26/03/2014

International Higher Education

Índia: tendências de mobilidade

Wesley Teter e Don Martin
Wesley Teter é consultor sênior em ensino superior. E-mail: wesley.Teter@gmail.com. Don Martin é especialista em gestão de matrículas. E-mail: dmartin@gradschoolroadmap.com.
Após anos de declínio, as mais recentes tendências nas matrículas de estudantes internacionais nos Estados Unidos vindos da Índia mostram sinais de uma dramática reviravolta. Em abril de 2013, o Conselho de Faculdades de Pós-Graduação anunciou que as matrículas de estudantes indianos nos cursos americanos de pós-graduação aumentaram 20%, sendo que no restante do mundo este aumento foi de 1%. Da mesma maneira, o Serviço de Testes Educacionais relatou que o volume de testes do Exame de Registro de Pós-Graduação na Índia em 2012 aumentou em aproximadamente 30% em comparação ao ano anterior, indicando um grande interesse nos estudos de pós-graduação no exterior. Mais importante, a Embaixada Americana em Nova Délhi também confirmou que os dados preliminares a respeito da aprovação de vistos para estudantes apontavam um aumento de incríveis 50% de outubro de 2012 ao início de 2013, em relação ao mesmo período do ano anterior. Tais indicadores de crescimento renovado são ainda mais significativos no contexto de declínios substanciais em novas matrículas vindas da Índia nos quatro anos mais recentes.
 
Tendências de mobilidade
De 2009 a 2012, o número de matrículas de indianos nas universidades americanas diminuiu 17% na pós-graduação e 16% na graduação - uma espiral descendente que foi pouco documentada por diferentes motivos. O número total de estudantes indianos nos Estados Unidos se manteve estável durante o período (queda de apenas 3%), por exemplo. Ao mesmo tempo, a participação de estudantes indianos nos estágios de pós-graduação - conhecidos como treino prático optativo - aumentou 80% no mesmo período, em comparação a um aumento de 28% observado em todo o mundo. A participação neste treinamento, especialmente para os estudantes de ciências, tecnologia, engenharia e matemática que podem trabalhar por até 29 meses, compensou o declínio e produziu um quadro distorcido da realidade das tendências de mobilidade estudantil na Índia.
 
Em termos das áreas de estudos entre os estudantes móveis, o popular mecanismo de busca GradSchools.com confirmou que gestão de engenharia e gestão de construção estão entre as três mais procuradas entre os visitantes da Índia. As questões correlacionadas e descritas abaixo devem impulsionar a mobilidade futura e, portanto, devem ser encaradas como a base para o desenvolvimento de uma visão de longo prazo para o recrutamento de estudantes.
 
Carreiras e perspectivas de emprego
Impressionantes 54% dos 1,2 bilhão de indianos têm menos de 25 anos. O “dividendo demográfico” da Índia, somado a uma classe média em ascensão, deve fazer aumentar muito a demanda por ensino e treinamento, desempenhando um papel importantíssimo no futuro desenvolvimento econômico do país. Entretanto, no ano fiscal concluído em março de 2013, a economia indiana tinha crescido apenas 5% - o menor crescimento em dez anos. Os estudantes e suas famílias acreditam que um diploma americano oferece uma vantagem competitiva na busca por empregos melhores num mercado de trabalho cada vez mais globalizado.
 
As perspectivas de carreira e o retorno sobre o investimento são fatores cruciais a serem destacados no momento de recrutar indianos. Treinamento prático opcional, estágios e serviços de orientação de carreira costumam ajudar uma família a justificar o investimento que só é feito uma vez na vida. De acordo com a Fundação Nacional das Ciências, por exemplo, os estudantes de doutorado são particularmente atraídos pelas perspectivas de carreira nos Estados Unidos. Os pós-graduandos da China, dos países que integravam a União Soviética e da Índia apresentaram uma baixíssima proporção de retorno ao país de origem (3,7%, 4,1% 3 5,2% respectivamente) em comparação aos estudantes de outros países. Na verdade, os indianos foram a nacionalidade que mais obteve o visto de trabalho especializado nos EUA conhecido como H-1B, ficando com impressionantes 59% do total global. Infelizmente, poucas instituições nos Estados Unidos apresentam argumentos convincentes envolvendo as perspectivas de carreira quando tais estudantes voltarem à Índia com seu diploma americano. Surpreende que as poucas histórias de sucesso envolvam jovens doutores que voltam ao país de origem para começar suas carreiras.
 
Os esforços de recrutamento de estudantes na Índia devem começar ajudando os candidatos a compreender suas metas acadêmicas e de carreira, e como uma determinada instituição nos Estados Unidos poderia satisfazer a essas necessidades. Não podemos permitir que instituições como a Tri-Valley, investigada pela Agência de Controle Alfandegário e de Imigração por fraudar vistos em 2011, dominem o discurso a respeito das perspectivas de emprego e ensino. As instituições americanas podem ajudar seus estudantes a superar esses desafios, garantindo que os candidatos possam explicar a um funcionário consular os motivos e procedimentos que os levaram a optar por determinada faculdade. Os candidatos que não forem capazes de fazê-lo ou cujo foco está principalmente nas perspectivas de carreira dentro dos Estados Unidos dificilmente terão seu visto concedido. Tais candidatos teriam de refazer a solicitação de visto ou pensar em opções em outros países.
 
Acesso ao ensino superior de qualidade
Levando-se em consideração o acesso limitado ao ensino de qualidade na Índia, um número cada vez maior de estudantes procura Estados Unidos, Grã-Bretanha, Austrália e opções de baixo custo mais próximas de casa. Parte do desafio está no fato de as instituições locais de qualidade, como os Institutos Indianos de Tecnologia e os Institutos Indianos de Administração, serem muito concorridos, não sendo capazes de dar conta da demanda local. Graças às dificuldades enfrentadas pelo sistema de controle de qualidade, instituições de segundo nível apresentam grandes variações na qualidade dos serviço prestado. O status de nível mundial conferido às universidades e faculdades dos Estados Unidos ajuda a justificar o alto custo do ensino.
 
Ao avaliar as opções de estudo no exterior, as classificações e percepções de qualidade acadêmica são o elemento mais importante para os candidatos indianos e suas famílias na sua avaliação dos destinos para o ensino no exterior. Em termos de recrutamento, é fundamental que as instituições americanas destaquem o rigor acadêmico, e não “firulas" como novas instalações esportivas, refeitórios e alojamentos elaborados, que aumentam o custo do ensino e influenciam pouco a qualidade da experiência acadêmica ou as perspectivas futuras de emprego.
 
Novas estratégias de financiamento
A alta inflação e o custo cada vez mais alto do ensino nos EUA são importantes barreiras para o estudo no exterior, especialmente no nível da graduação. Renuka Raja Rao, Coordenador Nacional do EducationUSA para a Índia, acrescenta que “Sendo o principal destino daqueles que buscam estudar no exterior, a pergunta que a maioria dos candidatos faz na Índia não é por que estudar nos EUA, e sim como”. A desvalorização da rúpia, que perdeu 22% do seu valor entre janeiro de 2009 e julho de 2013, está ligada ao declínio na mobilidade estudantil para os Estados Unidos. Tais mudanças dramáticas no valor monetário trazem um impacto negativo para a capacidade das famílias de classe média de investir no ensino no exterior, mesmo com bolsas parciais. As instituições americanas não devem confundir as oportunidades de recrutamento na Índia com as oportunidades de superar déficits orçamentários. Novas estratégias de financiamento, como parcerias acadêmicas criativas e programas mistos à distância, são necessárias para superar o custo cada vez mais alto do ensino no exterior.
 
No curto prazo, a participação nas feiras de recrutamento de estudantes na Índia e uma presença ativa nas redes sociais podem ser canais de contato extremamente eficazes. Provedores de serviços comerciais e agências de recrutamento informam aumentos substanciais no número de estudantes que se candidata a vagas em universidades americanas, mas há poucos dados disponíveis a respeito da aprovação de vistos e outras medidas de controle de qualidade. Os funcionários dos consulados americanos alertam os estudantes para o fato de os consultores às vezes “venderem aos estudantes pacotes financeiros falsos”, que podem levar os candidatos a se tornarem permanentemente impedidos de obter vistos por terem fornecido informações falsas durante uma entrevista.
 
De acordo com um levantamento da World Education Services, 46% dos estudantes indianos destacaram “custos de vida e ensino” e 38% escolheram “oportunidades de auxílio financeiro” entre as três principais carências de informação. Em comparação, a pergunta feita por um número cada vez maior de funcionários do departamento de matrículas das universidades americanas é como recrutar estudantes de graduação capazes de pagar o custo do próprio ensino sem ter de viajar até a Índia, uma questão que ilustra as pressões financeiras nos EUA, mas pouco faz para mostrar às famílias indianas que as instituições americanas têm um interesse acadêmico genuíno no recrutamento de estudantes talentosos. Instituições que apresentem uma estratégia de recrutamento convincente, incluindo bolsas de estudos ou cargos de assistente nas áreas de ciências, tecnologia, engenharia e matemática, estarão bem posicionadas para de fato recrutar a próxima geração de líderes.