13/06/2013

International Higher Education

Franquias universitárias avaliam opções para start-ups

David A. Stanfield
Stanfield é assistente de pesquisa do Center for International Higher Education e doutorando do curso de Gestão do Ensino Superior do Boston College. E-mail: david.stanfield@bc.edu
Em cada edição, o IHE dedica um artigo à contribuição da Equipe de Pesquisas em Ensino Trans-Fronteiras (C-BERT), sediada na Universidade Estadual de Nova York, em Albany. Mais informações sobre a C-BERT podem ser encontradas em www.globalhighered.org. Siga-nos também no Twitter: @Cross-BorderHE.
 
As instituições do ensino superior enfrentam uma variedade de decisões estratégicas no estabelecimento de franquias universitárias no exterior. Dez anos atrás, havia pouco que pudesse orientar esse processo decisório. Agora, a experiência obtida com a observação das primeiras tentativas proporciona alguma ajuda conforme a geração seguinte de universidades avalia as opções disponíveis. Este artigo descreve três conjuntos de decisões que podem influenciar o sucesso.
 
Primeira a chegar vs. mercado estabelecido
Dizem que Deus ajuda quem cedo madruga – mas quem ri por último, ri melhor. A primeira universidade estrangeira a entrar num país ou região pode aproveitar um benefício simples e inicial. Isso é chamado de vantagem do primeiro a chegar, conceito conhecido no mundo dos negócios – de acordo com o qual uma empresa se estabelece numa posição dominante ao se fixar antecipadamente num mercado específico. Por mais que franquias universitárias internacionais que "chegaram primeiro" ainda tenham que concorrer com instituições pós-secundárias locais e com os atrativos do estudo tradicional no exterior, com frequência desfrutam de vantagens em relação às que chegam mais tarde.
 
Ao construir uma reputação positiva nas comunidades locais antes da chegada de outras instituições, as franquias que se estabelecem primeiro são capazes de obter um embalo duradouro que se traduz numa ajuda substancial no recrutamento de estudantes nos anos subsequentes. A Universidade de Wollogong – que não é uma instituição especialmente reconhecida fora da Austrália – foi a primeira franquia universitária a abrir em Dubai, nos Emirados Árabes. A Wollogong se ergueu rapidamente e continua a receber um número expressivo de matrículas, apesar das mais de 20 franquias universitárias que chegaram a esse mercado desde então.
 
Mas algumas instituições optaram por participar de um mercado no qual outras franquias universitárias já se estabeleceram. Nesse caso, o grau de certeza é maior em se tratando da demanda pelo ensino estrangeiro. Independentemente disso, pesquisas e planejamentos bem elaborados devem informar e orientar a decisão. As instituições devem avaliar, por exemplo, a demanda pelo(s) curso(s) que elas pretendem oferecer, medir a reputação institucional entre a população de estudantes, e levar em consideração os termos propostos pelo país hospedeiro ou organização condizem com sua própria visão de longo prazo. Além disso, ao entrarem num mercado já consolidado como Dubai ou Cingapura, os administradores precisam determinar se o local já chegou a um ponto de saturação, que pode ser diferente com base no tipo de instituição, no foco dos diplomas oferecidos ou no método de ensino.
 
Foco abrangente vs. foco estreito
Um pequeno número de provedores estrangeiros de ensino desenvolveram franquias acadêmicas abrangentes que oferecem um conjunto diversificado de programas acadêmicos e cursos, estruturas administrativas sólidas e infraestrutura física substancial. Além disso, essas franquias abrangentes tendem a oferecer uma gama mais ampla de serviços acadêmicos e atividades de programação extracurricular. Os provedores em geral esperam que isto contribua para criar um ethos universitário e uma experiência estudantil semelhante aos do campus original. Com uma gama mais ampla de cursos, as franquias acadêmicas abrangentes também são vistas como um destino atraente no exterior para os estudantes do campus original.
 
Instituições abrangentes como a Universidade de Nova York em Abu Dhabi e o campus da Universidade de Nottingham na China dependem muito do reconhecimento global de sua marca para atraírem estudantes; instituições menos prestigiadas podem enfrentar dificuldades para recrutar um número suficiente de matriculados de acordo com esse modelo. A criação de um campus abrangente é uma tarefa complexa e cara, exigindo em geral anos de planejamento antecipado e uma prolongada fase inicial. Se algo der errado, as instituições podem enfrentar danos à sua reputação e perdas financeiras – afetando não apenas a franquia, mas também o campus original.
 
Outras franquias universitárias internacionais podem almejar um foco mais estreito, oferecendo um número limitado de programas de ensino, às vezes apenas um mestrado em administração de empresas ou um diploma de hotelaria. Tendem a oferecer diplomas pouco proporcionados pelas instituições locais (ou indisponíveis nelas), programas que sejam vistos como mais prestigiados ou de qualidade superior ao dos disponíveis localmente e/ou aqueles cuja demanda é alta entre a população local. A partir da perspectiva estratégica, medir a demanda por um pequeno número de diplomas é menos complicado do que a abordagem abrangente. Além disso, com custos mais baixos para a fase inicial e a necessidade de um menor número de funcionários, o processo é mais rápido e reduz o risco. Se for o caso de acrescentar a oferta de outros programas, estes são adicionados após a consolidação das propostas iniciais.
 
Colaboração vs. autonomia
Dubai, Malásia, Catar, Cingapura, Coreia do Sul e outros países estão desenvolvendo hubs de ensino, nos quais é grande a concentração de franquias universitárias internacionais. Alguns hubs oferecem a oportunidade de colaboração entre as instituições. Fazer parte de um hub pode ajudar as franquias universitárias a poupar dinheiro, reduzir o tempo da fase inicial e reduzir as dificuldades por meio do compartilhamento das instalações e dos serviços aos estudantes – como moradias, refeitórios, bibliotecas e enfermarias, para citar alguns (embora o nível de cooperação varie ente os hubs). Independentemente disso, a colaboração pode permitir um controle menor e exigir certas concessões em relação a determinados padrões e expectativas. As instituições que esperam manter um rigoroso controle de qualidade ou que tentam reproduzir elementos específicos de seus campi originais podem preferir uma abordagem mais autônoma. O grau em que uma instituição é colaborativa ou autônoma é influenciado também pela proximidade física com outras instituições e pelas expectativas formais e informais do país anfitrião ou do parceiro local.
 
As seis universidades americanas no hub do Catar, Cidade do Ensino, permitem que os estudantes façam matrículas cruzadas em aulas das diferentes instituições – possibilitando uma gama de opções muito mais ampla do que aquela que uma instituição poderia oferecer sozinha. Facilitar as matrículas cruzadas pode ser um benefício especialmente para as instituições que oferecem cursos de bacharelado com requisitos consideráveis de ensino geral e matérias eletivas, algo que é difícil de se manter com pequenas populações de estudantes. O estabelecimento de uma franquia universitária num hub de ensino pode resultar também em melhores oportunidades de publicidade por meio de iniciativas conjuntas de branding e recrutamento.
 
Os pontos negativos desse tipo de colaboração intensa incluem a óbvia ameaça da concorrência pela matrícula dos estudantes e outros recursos. Além disso, o estabelecimento de acordos de colaboração como o registro cruzado ou o compartilhamento dos serviços estudantis é algo complexo que pode exigir anos de negociações, seguidos por constantes ajustes. No Catar, durante a fase inicial da Cidade do Ensino, por exemplo, o patrocinador local construiu um edifício de artes liberais e ciências, com base na suposição de que os estudantes do campus pudessem se matricular em cursos gerais partilhados. Conforme as universidades começaram a participar do projeto, logo tornou-se claro que cada instituição tinha requisitos de ensino únicos, tornando a ideia pouco prática, ou até impossível de ser levada a cabo.
 
Conclusão
Conforme as franquias universitárias evoluem, a experiência adquirida e a perspectiva histórica melhoram as chances de sucesso das recém-chegadas. A reflexão a partir das questões delineadas acima vai ajudar as universidades a não terem de reinventar a roda. Entretanto, cada situação é única; portanto, as instituições precisam ter em mente que essas decisões estratégicas, como todas as demais, devem emanar de suas metas únicas e do ambiente do país anfitrião. As decisões que não envolverem um raciocínio nuançado e contextual correm o risco de fracassar. Haverá também instâncias em que as instituições terão pouco ou nenhum poder de decisão em relação a uma ou mais dessas categorias. Algumas decisões podem, por exemplo, ser ditadas inteiramente pela regulação local ou pelos termos de uma parceria. Na realidade, o estabelecimento de uma franquia universitária não é uma ciência exata; mas decisões estratégicas sensatas e informadas podem ter um impacto significativo no sucesso do empreendimento, tanto no curto quanto no longo prazo.Franquias universitárias avaliam opções de empresas iniciantes.