28/08/2012

International Higher Education

Mobilidade dos estudantes de graduação chineses e indianos - prós e contras

Rahul Choudaha
Choudaha é diretor de Serviços de Pesquisa e Aconselhamento da World Education Services, Nova York. E-mail: rchoudah@wes.org
A recente recessão está redefinindo o modelo de financiamento do ensino superior público. Os três principais destinos procurados pelos estudantes internacionais – Estados Unidos, Grã-Bretanha e Austrália – passaram por cortes no orçamento e por uma ênfase maior na justificação dos custos e na autossuficiência.
 
Nesta época de estresse financeiro e busca por fontes adicionais de renda, os estudantes internacionais de graduação estão emergindo como salvadores. Os alunos de graduação são menos dependentes do auxílio financeiro, pois é maior a probabilidade de serem financiados por suas famílias, e representam uma fonte de renda mais prolongada (quatro anos) em comparação aos programas de mestrado (dois anos). É aí que países de grande população, como China e Índia, tornaram-se críticos para o recrutamento de estudantes internacionais de graduação.
 
Escala e padrões contrastantes
Com mais de 700 mil estudantes chineses e indianos matriculados nas instituições globais de ensino superior, um de cada três estudantes com mobilidade internacional vem de um dos dois países. Nos EUA, o número de estudantes internacionais matriculados aumentou em quase 175 mil entre 2000/01 e 2010/11, e os estudantes chineses e indianos contribuíram com quase 84% desse crescimento. Tais números indicam a escala e o papel desempenhado pelos dois países na mobilidade global dos estudantes.
 
Em meu artigo anterior, “Drivers of Mobility of Chinese and Indian Students” (IHE, nº 62, 2011), defendi que a mobilidade dos estudantes chineses e indianos estava aumentando por causa de uma combinação de fatores relacionados à demanda e à oferta. Com relação à oferta, foi ampliada a capacidade de financiar o ensino no exterior e a rápida expansão da linha de progressão do ensino. Com relação à demanda, esforços agressivos de divulgação por parte das universidades e a adoção de uma gama mais ampla de opções de recrutamento estão facilitando a mobilidade de estudantes chineses e indianos.
 
Entretanto, aí acabam as semelhanças entre China e Índia. Daí em diante emergem padrões contrastantes de mobilidade. Uma das principais diferenças está no fato de a China contar com um impulso de crescimento muito mais forte do que a Índia no nível da graduação. O contraste entre os padrões fica claro diante da justaposição entre o declínio de 8% no número de alunos indianos de graduação e o aumento de 43% no número de alunos de graduação chineses nas instituições americanas. Isso se traduz num aumento de 17.055 estudantes chineses e numa diminuição de 1.188 estudantes indianos (no nível de graduação). Para cada estudante indiano, há quatro chineses.
 
Tal padrão dissimilar ganha extrema importância quando levamos em consideração os problemas econômicos enfrentados pelas instituições públicas e sua busca por estudantes internacionais de graduação com orçamentos limitados. Entretanto, será que estas tendências observadas nos alunos chineses e indianos de graduação são sustentáveis? Qual é a direção que seguirão no futuro?
 
Reversão das tendências em 2015?
Calculo que, no início de 2015, as direções do crescimento no mercado de graduação na China e na Índia devem apresentar uma inversão de tendências. A Índia deve surgir como um importante país em crescimento para o recrutamento de estudantes de graduação, enquanto a China deve perder impulso. Em termos de números absolutos de matrículas na graduação, a China vai continuar à frente da Índia. A estimativa de uma inversão nas tendências toma como base quatro fatores relacionados.
 
Mudanças demográficas. A população chinesa entre 15 e 19 anos deve diminuir 17% entre 2010 e 2015, o equivalente a uma redução de 18 milhões de jovens para frequentar a faculdade, de acordo com dados censitários americanos. Em comparação, a população indiana em idade de frequentar a universidade deve aumentar em 5 milhões de pessoas, ou 5%, no mesmo período. Isso significa que, em 2015, a Índia terá quase 20 milhões de pessoas entre 15 e 19 anos a mais do que a China. Assim, os padrões demográficos de China e Índia vão influenciar a oferta de estudantes de graduação em potencial.
 
Estudantes que “financiam a si mesmos”. A China já ultrapassa a Índia em termos de riqueza e tamanho da classe média, que pode pagar pelo ensino superior no exterior. A China, por exemplo, tem 535 mil indivíduos com bens avaliados em US$ 1 milhão ou mais; em 2010, a Índia tinha 153 mil pessoas em tal situação. Além disso, a política de um único filho na China permitiu que os recursos de uma família fossem concentrados numa única criança. Entretanto, os filhos de famílias ricas da classe média indiana cujos pais passaram, em meados dos anos 90, a trabalhar nas indústrias da nova era, como tecnologia da informação, vão iniciar a graduação a partir de 2015. Esse segmento de estudantes “que financiam a si mesmos” deve esperar certo nível de qualidade e terá recursos para pagar pelo ensino superior internacional.
 
Ritmo das reformas no ensino. Tanto China quanto Índia têm seus problemas no equilíbrio entre qualidade e acesso. Levando-se em consideração o histórico da China de expansão agressiva do seu sistema e seu bom relacionamento com as instituições estrangeiras, é maior a probabilidade de o país promover com sucesso a qualidade. Essa reforma vai oferecer um maior número de opções de qualidade para os estudantes chineses em seu próprio país. Em comparação, o ritmo das reformas na Índia tem sido muito lento e enredado em questões de mera politicagem – em vez de políticas de ensino. É improvável que o ensino superior na Índia seja capaz de acompanhar a demanda por ensino de qualidade. A incapacidade de absorver a demanda vai aumentar o número de estudantes indianos que “financiam a si mesmos”, abastecendo a demanda deles pelo ensino estrangeiro.
 
Preocupações relacionadas ao campus. Levando-se em consideração a dependência excessiva em relação aos alunos chineses de graduação, são cada vez maiores as preocupações com a diversidade nos campi e o papel desempenhado pelos agentes no fomento a esse crescimento. Um artigo publicado recentemente no Chronicle of Higher Education, intitulada “The China Conundrum”, em referência ao grande número de estudantes chineses em alguns campus, avalia que “aquilo que inicialmente parece ser um grande benefício para universidades e estudantes é, visto mais de perto, um ajuste complicado para ambos”. Em relação aos agentes, acrescentava: “Embora os agentes atuem como representantes das universidades, apresentando-as nas feiras estudantis e solicitando matrículas, isso não garante que as instituições conheçam a origem dessas matrículas, ou a veracidade das notas apresentadas”. As preocupações relacionadas ao campus, como a diversidade e a potencial ameaça à integridade do processo de admissão – fruto de eventual comportamento fraudulento dos agentes –, pode levar a uma redução na dependência em relação aos estudantes chineses.
 
Conclusão
O ensino superior público nos principais destinos procurados pelos estudantes estrangeiros está claramente avançando no sentido da autossuficiência, resultando na pressão para recrutar mais estudantes estrangeiros de graduação como fonte adicional de renda. China e Índia são importantes fontes de estudantes estrangeiros de graduação, e devem apresentar tendências diferentes a partir de 2015. Dado que o recrutamento de estudantes de graduação exige esforços consideráveis para a divulgação e o estabelecimento de relacionamentos, as instituições devem se preparar para tal mudança nos padrões. Entretanto, não devem permitir que a urgência financeira e a busca pela quantidade as levem a perder o foco na qualidade dos estudantes recrutados, na integridade do processo de admissão e na diversidade nos campi.