10/04/2015

International Higher Education | 78

Internacionalizações das universidades japonesas: aprendendo com a experiência do CAMPUS Asia

Miki Horie
Ph. D. é professora associada na Ritsumeikan International, Ritsumeikan University, Japão, tendo sido docente convidada no CHEI em Milão no outono de 2013 E-mail: horie@fc.ritsumei.ac.jp
O que a internacionalização trouxe para as instituições japonesas do ensino superior? As universidades japonesas passam pela experiência de várias reformas e processos de auto aperfeiçoamento, como resposta às politicas de internacionalização iniciadas pelo governo japonês desde a década de 1980. O principal enforque do governo antes do ano 2000 era aumentar o número de estudantes internacionais, e desde então começou a empreender com abordagens multidimensionais relacionadas à internacionalização, incluindo a promoção da mobilidade internacional (outbound) e multilateral, desenvolvimento de programas ensinados em língua inglesa, e esforços coletivos relacionados ao recrutamento de estudantes internacionais. As universidades reagiram de várias formas aos requisitos e expectativas dentro dos contextos da cooperação financeira do estado e através de tais esforços, as instituições japonesas acumularam experiência coletiva e conhecimento. 
 
Um resultado significativo é a crescente sensibilização da necessidade de aplicação de modelos pedagógicos alternativos — tais como os esquemas de aprendizagem experimental, ativa e de colaboração — que atendam aos estudantes com mais eficiência e eficácia em ambientes multiculturais de aprendizagem. Um dos exemplos é a politica CAMPUS Ásia, ou “Ação Coletiva para o Programa de Mobilidade de Estudantes Universitários na Ásia,” que desafia as universidades japonesas a desenvolverem programas conjuntos com parceiros coreanos e chineses para o entendimento mútuo. Esta é a primeira inciativa governamental conjunta entre o Japão, China e a Coreia para juntos educarem seus jovens. Os três governos selecionaram conjuntamente dez propostas — em outras palavras, dez consórcios de universidades japonesas, chinesas e coreanas — como beneficiárias.  
 
Programa Líderes do Leste Asiático
Após um ano de implementação, o comitê do governo, responsável pela avaliação interina do programa CAMPUS Ásia, concedeu a nota mais alta a um dos dez programas selecionados, o Programa “Líderes do Leste Asiático, operado pela Universidade de Ritsumeikan (Japão), Universidade de Guangdong para Estudos Estrangeiros (China), e Universidade de Dongseo (Coreia)”. Além da avaliação interina, outro sinal de sucesso se encontra no fato de que os participantes do programa começaram a identificarem-se como instrumentos de mudança e pacificadores da região e do mundo. 
 
Primeiro, a característica peculiar deste programa é sua forte ênfase em um ambiente de aprendizagem entre pares e transcultural. Os participantes do programa, 10 de cada instituição, 30 em sua totalidade, formam um grupo de calouros e passam 6 trimestres juntos como parte de um programa de Bacharelado de 4 anos. Os estudantes passam o primeiro período na China, mudam para o Japão para o segundo período, e a seguir para Coreia para o terceiro período e repetem o mesmo itinerário no segundo ano. Os estudantes vivem e aprendem juntos, enquanto treinamento intercultural é oferecido aos mesmos. Por exemplo, durante o período em que dividem uma pequena casa tradicional japonesa em Kyoto, naturalmente começam a estabelecer regras comuns para compartilhar pacificamente as dependências da moradia. Tais experiências vão além das diferenças culturais dos detalhes do dia-a-dia. Uma organização tão intensa motiva os estudantes a aceitar várias ideias, a aprenderem a se comunicar de maneira construtiva, invés de reclamar ou acusar alguém.
 
Segundo, os estudantes devem aprender as línguas japonesa, chinesa e coreana ao mesmo tempo. Estudantes japoneses e coreanos aprendem chinês na China e os estudantes chineses auxiliam no aprendizado. Este relacionamento anfitrião – convidado é invertido no Japão ou na Coreia. Todos são igualmente alunos de idiomas, e esta organização também faz com que todos sejam professores empáticos e parceiros dos idiomas em questão. O idioma inglês não é usado neste programa.
 
Terceiro, as principais matérias do curso são humanidades do Leste Asiático da perspectiva histórica, cultural e politica. Tal conhecimento, além das habilidades pessoais que adquirem através da vida diária, cria um alicerce mais seguro e menos ameaçador para que discutam conflitos políticos existentes entre os três países. No segundo período, os estudantes discutem as diferenças nos manuais de história de cada país, enfocando a descrição da invasão japonesa à Coreia e à China. Os manuais chineses e coreanos ilustram vários incidentes durante o período, mas os japoneses não abordam a temática completamente. Isto geralmente causa uma lacuna no conhecimento e torna-se uma fonte essencial de disputa política. O programa ajuda aos estudantes a obter habilidades e atitudes para vencer dificuldades emocionais, discutir questões sensíveis e alcançar um nível mais elevado em um dialogo construtivo. 
 
Quarto, o programa dá aos estudantes uma ‘segunda chance’ e assim uma conscientização adicional com relação aos seus desenvolvimentos pessoais. Depois de concluir o primeiro ano, retornam à China, Japão e Coreia. Estar pela primeira vez em um ambiente cultural novo é sempre desafiador, mas na segunda rodada, já com novas habilidades interculturais desenvolvidas e atitudes, os estudantes experimentam e colocam em prática as áreas em que falharam um ano atrás, tomando consciência das habilidades que conquistaram no período anterior. 
 
Desafios para implementações futuras
O caso acima descrito fornece alguns insights para implementações futuras de programas transculturais e conjuntos. O novo subsídio do governo japonês de 2014 para uma ampla internacionalização incentiva as instituições a criar programas conjuntos de graduação com parceiros estrangeiros, o que representa um grande desafio para as universidades Japonesas. A operação de programas de qualidade requer um corpo docente e de coordenação que compreenda os princípios pedagógicos e que sejam capazes de facilitar tal aprendizado dentro e fora da sala de aula. O diretor no lado chinês no programa de Líderes do Leste Asiático assinalou a importância de compreender a singularidade da dinâmica de grupo entre os estudantes. A equipe de administração do lado japonês por sua vez, afirma ser crucial prestar mais atenção à dinâmica de grupo dos estudantes e de fornecem-lhes vários treinamentos na área de comunicação intercultural de grupo e consultas. Muitos dos principais docentes das três instituições falam mais de duas línguas. Esse modelo de sucesso é apoiado por um grupo de membros do docente e do departamento de administração, que não são especialistas em aprendizagem transcultural por pares, mas que estão abertos e dispostos a aceitar e compreender o processo singular nesse contexto. Um desafio para muitas universidades japonesas é encontrar tais indivíduos em nível pratico, tanto do ponto de vista acadêmico como administrativo para formar um equipe que funcione realmente.
 
Outro desafio é um exame de várias mensurações dos resultados de aprendizagem para ilustrar a singularidade do desenvolvimento do estudante em tais programas. “Muitas ferramentas de medições tais como o Inventário de desenvolvimento intercultural (Intercultural Development Inventory - IDI)” estão disponíveis e são uteis para compreender certos aspectos da aprendizagem dos estudantes. Contudo, teremos que descobrir a que ponto tais esquemas desenvolvidos fora do Leste da Ásia podem ser aplicados no caso dos estudantes desta região e de que maneira podemos encontrar uma combinação adequada de diferentes esquemas para comunicar adequadamente o resultado e as características dos estudantes para o público e para os próprios estudantes. Além disso, há conhecimento limitado no Japão sobre as expectativas pessoais e sociais dos estudantes daqueles países e de que modo tais preconcepções diversificam ou não os resultados de aprendizagem. Um exame mais apurado de tais aspectos ajuda a criar um programa que é mais benéfico para cada individuo e assim aumenta o impacto da internacionalização do ensino superior japonês.
 
Este texto foi traduzido e revisado sob a coordenação de
Sergio Azevedo Pereira
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