13/06/2013

International Higher Education

Institutos confucianos chineses - mais acadêmicos e integradores

Qiang Zha
Professor assistente da Faculdade de Pedagogia da Universidade de York, Toronto, Canadá. E-mail: qzha@edu.yorku.ca
Desde a criação do primeiro Instituto Confúcio em 2004 no Usbequistão, esta iniciativa foi vista como um braço do governo chinês para e expansão do poder brando do país. Os últimos 15 anos testemunharam um crescimento fenomenal dos Institutos Confúcio em todo o mundo. No fim de 2011, 358 Institutos Confúcio e 500 Sala de Aula Confúcio tinham sido criados em 108 países - sendo 21% desses institutos e 60% dessas salas de aula localizados num só país, os Estados Unidos - , embora continuem sendo cercados pela controvérsia em muitas sociedades democráticas. Afinal, a organização responsável por tais institutos e salas de aula, o Quartel-General do Instituto Confúcio, ou Hanban, é filiado ao Ministério da Educação do governo chinês e funciona usando recursos desse mesmo governo. É notável que, somente em 2011, o Hanban tenha gasto US$ 164,1 milhões diretamente em projetos e atividades de todo o tipo nos Institutos Confúcio em todo o mundo. Este número deve crescer bastante nos próximos anos. Na Conferência do Instituto Confúcio realizada recentemente em Pequim, o Hanban anunciou três novos programas de grandes dimensões que serão aplicados nos Institutos de todo o mundo. Estes incluem o Plano de Estudos Chineses Confúcio - com foco nos aspectos de pesquisa dos Institutos Confúcio, nomeação de funcionários acadêmicos permanentes em todos os Institutos, e o programa “Dia Chinês”, conectando os Institutos Confúcio às suas comunidades locais.
 
Aparentemente, estes novos programas têm como objetivo transformar os Institutos Confúcio numa unidade acadêmica e numa parte integrante das universidades que os hospedam e das comunidades chinesas locais. O Plano de Estudos Chineses Confúcio vai liderar a função de pesquisa nos Institutos. Ele patrocina professores visitantes ligados ao Instituto que desejem desenvolver projetos de pesquisa na China por períodos de 2 semanas a 10 meses, oferece bolsas de doutorado e apoia conferências e publicações envolvendo temas relacionados aos Estudos Chineses. O esquema de nomeação dos Professores Centrais tem como objetivo criar posições acadêmicas permanentes nos Institutos que já operam há dois anos ou mais. O Professor Central deve ser contratado e remunerado como palestrante ou professor assistente de acordo com os padrões ocidentais, e o Hanban financiará seus salários e benefícios durante os primeiros cinco anos, passando então arcar com 50% deste custo nos cinco anos seguintes, sendo o restante pago pelos Institutos nos quais eles lecionem. Por fim, o programa Dia Chinês deve promover o idioma e a cultura da China bem como os Institutos Confúcio nas comunidades locais, por meio da organização de atividades temáticas regulares.
 
Transformação exige apoio de pesquisa
Embora ainda não se saiba se estas alternativas vão funcionar no sentido de elevar o nível dos Institutos Confúcio espalhados pelo mundo, elas certamente trarão muita visibilidade (e, possivelmente, uma controvérsia ainda maior) a eles, podendo abrir uma nova pauta de pesquisa. Entre tais metas, os objetivos descritos por essas iniciativas e a realidade na qual os Institutos Confúcio operam há uma série de obstáculos. Em primeiro lugar, os Institutos operam geralmente à margem dos campi que os hospedam, mal fazendo parte das funções principais - ou seja, pesquisa, ensino e serviço. Em muitos casos, eles até concorrem com a estrutura existente de Estudos Chineses e ensino do idioma chinês - ou seja,os cursos, centros e institutos pré-existentes que lidam com o conteúdo relacionado à China. As atividades de divulgação dos Institutos Confúcio muitas vezes parecem dissociadas dos esquemas e estratégias de envolvimento da comunidade das universidades hospedeiras. Neste contexto, a meta de integração nada mais é do que um desafio, exigindo o apoio à pesquisa para a descoberta da estratégia e do plano de ação mais adequados.
 
Para promover a integração, os Institutos Confúcio precisam se transformar, e questões como essas podem constituir obstáculos no seu caminho em busca de tal transformação: como podem os Isntitutos contribuir com a função e a pauta de pesquisas da universidade que os abriga? Nesse aspecto os Institutos precisam gerar sinergias com a estrutura e a pauta de pesquisa existentes nas instituições que os hospedam, e não concorrer com elas nem criar uma nova estrutura. Como os Institutos Confúcio podem contribuir com o ensino e a pesquisa (aprimoramento pedagógico) da universidade hospedeira em geral? Além de oferecer programas e cursos de ensino do chinês, os Institutos podem manobrar para demonstrar os aspectos humanistas da tradição do ensino confuciano, tornando-os disponíveis para a universidade hospedeira e apoiando sua referência e seu progresso pedagógico. Por fim, como podem os Institutos se conectarem com os esforços de envolvimento da comunidade da universidade hospedeira? Como podem contribuir com a marca da instituição que os recebe? As questões mencionadas acima podem ajudar a melhorar o nível e dar substância à pauta de pesquisa envolvendo os Institutos Confúcio, mas uma pesquisa relevante os envolvendo não pode se dar o luxo de perder de vista a diferença ou até o contraste em relação à cultura universitária.
 
Em todos os casos, os Institutos Confúcio envolvem uma parceria entre uma universidade chinesa e outra não-chinesa, o que inevitavelmente reúne duas culturas universitárias muito diferentes e, às vezes, pode levar a um “choque” de culturas universitárias. Como exemplo, o Hanban exige agora que todos os Institutos Confúcio progridam ao longo de seu planejamento estratégico, que muitas vezes precisa assumir a forma de planos trienais ou quinquenais. As universidades chinesas estão bastante acostumadas com este tipo de prática. Entretanto, muitas universidades ocidentais parceiras podem não necessariamente serem capazes de acomodar tal requisito, já que o planejamento de longo prazo não faz parte da sua cultura. Em tais circunstâncias, como pode o planejamento dos Institutos Confúcio sobreviver à cultura que tradicionalmente afasta a ênfase do planejamento? Por mais que um número cada vez maior de universidades ocidentais se adaptem à cultura do planejamento, é preciso haver um esforço cuidadoso para ligar o planejamento do instituto Confúcio ao da universidade como um todo.
 
Consciência das diferenças na cultura universitária
Ainda mais importante, a parceria denota a diferença nos padrões de tomada das decisões. As universidades chinesas tendem a contar com um modelo burocrático de tomada de decisões (às vezes semelhante a um sistema político), caracterizado por uma abordagem hierarquizada e um horizonte temporal curto. Em contraste, as universidades ocidentais têm mais probabilidade de demonstrar um modelo colegiado de tomada de decisões, apresentando até algo às vezes mais semelhante à uma “anarquia organizada”. As decisões muitas vezes são consensuais, o que exige muita comunicação, consulta e debate. É fundamental chamar a atenção de todos para tais diferenças na cultura universitária e nutrir cuidadosamente a parceria como uma “união com diversidade” - algo que é em si um conceito confuciano. Levando-se tudo isso em consideração, a transformação dos Institutos Confúcio, enquanto esforço acadêmico ou proposta de integração, é algo que exige não apenas recursos de apoio como também - ainda mais importante - um manuseio habilidoso das diferenças na cultura universitária com vistas à formação de um “significado intersubjetivo” partilhado. Como medida urgente, o Hanban precisa convencer o mundo de que, com esses novos programas, o objetivo não é se valer da falta de financiamento para a sinologia e as ciências sociais nas universidades ocidentais, numa tentativa de se impor pela força e controlar o ensino do idioma e da história da China por meio dos recursos fornecidos à estas instituições vinculadas. Talvez o mais importante seja a China avançar lentamente e conquistar a confiança.