30/07/2014

International Higher Education

Internacionalização da educação superior na Ucrânia pós-soviética

Valentyna Kushnarenko e Sonja Knutson
Valentyna Kushnarenko é pequisadora associada no Ontario Institute for Studies in Education, Universidade de Toronto, Canadá. E-mail: val.kushnarenko@utoronto.ca. Sonja Knutson é diretora do International Centre, Memorial University of Newfoundland, Canadá. E-mail: sknutson@mun.ca
O Ministério da Educação, Ciência, Juventude e Esportes da Ucrânia tem incentivado iniciativas internacionais que apóiam as aspirações do país para ser reconhecido na arena do ensino superior global, focando principalmente na Europa. Embora a decisão recente seja a de não assinar um acordo comercial com a União Europeia, o país enfrenta pressão crescente para escolher suas alianças futuras, e isso terá um impacto sobre os rumos da internacionalização. Em 24 de novembro de 2013, os alunos da Ucrânia declararam uma greve e marcharam de suas universidades para as praças centrais das principais cidades ucranianas, protestando contra a decisão de não assinar o Acordo de Associação com a UE na Cúpula de Vilnius. Tais pressões conclamam as universidades pós-soviéticas para que sejam específicas na definição de suas prioridades de internacionalização e na articulação de objetivo, visão e operação internacional.
 
Contexto
A Ucrânia está localizada entre os estados da União Europeia e a Rússia e, embora não seja um player importante em educação internacional, mantém a reputação de ser um país com elevados padrões de ensino e aprendizagem. O ensino superior é percebido pelos ucranianos como fundamental para alcançar distinção profissional, independência econômica e liberdade. Durante a primeira semana do período de inscrições para o ensino universitário em 2013, as instituições públicas de ensino superior ucranianas registraram mais de 600 mil candidatos. Em abril de 2014, em uma feira educacional internacional organizada pelo ministério da educação, universidades estrangeiras foram informadas de que poderiam ter acesso a mais de 8 mil estudantes em potencial em apenas três dias, isso contando apenas a capital Kiev (edu-abroad.com.ua). Embora direito, administração de empresas, economia e marketing sejam tradicionalmente os campos mais populares de estudo, os alunos ucranianos hoje procuram estudar no exterior finanças, tecnologias da informação, gestão hoteleira, turismo, moda e design de interiores, além de outros campos novos se considerada a oferta média de cursos pós-secundários na Ucrânia. Em contraste com o período soviético, quando os alunos priorizavam entrar em qualquer universidade (de preferência na capital) para obter um diploma, os atuais formandos do ensino médio têm sido mais seletivos, mirando uma universidade determinada que ofereça um campo competitivo de estudo e programas de extensão internacionais com custos razoáveis. As universidades que podem fornecer caminhos para uma credencial internacional, de qualidade, têm incentivado os calouros ucranianos a preferir escolas com fortes parcerias internacionais.
 
Diante de uma demanda crescente para intensificar as oportunidades internacionais dos estudantes, as universidades ucranianas têm sido motivadas a se reagrupar e equilibrar os recursos disponíveis, para garantir seu próprio nicho internacional. Buscando mercados de internacionalização, os ucranianos têm se antecipado às tendências europeias e russas. Embora criticadas por prolongar negociações de parceria, as universidades respondem com abordagem cuidadosa em direção aos padrões internacionais, garantia da qualidade e importância de priorizar o nacional versus o internacional na reorganização de suas instituições como universidades de "classe mundial".
 
Quando os ucranianos mencionam "internacionalização" do ensino superior, normalmente querem dizer "europeização". Professores definem internacionalização nos termos regionais europeus e destacam a importância de sustentar um processo orientado para o futuro de formação de seus alunos no espírito da "Europa Unida: Economia do Conhecimento e Patrimônio Cultural Pan-Europeu". Em maio de 2005, a Ucrânia aceitou um convite oficial da União Europeia para se vincular ao Processo de Bolonha, a fim de participar da "harmonização da arquitetura do ensino superior europeu através de compatibilidade e comparabilidade dos sistemas regionais de educação". Um aumento do interesse por cursos online ou cursos realizados em instituições parceiras, que possam complementar os currículos das universidades de origem – por exemplo, através da participação em projetos Tempus-Tacis da UE, o Programa Erasmus-Mundus de pesquisa, pedagogia e formação profissional, o Programa Grundtvig sobre educação de adultos, e o Sub-Programa Comenius sobre aprendizagem ao longo da vida.
 
O contexto atual
Uma nova versão da Lei de Educação Superior (dezembro de 2012) e da Doutrina Nacional de Desenvolvimento da Educação: Ucrânia Século XXI (abril de 2002) prevê a criação de parcerias acadêmicas internacionais mais inovadoras e eficazes na Ucrânia. Parcerias que criem oportunidades para pesquisa conjunta e mobilidade dos pesquisadores permitem que as universidades respondam ao novo contexto de competição em escala global – em particular quando se trata de empregabilidade dos diplomados, atração de parceiros de pesquisa e financiamento externo. O corpo docente e os estudantes ucranianos expressam algum ceticismo sobre intervenções e proclamações governamentais em torno da internacionalização, mas a esmagadora maioria dos alunos indicou o desejo de ir ao exterior para estudos, com a expectativa de aumento da empregabilidade. Atualmente, mais de 25 mil estudantes da Ucrânia estudam no exterior (Study.ua). Eles mencionam Malta, Itália, Estados Unidos, Austrália, Nova Zelândia e Canadá como destinos acadêmicos futuros preferenciais.
 
Institucionalmente, os ucranianos se concentrar em três direções: (a) internacionalização estratégia conduzida pela administração sênior, (b) desenvolvimento de componentes internacionais do currículo nacional, e (c) reestruturação organizacional. Programaticamente, priorizam as iniciativas de desenvolvimento de programas curriculares conjuntos. Os ucranianos também estão envolvidos em intercâmbio de estudantes e professores, institutos internacionais de verão, atividades cocurriculares (apresentações em conferências, eventos no campus e visitas de corpo docente internacional etc.), estudos de língua estrangeira, e pesquisa internacional. A criação do Consórcio Internacional de Universidades da Ucrânia, "O Triângulo do Conhecimento: educação-pesquisa-inovação", é um passo importante na colaboração transfronteiras para promover a transferência de conhecimentos e tecnologias, neste caso com a Polónia, principalmente. Novos esforços no sentido de colaboração com a Grã-Bretanha, Suíça, França, Alemanha, Espanha, Suécia, Áustria, e outros, objetivam o desenvolvimento contínuo de diplomação conjunta / dupla em programas científicos e tecnológicos. O Canadá também está no radar com a sua experiência crescente na exploração de recursos naturais, em extração e na pesquisa ambiental que a acompanha. A evolução atual dos projetos de titulação conjunta / dupla retrata objetivos mais ambiciosos das universidades ucranianas para harmonizar as qualificações de seus diplomas com o Ocidente.
 
Para promover a interconectividade acadêmica global ao mesmo tempo em que evita uma fuga de cérebros, o famoso brain drain, a maioria das universidades ucranianas precisa de mudanças estruturais e organizacionais sérias. Várias questões impedem uma abordagem coordenada e estratégica para a internacionalização sustentável e a mobilidade recíproca. Orientações ministeriais confusas ou ambíguas no que diz respeito à política de internacionalização acabam por reduzir a motivação. A gestão universitária, com uma pesada regulação trabalhista, cria uma pressão crescente sobre os recursos. A demanda por prestação de contas associada a uma fraca gestão dos programas internacionais resulta em que poucos vão arriscar uma mudança abrangente. As universidades já estão operando no máximo de seu potencial em infraestrutura, finanças e recursos humanos – tornando difícil que explorem as oportunidades para se posicionar globalmente. Colaborar em missões no exterior para construir redes de contatos em novos países, como o caso recente da delegação à Conferência 2013 do Bureau Canadense de Educação Internacional, em Vancouver, fornece direções promissoras, mas requer uma forte liderança e assistência financeira estrangeira.
 
A internacionalização da agenda acadêmica ucraniana é similar à jornada de muitos outros países em seus papéis como indutores de uma reforma geral do ensino superior. Sem um fator de motivação, a reforma da educação nacional (em termos de racionalização da transferência de créditos, reestruturação de processos institucionais internos etc.) é difícil de começar e ainda mais difícil de alcançar. A internacionalização, uma vez que abrange o posicionamento de uma instituição dentro do contexto global, torna-se uma indutora de reforma geral. Sem essa reforma, a internacionalização é dificultada pela perda de dinamismo, devido às barreiras existentes no planejamento estratégico, distribuição produtiva de recursos financeiros e humanos, e identificação de alvos operacionais. Se isso for feito de forma construtiva, com a continuação do apoio de parceiros internacionais, tais melhorias podem oferecer a Ucrânia como um modelo para inovações no ensino superior entre os Estados pós-soviéticos.