10/10/2013

International Higher Education

Índia, burocracia e a tentativa de pôr em prática uma estratégia de ensino internacional

P. J. Lavakare
Lavakare é membro do conselho de governadores da Universidade MITS, Rajastão, Índia. E-mail: lavakare@vsnl.com
Em todo o mundo, o perfil do ensino superior está mudando. A globalização abriu os mercados globais para o emprego, e os estudantes estão ansiosos para assumi-los. A necessidade de formar "cidadãos globais" é reconhecida por todos os provedores de ensino. Nas instituições de alguns países desenvolvidos, o ensino superior começa a ser encarado como uma atividade de fins lucrativos, com a criação de campi no exterior como parte do novo domínio econômico. Para alguns, as matrículas de estudantes internacionais está se mostrando uma fonte de renda, equilibrando o orçamento cada vez mais precário das instituições. O estudante está se tornando a força que impulsiona o ensino internacional. Na Índia, entretanto, ainda não é assim que a internacionalização do ensino é vista. A Índia ainda debate a melhor maneira de reagir ao processo de internacionalização. Um novo esquema está sendo formulado no mais recente plano quinquenal para o desenvolvimento do país.
 
Expansão - papel das parcerias internacionais
A estratégia internacional da Índia é limitada por considerações domésticas. Com a crescente demanda pelo ensino superior e a baixa proporção bruta de matrículas, próxima dos 19%, a preocupação nacional é expandir o conjunto disponível de instituições do ensino superior. Os recursos exigidos estão além dos orçamentos designados. Cada vez mais o país atrai provedores privados internacionais de ensino superior, aumentando a capacidade nacional. Do ponto de vista econômico, o mercado é atraente para os provedores privados de ensino superior. As portas de entrada para instituições individuais de ensino superior internacional ainda não foram totalmente abertas. Diante dessas limitações, pode-se aprovar a busca por parcerias de todo o tipo no nível governamental. Nesse estágio, pode ser interessante ver como a Índia foi beneficiada pelas parcerias internacionais anteriores e analisar se alguns desses modelos ainda podem ser considerados relevantes.
 
Como principal exemplo, podemos usar a experiência da Índia com os Estados Unidos - em áreas específicas do ensino, como agricultura, ciência e tecnologia. No setor da agricultura, nos anos 1950, a introdução da "Revolução Verde" na Índia tem suas origens nas colaborações indo-americanas nas ciências da agricultura. O ensino da agricultura na Índia foi muito beneficiado pela colaboração em nível governamental no ensino por meio dessas faculdades.
 
Nos anos 1960, um consórcio de universidades americanas facilitou o estabelecimento de instituições de ensino, como o Instituto Indiano de Tecnologia, Kanpur; e o Conselho Nacional de Pesquisa e Treinamento Educacional, Nova Délhi, ambos financiados com parcerias acadêmicas supervisionadas pelos dois governos. As duas instituições são agora totalmente indianas em termos de corpo docente e administração. Será possível usar este modelo para auxiliar nos esforços do governo da Índia para aumentar o número de faculdades e universidades por meio de iniciativas privadas e públicas? Será que algumas das novas instituições de ensino podem firmar parcerias com os dois governos? Se os modelos mais antigos se mostraram eficazes, fica claro que parcerias nesse nível governamental podem ser mais eficazes do que deixar o programa de expansão totalmente nas mãos de iniciativas privadas. É também possível que, por meio de acordos mútuos, uma instituição de ensino na Índia seja criada em parceria entre uma universidade americana e outra indiana. O novo plano quinquenal para o ensino superior indicou uma política de internacionalização. Será que a nova política pode abrir caminho para tais iniciativas no nível do governo?
 
De acordo com um relatório da Associação de Universidades Indianas, cerca de 630 instituições estrangeiras de ensino superior operavam no país em 2010. Quase nenhuma delas era regulada, sem contar com o reconhecimento do governo indiano para oferecer diplomas. Os estudantes que obtinham seus diplomas nessas instituições não estão em posição de conseguir empregos no setor público nem podem se matricular em cursos indianos de pós-graduação. A legislação nacional que deve ser elaborada no futuro vai exigir necessariamente que essas instituições se registrem junto ao governo indiano. O destino dessas instituições é incerto nos próximos anos. Num certo sentido, esses provedores estrangeiros de ensino mancharam a imagem da internacionalização do ensino superior na Índia.
 
Colaboração para o corpo docente
Na Índia, com base numa escassez geral de professores de boa qualidade, o governo passou a considerar a possibilidade da internacionalização no novo plano. Os esquemas do governo foram anunciados, e estão em negociação os arranjos com países desenvolvidos para que estes aceitem professores indianos com o objetivo de treiná-los nos padrões e critérios internacionais de ensino e pesquisa. Embora a iniciativa seja útil, o problema elementar continua sendo o de preencher o grande número de posições vagas no corpo docente até das instituições indianas de mais qualidade, como os Institutos Indianos de Tecnologia. As políticas do governo não aprovam a nomeação regular de professores estrangeiros para posições de ensino na Índia. Além disso, os salários oferecidos não atraem professores talentosos. Sem nenhuma solução para preencher as posições vagas de professor a partir de dentro ou de fora do país, internacionalizar nosso sistema de ensino meramente por meio do "treinamento de professores no exterior" não será uma estratégia eficaz.
 
Oferta de diplomas conjuntos por meio da colaboração
O governo tenta uma estratégia de ensino internacional para incentivar as instituições indianas a entrar em parcerias com universidades estrangeiras, para oferecer diplomas conjuntos aos estudantes indianos. As universidades estrangeiras não precisam abrir campus na Índia. O estudante passa parte dos quatro anos de curso de bacharelado na Índia e o período restante numa universidade estrangeira. Trata-se de uma abordagem atraente para a internacionalização, dando aos estudantes indianos uma oportunidade de "imersão global", além de oferecer diplomas estrangeiros a um custo reduzido. A qualidade acadêmica, as implicações financeiras e os arranjos administrativos para garantir o reconhecimento do diploma conjunto ainda precisam ser definidos pelas instituições parceiras. Mas, antes que as instituições pudessem explorar essa oportunidade, o governo bolou um empecilho envolvendo a escolha das instituições com as quais as instituições privadas de ensino da Índia poderiam colaborar. O governo insiste que as instituições indianas só possam escolher uma instituição "parceira" no exterior que esteja entre as 500 mais bem posicionadas nas classificações internacionais. Como é bem sabido, quase nenhuma das instituições indianas está entre as 500 melhores instituições de ensino do mundo. Assim, será que o esperado é que as instituições estrangeiras bem classificadas se rebaixem a firmar parcerias com as "desclassificadas" instituições indianas? Isto não é uma oferta atraente de parceria. Infelizmente, tal abordagem para a internacionalização parece ser também impraticável.
 
Sem foco nos estudantes internacionais
A última área da estratégia de internacionalização diz respeito ao envio de estudantes indianos para o exterior e à atração de estudantes estrangeiros para a Índia. O governo deu aos estudantes indianos a liberdade de estudarem onde quiserem no exterior. Mas o governo não tem planos de oferecer aos estudantes bolsas para que frequentem cursos em países como os EUA, como faz o Brasil. Além disso, não há planos para promover o entendimento cultural de outros países, oferecendo aos indianos apoio para que estudem em países como China ou Brasil. Já vimos a iniciativa "100,000 strong" do presidente Obama apoiando americanos que desejem estudar na China. A índia carece também de grandes esquemas para atrair estudantes estrangeiros. Em termos de infraestrutura como bons alojamentos, funcionários treinados e serviços adequados de orientação aos estudantes, necessários para hospedar estudantes internacionais, tudo isso é inexistente na maioria das instituições de ensino superior da Índia. O número de estudantes, muitos dos quais vinham inicialmente da África, tem diminuído nos últimos anos, e a Índia ainda não se mostrou preocupada em trazê-los de volta. Na estratégia de internacionalização da Índia, o foco no estudante está totalmente ausente.
 
Conclusão
A Índia mexeu com os vários envolvidos na internacionalização - estudantes, professores e instituições de ensino - de maneira casual usando moldes administrativos e regulatórios. Em 2004, o governo estabeleceu comissões acadêmicas sob a égide do seu mais elevado corpo - a University Grants Commission - para Promover o Ensino Superior Indiano no Exterior e, em 2009, para preparar o Plano de Ação para a Internacionalização do Ensino Superior. Infelizmente, as estratégias recomendadas por essas duas comissões não se refletiram na estratégia indiana de internacionalização. O novo plano propõe que uma agência nacional profissional, o Centro Indiano de Ensino Internacional, seja criada para levar a cabo as atividades de internacionalização. Espera-se que o centro apóie determinadas instituições no estabelecimento de unidades dedicadas à internacionalização. Espera-se que a nova agência proposta não se torne mais um projeto esquecido no labirinto burocrático do sistema indiano de ensino superior.