três anos, 8 estarem focados nas regiões asiáticas e africanas. Dados disponíveis revelam que dos 28.000 estudantes estrangeiros de cerca de 140 países que estudam na Índia, um grande número é do Sul em desenvolvimento. A Índia também está obtendo alcance na região através de sua rede de ensino à distância (A maior universidade aberta da Índia, A Indira Gandhi National Open University, tem quase 300 centros de estudo em 38 países, a maioria localizada na África, Ásia Central e região do Golfo Pérsico). Merecendo especial menção aqui é o desenvolvimento de universidades / centros plurinacionais de educação regional, como a South Asian University - estabelecida pelos Estados membros da SAARC, e o Mahatma Gandhi Institute of Education for Peace and Sustainable Development, Instituto de Educação para a Paz e Desenvolvimento Sustentável Mahatman Gandhi, designado como instituto de categoria I da UNESCO na região Ásia-Pacífico, assim como na India-Africa Virtual University. O objetivo de tais instituições é trabalhar em conjunto em questões de interesse comum de modo mais integrado, fornecendo uma plataforma multilateral, multicultural tanto para os estudantes como para a faculdade dos países vizinhos.
 
Conclusão
Tanto o número como as dimensões das colaborações internacionais tem aumentado, com a adoção de uma abordagem mais aberta da Índia depois da década de 1990. Contudo, neste novo frenesi de internacionalização do ensino superior e a “notoriedade” vinculada a uma formação no exterior na sociedade indiana, um número de universidades estrangeiras abaixo do padrão (até mesmo não reconhecidas) tem ganhado espaço em solo indiano. O monitoramento rigoroso e governança, com intervenção governamental estratégica no sentido de fornecer direcionamento claro e resultados quantificáveis para todos estes empreendimentos colaborativos é imperativo. O desejo de emergir como um parceiro igual está sujeito a parâmetros de qualidade. A diminuição da qualidade do ensino superior na Índia tende a ser o principal empecilho para que as principais universidades e instituições colaborem com a Índia. Assim como internamente, as diferenças de qualidade em uma variedade de fornecedores do ensino superior poderão levar a polarização posterior, já que apenas as instituições boas e do topo do ranking conseguiriam colher os benefícios da internacionalização. Isso poderá ter implicações de longo prazo de divisões sociais, advindas do “empobrecimento acadêmico global”.
 
As intenções visíveis do rápido processo de internacionalização da Índia agora requerem um direcionamento de politica clara. Com o tão debatido projeto de lei de 2010 de Instituições Estrangeiras de Ensino (Regulamentação de Entrada e Operações) ainda aguardando, junto com mudanças no ministério cobre de ambiguidade o futuro.   Contudo, uma coisa é certa: não há maneira de voltar a trás, exceto fazer o melhor das novas oportunidades, pois as necessidades internas e aspirações são elevadas. O estabelecimento de estratégias de internacionalização em três níveis – global nacional e institucional apoiado pela forte necessidade de criação de competências que podem ser traduzidas em aspectos práticos pode contribuir grandemente para o avanço dessa marcha.
 
Este texto foi traduzido e revisado sob a coordenação de
Sergio Azevedo Pereira
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