06/11/2012

International Higher Education

Gênero e cooperação internacional em pesquisa

Agnete Vabo
Agnete Vabo é vice-diretora de pesquisas do Instituto Nórdico de Estudos do Ensino, da Inovação e da Ciência, Oslo, Noruega. E-mail: agnete@nigu.no
A internacionalização do ensino superior e da pesquisa está se tornado cada vez mais essencial conforme o ensino superior se torna uma indústria na qual as instituições e os países concorrem pelos melhores cérebros, promovem o intercâmbio de estudantes e colaboram nas pesquisas. A atividade internacional é também cada vez mais importante para o aprimoramento das carreiras acadêmicas individuais.
 
Um levantamento realizado em 2008 dentro da estrutura do projeto internacional de pesquisa conhecido como estudo das Mudanças na Profissão Acadêmica revelou que uma proporção muito menor de acadêmicos americanos e, em especial, de acadêmicas residentes nos Estados Unidos relatava participar de colaborações de pesquisa com colegas internacionais. Levando-se em consideração a crescente influência da colaboração internacional e da concorrência na ciência e, é claro, os esforços de internacionalização adotados em outras regiões como a Área Europeia de Pesquisa, o padrão chama a atenção.
 
Nos Estados Unidos, apenas 28% das acadêmicas e 37% dos acadêmicos (de todos os níveis) relatam participar de colaborações de pesquisa com colegas internacionais. Em comparação, na Grã-Bretanha 69% dos acadêmicos e 53% das acadêmicas relatam participar de colaborações do tipo; na Alemanha, a proporção é de 52% entre os homens e 43% entre as mulheres no universo da academia.
 
Os níveis mais elevados de participação feminina são encontrados na Austrália, Canadá, Holanda, Finlândia, Itália, Noruega, Portugal e Grã-Bretanha. Na América Latina – Argentina, Brasil e México – menos de 50% dos acadêmicos participam de tais colaborações, sejam eles homens ou mulheres.
 
Gêneros e internacionalização
Até certo ponto, as variações de gênero refletem diferenças já estabelecidas que existem entre os diferentes campos de pesquisa com base nas modalidades de cooperação internacional e publicação de estudos. Disciplinas das áreas de ciência, tecnologia, engenharia e matemática são caracterizadas por uma maior presença de colaborações e publicações internacionais do que temas como as ciências humanas e as ciências sociais.
 
Independentemente disso, os dados do Mudanças na Profissão Acadêmica indicam que algumas barreiras também estão relacionadas ao estado civil, ao emprego dos cônjuges e à paternidade. Parece que as acadêmicas que vivem com parceiros, empregadas em tempo integral e mães apresentam uma probabilidade mais baixa de se envolver na colaboração internacional de pesquisa em relação aos acadêmicos (com ou sem filhos), e também em relação às acadêmicas solteiras e sem filhos.
 
As longas jornadas de trabalho e as constantes viagens ao exterior normalmente exigidas por uma carreira internacional podem tornar a atividade incompatível com a tradicional divisão do trabalho entre homens e mulheres, possivelmente ajudando a explicar por que as acadêmicas são mais ativas na internacionalização em seu país de origem. Os rumos da carreira internacional parecem ser uma opção menos legítima para muitas mulheres. Os dados do Mudanças na Profissão Acadêmica também revelam que é maior o número de solteiras entre as acadêmicas do que entre os acadêmicos.
 
Importando e exportando conhecimento
Os acadêmicos sempre foram internacionais no sentido do compartilhamento do conhecimento – por meio de publicações, da presença em conferências e da participação em sociedades acadêmicas no exterior. Como é indicado também no estudo Mudanças na Profissão Acadêmica, os acadêmicos estão frequentemente envolvidos na internacionalização em seus países de origem, no ensino para estudantes estrangeiros e na oferta de programas internacionais de estudo.
 
Sendo um grande país desenvolvido com um sistema acadêmico bem desenvolvido, contendo muitas instituições consideradas excelentes em diferentes disciplinas e áreas de pesquisa, os Estados Unidos desempenham naturalmente um importante papel na importação de acadêmicos e estudantes, e não como exportador. Levando-se em consideração a variedade e o número de instituições prestigiadas na América do Norte, as atividades internacionais não são vistas como tão centrais quanto parecem ser nos países europeus, em especial nos de menores dimensões. Além disso, a mobilidade entre as instituições norte-americanas faz parte da dinâmica tradicional da carreira para os membros do corpo docente americano. Em comparação com muitos países europeus, nos EUA é em geral aceito que um candidato não busque seu primeiro emprego na mesma instituição na qual obteve seu doutorado.
 
Barreiras à mobilidade internacional
Os fatores que contribuem com os papéis tradicionalmente atribuídos aos gêneros nos países também interagem com algumas das características específicas das estruturas da carreira acadêmica em vários países. Alguns sistemas acadêmicos apresentam uma segregação entre os gêneros, de acordo com critérios orientados pelo ensino e pela pesquisa – no México, por exemplo, onde é baixa a proporção de mulheres com título de doutoras. Nos países nos quais há um sistema competitivo de ocupação de cargos e evolução na carreira, como nos EUA, pode ser especialmente arriscado para as mulheres buscar um emprego no exterior em lugar de construir um nome para si no próprio país.
 
O sistema de evolução na carreira foi descrito como um obstáculo para a mobilidade internacional entre acadêmicos americanos em geral. As carreiras acadêmicas também são caracterizadas pelo uso extensivo de posições temporárias. Significa que muita importância é atribuída aos estágios fundamentais de uma carreira acadêmica nos EUA para determinar a possibilidade de a pessoa construir para si um nome dentro da estrutura institucional – como pesquisador, professor ou supervisor. Consequentemente, manter-se no exterior é algo que costuma trazer riscos, especialmente para as mulheres, pois pode significar a perda da visibilidade ou a exclusão da concorrência nacional pela obtenção de cargos e prestígio doméstico.
 
Não se deve subestimar até que ponto tais características limitam a realização de colaborações internacionais nem o quanto isso limita as possibilidades de obter vantagem com tais redes e esforços de cooperação. Um maior grau de internacionalização pode fazer mais do que ampliar a base para a cooperação com excelentes sociedades acadêmicas em outros países ou com sociedades dotadas de experiência e dados complementares, podendo também levar a novas oportunidades de financiamento.