13/06/2013

International Higher Education

Mobilidade dos estudantes internacionais nos Estados Unidos

Christine A. Farrugia e Ashley Villareal
Christine A. Farrugia é diretora-sênior de pesquisa do Instituto de Ensino Internacional, Nova York. E-mail: cfarrugia@iie.org. Ashley Villareal é coordenadora de pesquisas do Instituto de Ensino Internacional. E-mail: avillareal@iie.org
O número de estudantes com mobilidade global quase dobrou nos últimos dez anos, passando de 2,1 milhões em 2001 para 4,1 milhões em 2011. De acordo com o relatório "Open Doors 2012: Report on International Educational Exchange", os Estados Unidos receberam 764.795 estudantes internacionais em 2011/12, um aumento de 3,7% em relação ao ano anterior. Os estudantes internacionais nos EUA correspondem agora a 19% dos estudantes com mobilidade global em todo o mundo e, conforme aumenta o número de matrículas nos campi universitários, o mesmo ocorre com a proporção de estudantes que se matriculam vindos do exterior. O número de americanos estudando no exterior chegou a 273.996 em 2010/11, um aumento de 1,3% em relação ao ano anterior e de 78% em relação a dez anos atrás.
 
Os dados neste artigo constam no Open Doors 2012, levantamento estatístico que mostra o número de estudantes internacionais matriculados nos EUA em 2011/12 e de estudantes americanos matriculados no exterior em 2010/11.
 
Taxa de crescimento dos estudantes internacionais
Pelo quarto ano seguido, a China está mais uma vez no topo da lista de locais de origem dos estudantes internacionais nos EUA, com 194.029 alunos, número que continua a crescer num ritmo acelerado (23,1%). O número de estudantes sauditas nos EUA também continua a aumentar, crescendo 50,4% em relação a 2010/11 e chegando a 34.139. A mobilidade dos estudantes sauditas é em boa medida resultado de programas de bolsas de estudo em larga escala voltados para o ensino no exterior, oferecidos pelo governo saudita. Nos próximos anos o número de estudantes brasileiros nos EUA deve aumentar como resultado do Programa Brasileiro de Mobilidade Científica, lançado em 2011. Os estudantes que participam desse programa começaram a vir aos EUA em janeiro de 2012 e seu impacto será mostrado no relatório Open Doors 2013.
 
Contrastando com as origens governamentais do grande crescimento no número de estudantes vindos de determinados países, como a Arábia Saudita, o crescimento da participação de certos países é impulsionado principalmente pela demanda estudantil. Um exemplo disto é o Irã, país que, nos últimos anos, mostrou um crescimento constante e significativo no número de estudantes matriculados nos EUA, apesar dos obstáculos enfrentados pelos iranianos na obtenção de vistos e na transferência de recursos iranianos para o financiamento do ensino e do custo de vida e das restrições impostas pelo governo americano na sua participação no estudo de determinadas disciplinas técnicas e científicas. Em 2011/12 havia 6.982 estudantes iranianos nos EUA, um aumento de 24% em relação ao ano anterior e de 150% em relação a cinco anos atrás. Entre 1974/75 e 1982/83 o Irã foi a principal origem dos estudantes estrangeiros nos EUA, chegando a um máximo de 51.310 estudantes em 1979/80, mas atingindo um mínimo de 1.660 estudantes em 1998/99.
 
Em 2011/12 pequenos declínios foram observados no número de estudantes provenientes de muitos dos principais países de origem. O número de estudantes da Índia caiu pelo segundo ano seguido. Em 2011/12 o número de indianos diminuiu 3,5%, seguindo-se a uma queda de 1% em 2010/11. O declínio no número de indianos se deve provavelmente à expansão do setor doméstico do ensino superior no país, ao crescimento da economia indiana que oferece oportunidades de emprego aos formandos e a uma significativa desvalorização da rúpia. Outros declínios foram observados no número de estudantes taiwaneses (6,3%), japoneses (6,2%), canadenses (2,6%) e sul-coreanos (1,4%).
 
Nível acadêmico dos estudantes internacionais
Os dados da edição deste ano do Open Doors refletem algumas mudanças notáveis nos padrões de matrículas dos estudantes internacionais por nível acadêmico. Pela primeira vez desde 2000/01, o número de estudantes de graduação ultrapassou as matrículas de pós-graduação, dado impulsionado em grande medida pelos estudantes de graduação vindos da China. O número destes nos EUA chegou a 74.516 em 2011/12, aumento de 30,8% em relação ao ano anterior. Um notável aumento no estudo sem diploma foi observado no número de estudantes vindos da Arábia Saudita, que aumentou 95% em relação ao ano anterior, chegando a 13.214 estudantes. A maioria destes estudantes estava matriculada em programas intensivos de língua inglesa, que apresentam um crescimento sustentado entre os estudantes sauditas que buscam um diploma, já que alguns estudantes que não receberão diplomas devem provavelmente permanecer nos EUA para se matricularem em cursos de graduação.
 
Estudantes americanos no exterior
Em 2010/11 273.996 estudantes americanos estiveram matriculados no exterior para a obtenção de créditos acadêmicos. A proporção de crescimento entre os estudantes americanos no exterior diminuiu de ritmo em 2010/11, aumentando 1,3%, menos do que o crescimento de 3,9% observado no ano anterior. Eventos realizados em vários países hospedeiros resultaram no cancelamento de muitos programas de estudos no exterior, contribuindo para o declínio em certos destinos principais. O tsunami que atingiu o Japão em março de 2011 contribuiu para uma queda de 33% no número de estudantes americanos no país, enquanto um alerta do departamento de Estado americano em relação às visitas ao México resultou numa queda de 42% no número de americanos estudando nesse país.A Primavera Árabe de 2011 teve provavelmente um impacto no número de americanos buscando o ensino no Norte da África, principalmente no Egito, que apresentou uma queda de 43% no número de estudantes americanos. Durante o mesmo período, outros países da Ásia e da América Latina registraram um grande aumento no número de estudantes americanos, entre eles Costa Rica (15,5%), Brasil (12,5%) e Coreia do Sul (16,4%).
 
Nos últimos 20 anos houve uma crescente diversificação entre os destinos procurados pelos estudantes americanos no exterior. Em 1989/90, 76,7% deles estudavam na Europa, enquanto em 2010/11 pouco mais da metade (54,6%) dos estudantes americanos escolheram a Europa como destino. Países de língua inglesa receberam apenas 21% dos estudantes americanos que foram ao exterior em 2010/11, enquanto muitos países não anglófonos viram aumentos no número de estudantes americanos, entre eles a China (aumento de 4,9%), a Índia (aumento de 11,9%) e Israel (aumento de 9,4%). Tais tendências indicam que os estudantes americanos procuram cada vez mais destinos que ofereçam diversidade linguística e cultural.
 
Mobilidade global dos estudantes
O crescimento do número de estudantes internacionais nos EUA resulta simultaneamente de fatores de atração direta e indireta que incentivam o estudantes a escolher o país como seu destino de estudos. A qualidade, variedade, capacidade e acessibilidade das universidades americanas são fatores atraentes que fazem dos EUA um destino interessante para os estudantes internacionais. Esse é certamente o caso dos estudantes chineses, que, como resultado do crescimento da renda familiar média e da crescente demanda pelo ensino superior, estão cada vez mais ganhando mobilidade global. Da mesma maneira, os estudantes do Irã cada vez mais se matriculam em instituições americanas, apesar das restrições de visto e das barreiras financeiras específicas que eles enfrentam.
 
Entretanto, explicações com base no mercado para os fluxos internacionais de estudantes não revelam totalmente o que está impulsionando o crescimento da mobilidade dos estudantes com destino aos EUA. Iniciativas do governo para mandar estudantes ao exterior como maneira de reforçar suas capacidades acadêmicas e expandir seu conhecimento cultural podem ter um impacto significativo no fluxo de estudantes internacionais, como evidenciado pelo aumento no número de sauditas - precipitado pelo lançamento do Programa de Bolsas de Estudos Rei Abdullah, em 2005.
 
O estudo dos americanos no exterior também é afetado por uma combinação de forças de mercado e iniciativas do governo. Embora o aumento no número de americanos que buscam o ensino em destinos não tradicionais seja em parte impulsionado pelos próprios estudantes, a crescente diversidade nos destinos de estudos é também afetada por iniciativas do governo dos EUA - como a Benjamin A. Gilman International Scholarship, que incentiva os estudantes a escolherem destinos menos tradicionais, e a "100,000 Strong" Initiative for China, que promove o ensino no exterior na China.
 
A crescente demanda dos estudantes pelo ensino no exterior significa que a mobilidade internacional dos estudantes vai continuar a aumentar, mas o impacto dos programas governamentais mais recentes demonstra que as iniciativas das políticas de ensino podem ser ferramentas poderosas para aumentar a mobilidade internacional e conduzir os estudantes para os países de seu interesse.
 
Nota das autoras: O Instituto de Ensino Internacional publica o Open Doors, levantamento estatístico da mobilidade estudantil dentro e fora dos Estados Unidos, desde 1919, e recebe o apoio do Gabinete de Assuntos Educacionais e Culturais do Departamento de Estado dos EUA desde o início dos anos 1970. As opiniões manifestadas neste artigo são inteiramente de suas autoras. Mais informações a respeito do Open Doors podem ser encontradas no endereço http://www.iie.org/opendoors.