24/08/2015

International Higher Education | 81

Institucionalização do envolvimento comunitário nas universidades africanas

Henry Mugabi
Pesquisador, grupo do ensino superior, Universidade de Tampere, Finlândia. E-mail: Henry.Mugabi@uta.fi
Embora as primeiras universidades na Europa tenham iniciado como instituições de ensino apenas, muitas se expandiram para abraçar o ensino, a pesquisa, o trabalho e o envolvimento comunitário. Espera-se, portanto, que as universidades africanas ensinem, conduzam pesquisas e sirvam a sociedade. Na conferência da UNESCO de 1962 sobre o “Desenvolvimento do Ensino Superior na Africa, as instituições do ensino superior africanas foram instadas a estar em constante contato com a sociedade e a adaptar suas atividades de ensino e pesquisa aos problemas africanos. De fato um número de universidades africanas — tais como a Nelson Mandela Metropolitan University, Makerere University, University of Botswana, University of KwaZulu-Natal, University of Mauritius, University of Ghana, and University of Dar es Salaam—incluem o envolvimento comunitário entre suas funções e áreas de prioridades. Além disso, a maioria das universidades possuem estruturas organizacionais— tais como departamentos de consultoria, centros de educação continuada, centros de incubação de negócios, desenvolvimento de tecnologia e transferência— e pessoal para promover o envolvimento comunitário e / ou coordenada as atividades relacionadas à comunidade.
 
O envolvimento comunitário permanece marginalmente institucionalizado em grande parte das universidades africanas: a maioria delas ainda não integrou completamente o envolvimento comunitário aos seus orçamentos, aprendizado e ensino e atividades de pesquisa. Suas práticas de promoção e contratação de docentes ignoram ou reconhecem de maneira insuficiente as contribuições dos docentes para as comunidades externas. O relatório dos membros do conselho de administração — estabelecido pela universidade de Nairóbi para analisar a política da universidade em treinamento e promoção, por exemplo, ignora as contribuições de docentes para o envolvimento com a comunidade, enfatizando ao contrário, publicações, supervisão de estudantes, a experiência com o ensino entre outros aspectos, como o critério para promoção a posições acadêmicas seniores. Mesmo universidades como a Makerere University em Uganda, com envolvimento comunitário entre os critérios de contratação e promoção, alocam alguns pontos apenas relacionados a este engajamento social e serviços às comunidades externas. Além disso, o financiamento destinado para estes fins é amplamente esporádico, insuficiente ou dependente de fontes estrangeiras de fundos. Assim, boa parte dos projetos relacionados à comunidade é iniciada por indivíduos ou grupos do corpo acadêmico, sendo, portanto menos institucionais, porém mais pessoais em sua natureza. Deste modo, a questão é: o que as universidades africanas podem fazer para institucionalizar o envolvimento comunitário?
 
Sugestões de melhorias
Projetos relacionados à comunidade muitas vezes dependem do envolvimento, comprometimento e experiências de docentes, efetivo e estudantes. Assim, tais projetos geralmente desaparecem ou tornam-se insustentáveis quando os indivíduos partem ou não estão mais envolvidos. A institucionalização do envolvimento com a comunidade nas universidades africanas carece de agendas universitárias amplas e instituições — políticas, estruturas e praticas— para guiar e facilitar o envolvimento das unidades acadêmicas, docentes, funcionários, estudantes e comunidades externas no engajamento comunitário. Também requer a integração do envolvimento comunitário nos orçamentos institucionais, ensino e atividades de pesquisa — através do serviço comunitário acadêmico, pesquisa colaborativa, e programas de estágio — e o envolvimento voluntário das comunidades externas no desenvolvimento do currículo, entre outras atividades. A institucionalização do envolvimento comunitário também precisa da visão e do comprometimento dos líderes universitários, cujo suporte poderá auxiliar a enfocar as questões de docentes desinteressados ou duvidosos, funcionários, estudantes e comunidades externas. Assim, a decisão da Nelson Mandela Metropolitan University de estabelecer o secretariado da vice-reitoria encarregada da pesquisa e do engajamento é louvável. Contudo, o envolvimento comunitário não deve ser deixado para os líderes individuais, ou do contrário tal dependência poderá diminuir a sustentabilidade das atividades relacionadas à comunidade quando os mesmos não estiverem mais envolvidos em tais funções.  
 
A criação das unidades organizacionais, a integração do engajamento comunitário nos orçamentos da universidade e atividades, assim como a presença de uma liderança empenhada em todos os níveis apenas não poderão garantir a institucionalização integral do envolvimento comunitário, a menos que seja recompensado adequadamente o envolvimento dos docentes. A institucionalização do envolvimento comunitário em qualquer universidade é evidenciado e se beneficia do envolvimento e comprometimento de docentes, funcionários, estudantes e das comunidades externas. Certamente, muitas atividades relacionadas à comunidade — educação continuada, consultoria, pesquisa contratual, serviço comunitário acadêmico e pesquisa colaborativa dependem das conexões, envolvimento, conhecimento e nível de comprometimento dos docentes. Portanto, a menos que as universidades africanas integrem as contribuições de docentes ao envolvimento comunitário em seus processos de avaliações, promoções e contratações e os remunerem adequadamente, o corpo docente continuará a considerar este engajamento como uma tarefa não essencial, mas como uma distração para o desenvolvimento da carreira.
 
Observações
Embora o envolvimento comunitário ofereça inegáveis benefícios para as universidades e comunidades externas — por exemplo, acessibilidade às fontes externas de financiamento, o enriquecimento das experiências de aprendizado dos estudantes e acesso à experiência acadêmica entre outras fontes de universidades — a institucionalização deste engajamento social nas universidades africanas requer uma compreensão mais profunda da fase “envolvimento comunitário,” muitas vezes interpretada em termos de colaborações entre as universidades e indústria, a transferência de tecnologia de universidades, e a criação de empresas de inovação. Mesmo assim, o termo também envolve as formas pelas quais as comunidades externas, tais como o governo e comunidades locais se engajam e contribuem para o bem estar de universidades e o envolvimento de instituições do ensino superior na criação de políticas, na vida cultural e social. Assim, qualquer abordagem dada à institucionalização do envolvimento comunitário que se foca apenas na comercialização de tecnologia está sujeita a limitar as formas através das quais as universidades africanas podem se engajar e / ou servir a comunidades externas, pois as referidas instituições não são ainda os principais atores em inovação de ponta. Além disso, embora as universidades africanas devam apoiar e incentivar a produção de conhecimento, relevante tanto do ponto de vista social e econômico e a comercialização de invenções, suas agendas de pesquisa devem enfatizar não apenas a pesquisa orientada em aplicação, mas também a pesquisa básica, porque um número de sistemas científicos no continente — Angola, Botsuana, Mali, Moçambique, Namíbia, Suazilândia dependem das universidades para tal e não possuem produtores alternativos viáveis de conhecimento.
 
Além disso, a institucionalização do envolvimento comunitário requer que todas as universidades devam entre outras coisas, criar unidades especializadas — por exemplo, a Tecnologia de Alimentos e Centro de Incubação Empresarial na Makerere University, o Centro para o Envolvimento Acadêmico e Colaboração na Nelson Mandela Metropolitan University, o Centro para Educação Continuada na Universidade de Botsuana e o Centro de Consultoria e Gestão na Dar es Salaam University. Para promover o envolvimento comunitário e coordenar atividades a ele relacionadas, as universidades africanas devem evitar criar sistemas em silo que restringem o engajamento comunitário a unidades especificas disciplinas e indivíduos. Semelhantemente, a institucionalização do engajamento comunitário nas universidades africanas requer que cada universidade dedique atenção ao seu contexto institucional — por exemplo, histórico, foco disciplinar, responsabilidade, missão, cultura, valores e prioridades, e agendas políticas nacionais. Considerando que as universidades, mesmo aquelas no mesmo país, não podem ter os mesmos ambientes institucionais, o foco, formas e organização do envolvimento comunitário não podem ser os mesmos para todas as universidades. Com relação a isso e considerando a insuficiência de financiamento que caracteriza muitas universidades africanas, o sistema de alocação de fundos para o envolvimento comunitário em cada universidade deverá refletir, adaptar-se e apoiar a visão, missão e a agenda do envolvimento comunitário da universidade especifica.
 
Este texto foi traduzido e revisado sob a coordenação de
Sergio Azevedo Pereira
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